Carlos Urroz: "Precisamos de que Serralves, Gulbenkian e Berardo comprem na Arco Lisboa"
Com a Argentina como país convidado, começa esta quarta-feira a Arco Madrid. A maior feira de arte contemporânea espanhola deverá mudar de modelo para o ano.
De passagem por Portugal para apresentar mais uma edição da feira de arte contemporânea de Madrid, Carlos Urroz, o director da Arco, falou também da sua congénere de Lisboa, que voltará em Maio à Cordoaria Nacional, e do apoio necessário das instituições portuguesas para que se mantenha sustentável. Em Madrid, onde a feira começa esta quarta-feira para profissionais e tem a sua inauguração oficial no dia seguinte às 12h, estarão presentes 13 galerias portuguesas entre as 200 participantes.
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De passagem por Portugal para apresentar mais uma edição da feira de arte contemporânea de Madrid, Carlos Urroz, o director da Arco, falou também da sua congénere de Lisboa, que voltará em Maio à Cordoaria Nacional, e do apoio necessário das instituições portuguesas para que se mantenha sustentável. Em Madrid, onde a feira começa esta quarta-feira para profissionais e tem a sua inauguração oficial no dia seguinte às 12h, estarão presentes 13 galerias portuguesas entre as 200 participantes.
Este ano, a Arco tem a Argentina como país convidado, um formato que deverá ser abandonado no próximo ano para testar uma feira organizada à volta de um tema.
Disse que considerava esta Arco Madrid uma feira de recuperação. O mercado espanhol está mais activo?
A confiança do mercado internacional na Arco é uma coisa de que se pode honestamente falar. Há mais candidaturas de galerias internacionais que consideram a Arco um bom lugar para mostrar e vender os seus artistas, para contactar coleccionadores e instituições. Há galerias importantes que voltam ou participam pela primeira vez: Hauser & Wirth, Lisson, Maruani Mercier, Tanya Bonakdar, Alexander and Bonin, Nara Roesler, Leme. Algumas destas galerias mega-importantes voltam depois do programa especial do ano passado. Também as instituições espanholas e estrangeiras dizem que em 2017 vão voltar a comprar na Arco – como o Artium, de Vitória. Há instituições públicas, como os museus regionais, a dizer que vão ter dinheiro este ano.
Os projectos especiais, por causa da sua dimensão, também são um sinal da recuperação da feira?Sim. Mostramos peças que pela sua dimensão só podem ser vendidas a uma instituição. As grandes galerias só as trazem quando sabem que pode haver um comprador potencial e que vão conseguir vendê-las aqui. Foi algo que já tivemos no passado e que regressa este ano. Significa que há dez ou 11 galerias que têm algo tão espectacular que não pode ser exibido no seu stand e portanto precisam de um espaço extra. Isso também mostra que as galerias estão a fazer exposições arriscadas.
Quando foi a última vez que a feira teve estes projectos especiais ?
Penso que foi em 2011, no meu primeiro ano.
O que é que aprenderam com a feira no ano passado? Falámos da possibilidade de haver um tema em vez de um país. Como está a reflexão sobre o tipo de feira que querem fazer no futuro?
O facto de não termos tido um país convidado no ano passado permite-nos não sermos obrigados a tê-lo. Eventualmente em 2018 não teremos um país convidado.
O que pode adiantar sobre a feira em Lisboa? Diz-se que vai ter pela primeira vez uma área dedicada aos projectos especiais com curadoria de João Laia.
Como disse na conferência de imprensa, há novas galerias e novos projectos em Lisboa, como as galerias Madragoa e Pedro Alfacinha, e mais algumas que podem abrir até à Arco Lisboa, em Maio, inclusive galerias estrangeiras. Mas como algumas delas são muito novas e não podem participar no programa geral da Arco Madrid e da Arco Lisboa, arranjámos uma fórmula especial, a secção Opening. Em Lisboa, vai ser uma selecção de galerias novas com curadoria de João Laia; terá um formato especial diferente das outras galerias no espaço principal da Cordoaria. É uma coisa em que estamos a trabalhar e ainda não temos a lista final de galerias. Vamos apresentá-la em Abril.
Quais são as instituições que estão a ajudar mais a instalação da Arco Lisboa na cidade?
Toda a gente. Uma super-ajuda da câmara (EGEAC), Turismo de Portugal, Ministério da Cultura, EDP.
Está tudo a funcionar?
Sim. Isso não quer dizer que nos dêem dinheiro, mas estamos a ter apoio de todas as instituições de que nos aproximamos. Algumas dão o espaço, outras fazem a ligação com a imprensa internacional. Incluindo os museus: Museu do Chiado, Colecção Berardo...
A longo prazo isso vai chegar?
O dinheiro é muito importante. Que as instituições suportem o mercado da arte, que tenham orçamento para comprar na feira. Isso não quer dizer que o dinheiro seja a única forma de ajudar um projecto.
Fazendo a pergunta mais directamente: é suficiente? A Ifema, que organiza a Arco, consegue fazer a feira mais ou menos sozinha em Lisboa?
Até agora. No ano passado, fizemos uma tentativa de a tornar viável. Temos de olhar para os nossos activos, os lucros e as despesas: a feira tem de ser sustentável, de outra maneira não a faremos. Até agora tem cumprido as expectativas da Ifema.
Portanto é sustentável?
Até aqui sim, mas precisa de algum apoio público e das instituições locais, precisa de que os museus locais comprem obras na feira para que as galerias internacionais as vejam. Não é só o dinheiro que nós gerimos, é também que volume de compras há na feira. Para isso, precisamos dos coleccionadores portugueses e dos coleccionadores estrangeiros que trazemos, mas também precisamos das instituições portuguesas. Precisamos de que Serralves, Gulbenkian e Berardo comprem na Arco Lisboa.