Venda do Novo Banco à Lone Star é “contrária ao interesse nacional”, diz o PCP. BE fala em "fundo abutre"

Comunistas reagem à escolha do Banco de Portugal e, tal como os bloquistas, insistem na nacionalização.

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gmw guilherme marques

Defensor incondicional da nacionalização do Novo Banco, agora que se sabe que o Banco de Portugal indicou ao Governo a Lone Star para a fase definitiva de negociações, o PCP insiste que a possível venda do Novo Banco é uma “decisão contrária ao interesse nacional”. O Bloco de Esquerda também defende a nacionalização do banco e entende não ser admissível que o Governo pague para o "entregar" a um "fundo abutre".

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Defensor incondicional da nacionalização do Novo Banco, agora que se sabe que o Banco de Portugal indicou ao Governo a Lone Star para a fase definitiva de negociações, o PCP insiste que a possível venda do Novo Banco é uma “decisão contrária ao interesse nacional”. O Bloco de Esquerda também defende a nacionalização do banco e entende não ser admissível que o Governo pague para o "entregar" a um "fundo abutre".

Em resposta a um pedido de comentário, o PCP emitiu uma nota em que volta a rejeitar a venda do banco a um grupo privado, realçando que no caso está “associado a fundos de investimento e a actividade especulativa”. O partido lembra que o Estado injectou no Novo Banco “avultados recursos públicos no processo de resolução”, no valor de 4,9 mil milhões de euros, e que ainda subsistem constrangimentos devido a “activos mais problemáticos”, como aconteceu em casos anteriores com o BPN e o Banif.

Os comunistas consideram que a venda “deixaria o caminho livre para uma reestruturação do banco, com prejuízo dos seus trabalhadores e da actividade do banco”, assim como para uma venda futura, pelos novos donos, “em condições lesivas do interesse público” mas bem favoráveis à “natureza destes fundos de investimento”.

No Parlamento, há duas semanas, quando se debateram os projectos de resolução do PCP e do Bloco que recomendavam a nacionalização do Novo Banco em vez da sua venda, o deputado Miguel Tiago defendera que “se os portugueses pagaram o Novo Banco, ao menos que fiquem com ele”. Mas para o comunista não se trata apenas de uma questão de deve e haver: entregar o Novo Banco a um grupo estrangeiro implica que mais de 60% do capital bancário nacional ficará em mãos não nacionais. O argumento foi igualmente usado pela bloquista Mariana Mortágua. O projecto de resolução foi chumbado pelos votos do PSD, PS e CDS. Os socialistas diziam que essa solução inviabilizava qualquer "processo negocial" e que preferiam a venda do banco - mantê-lo na esfera pública seria uma hipótese apenas se não aparecesse qualquer proposta minimamente aceitável.

“Pela sua dimensão, pelo apoio que pode dar às micro, pequenas e médias empresas e às famílias [o Novo Banco] devia manter-se sob controlo público do Estado e colocado ao serviço do desenvolvimento económico do país e das famílias, salvaguardado que seja o interesse nacional”, argumenta ainda o PCP na nota de hoje.

Inadmissível pagar para “entregar” a “fundo abutre”

Contactado, o Bloco de Esquerda não quis prestar novas declarações sobre o tema, remetendo para a resolução que aprovaram na Mesa Nacional a 8 de Janeiro. Nesse documento, pode ler-se que o partido não admite que o Governo pague para “entregar” o banco “a um fundo abutre”, como a Lone Star.

“Os interesses de lucros de curto prazo de fundos de investimento não estão alinhados com o interesse nacional e, sendo já claro que o dinheiro dos contribuintes não será devolvido e que, pelo contrário, o Estado continuará a pagar por perdas futuras mesmo vendendo o banco, não resta nenhum argumento para a entrega a privados do Novo Banco”, defendem os bloquistas.

O BE, que tem vindo sempre a defender a nacionalização do Novo Banco, entende que “cabe à esquerda a exigência das condições desse processo”. Os bloquistas defendem que, “face à enorme instabilidade internacional e à dependência externa da banca privada em Portugal, só a criação de um serviço público bancário pode proteger o país dos choques externos que estão para vir”. E acrescentam: “O serviço público bancário é um instrumento fundamental de uma política que reestruture a dívida pública e prepare o país para o colapso do euro.”