Marcelo justifica manutenção de Centeno com Bruxelas e lição de Vítor Gaspar
No aniversário da TVI, Marcelo justificou nota sobre Centeno com a “estabilização financeira” e com a lição de 2013, quando Vítor Gaspar se demitiu. E reconheceu ter ficado surpreendido com a resistência da “geringonça”.
Foi a pensar no calendário que se aproxima em matéria de estabilização financeira, sobretudo a decisão de Bruxelas sobre a saída de Portugal do procedimento por défice excessivo, que o Presidente da República se “atravessou” pelo ministro das Finanças no caso da Caixa Geral de Depósitos. Mas também por ter em mente o que aconteceu em 2013, quando Vítor Gaspar se demitiu daquele cargo e a crise política que se seguiu.
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Foi a pensar no calendário que se aproxima em matéria de estabilização financeira, sobretudo a decisão de Bruxelas sobre a saída de Portugal do procedimento por défice excessivo, que o Presidente da República se “atravessou” pelo ministro das Finanças no caso da Caixa Geral de Depósitos. Mas também por ter em mente o que aconteceu em 2013, quando Vítor Gaspar se demitiu daquele cargo e a crise política que se seguiu.
Isso mesmo reconheceu Marcelo Rebelo de Sousa nesta segunda-feira, na TVI, onde esteve como convidado especial em dia de aniversário, a fazer uma espécie de balanço de um ano em Belém. O formato da conversa passava pela avaliação de quatro comentadores da estação de Queluz e pela resposta do chefe de Estado. O caso Centeno/CGD atravessou toda a conversa.
Uma das linhas críticas dos comentadores – José Miguel Júdice, Manuela Ferreira Leite, Fernando Medina e Constança Cunha e Sá – à actuação presidencial foi a da sobre-exposição, com Marcelo a reconhecer que fala muito nos domínios que elegeu como fundamentais na sua acção: estabilidade política, concertação social, cumprimento de compromissos, trajectória do défice e consolidação do sistema bancário. Nessas áreas, reconhece que intervém “para prevenir conflitos e ajudar num determinado sentido”.
Por isso reconheceu ter-se atravessado, por exemplo, na concertação social. Também se atravessou por Mário Centeno? –, perguntou José Alberto Carvalho. “Atravesso-me por aquilo que em cada momento me parece fundamental”, respondeu o chefe de Estado, insistindo que “sobre esse episódio o Presidente tomou uma decisão a pensar no interesse nacional”.
Lembrou que, daqui a um mês, o Eurostat vai avaliar as contas de Portugal e depois haverá uma decisão da Comissão Europeia sobre a saída do Procedimento por Défice Excessivo, ao mesmo tempo que está por cumprir a recapitalização da CGD. “Há um conjunto de preocupações que o Presidente tem”, “há muita coisa na cabeça quando se fala de estabilização financeira”, afirmou.
Mas há mais: a lição da demissão de Vítor Gaspar que Marcelo fez questão de lembrar. “Em 2013, num contexto muito menos agitado, o ministro das Finanças pediu a demissão” e isso desencadeou uma crise política – lembrou –, pois isso “originou a demissão” do Governo do líder do CDS, obrigou o Presidente Cavaco Silva a chamar a terreiro o líder do maior partido da oposição e, por fim, levou a uma remodelação governamental. Marcelo não disse, mas tudo isso aconteceu num contexto de maioria absoluta no Parlamento, que hoje não existe.
O que garantiu foi que, “no que toca ao Presidente, o assunto está encerrado”, mesmo que os SMS entre Mário Centeno e António Domingues sejam comprometedores para o ministro. “Há razões ponderosas para aceitar a posição do primeiro-ministro” em defesa do titular das Finanças, afirmou Marcelo, sublinhando que tal está dentro dos seus poderes constitucionais.
Mas sabia de tudo desde o princípio, perguntou Judite de Sousa. Marcelo recorda as notas que escreveu em Junho e em Novembro, mas já não teve tempo para falar do que aconteceu depois.
Antes, já tinha tido tempo para reconhecer que ficou surpreendido com a resiliência da “geringonça”: “Não pensei que conseguisse cumprir os compromissos, que conseguisse manter a trajectória do défice e não pensava que era tão resistente como se mostrou”.
Marcelo confessou que, neste primeiro ano, teve “momentos muito complicados”, desde o início do mandato: “Logo nos dois primeiros meses, a questão era se dissolvia ou não o Parlamento, depois era a aprovação do primeiro Orçamento, depois a do segundo Orçamento, depois a concertação social… Aprendi a relativizar as questões”.
Sobre a proximidade e os afectos, outra das notas sublinhadas pelos comentadores, Marcelo reconheceu que esse aspecto da sua actuação “tem custos físicos e psicológicos”. E contabilizou que, nos últimos três dias em que andou pelo Norte, tirou mais de 1500 “selfies” e cumprimentou “três a quatro mil pessoas”. E isso também cansa.
À chegada, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado sobre o seu primeiro ano de mandato: “Foi um ano longo, com muito trabalho e muitas preocupações mas cumpriu a missão fundamental: pacificar, cicatrizar feridas, menor conflitualidade social, conseguir uma relação boa com parceiros internacionais”. Saudades? “É mais fácil comentar que ser Presidente”, e sim, “saudades do que é mais fácil”.