Em Londres houve lenços brancos para acenar à imagem de Fátima

Coroação da imagem oferecida a Inglaterra e a Gales marca o arranque da celebração do centenário das aparições. A comunidade portuguesa não faltou à chamada. Mas não esteve sozinha.

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A peça foi transportada para o altar por três crianças filhas de filipinos, vestidas como se vestiam os pastores Francisco, Jacinta e Lúcia, em 1917 Ricardo Nobre

Quando Celso Poço chegou neste sábado à Catedral de Westminster, no centro de Londres, as portas da entrada já estavam fechadas. Não assistiu, por isso, ao momento em que a imagem de Nossa Senhora de Fátima foi levada em ombros pelo corredor da igreja até ao altar, onde recebeu uma nova coroa de rainha. Mas o brasileiro, acompanhado dos amigos portugueses, não virou costas. “Acho muito importante a visita da estátua. O católico está aqui neste país meio perdidinho, meio à parte, e é bom sentir a força de Fátima.”

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Quando Celso Poço chegou neste sábado à Catedral de Westminster, no centro de Londres, as portas da entrada já estavam fechadas. Não assistiu, por isso, ao momento em que a imagem de Nossa Senhora de Fátima foi levada em ombros pelo corredor da igreja até ao altar, onde recebeu uma nova coroa de rainha. Mas o brasileiro, acompanhado dos amigos portugueses, não virou costas. “Acho muito importante a visita da estátua. O católico está aqui neste país meio perdidinho, meio à parte, e é bom sentir a força de Fátima.”

A catedral, principal templo da Igreja Católica em Inglaterra e no País de Gales — onde predomina a Igreja Anglicana, da qual a rainha Isabel II é chefe suprema —, foi pequena para as mais de 2500 pessoas, de várias nacionalidades, e de todas as idades, embora na sua maioria mais idosas, que quiseram assistir ao arranque das celebrações do centenário das aparições de Fátima, organizadas pelo Apostolado Mundial de Fátima, nesta região.

Na cerimónia, o arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, renovou a consagração de Inglaterra e País de Gales ao Imaculado Coração de Maria e colocou na estátua da santa, oferecida pelo Santuário de Fátima aos britânicos em 1968, a “coroa digna” que lhe faltava. A peça foi transportada para o altar por três crianças filhas de filipinos, vestidas como se vestiam os pastores Francisco, Jacinta e Lúcia, em 1917 — a organização do evento teve, de resto, um envolvimento muito grande da comunidade filipina, cujos membros são os guardiões da imagem peregrina.

A coroa foi feita em Lisboa pela joalharia Leitão e Irmão, autora também daquela que foi oferecida em 1942 à imagem presente na Capelinha das Aparições, em Fátima, e que integra 2650 pedras preciosas e 313 pérolas oferecidas pelas mulheres portuguesas, como forma de agradecimento por o país não ter participado na Segunda Guerra Mundial.

Rainha “mais moderna”

Para a estátua presente em Inglaterra, a Leitão e Irmão fez uma “reinterpretação da coroa de 1942, desenhada para uma rainha do século XXI, mais moderna”, explicou ao PÚBLICO Jorge van Zeller Leitão, representante da joalharia. O modelo em prata dourada mantém as rosas na base da coroa e introduz quatro pétalas de rosa que representam uma mãe a abraçar o filho.

A coroa foi encomendada pelo Apostolado Mundial, mas acabou por ser uma oferta da empresa, tal como aconteceu em 1942: “Quisemos manter o gesto de generosidade para com a maior representante de Portugal no mundo, que é a Nossa Senhora de Fatima.” Os fiéis ingleses estão, porém, convidados a doar jóias ou bens em ouro e prata, que serão recolhidos durante a peregrinação da estátua por Inglaterra e Gales, ao longo deste ano. “Se nos oferecerem zero, a coroa está entregue na mesma”, ressalvou.

Quem não chegou à Catedral de Westminster até às duas da tarde, hora marcada para a missa e cumprida com a típica pontualidade inglesa, teve de esperar na rua até que fosse saindo gente — para evitar atropelos e confusão, justificou a organização às dezenas que aguardavam a porta.

As medidas de segurança estenderam-se também à captação de imagens, proibida durante toda a cerimónia. Em vez de smartphones e máquinas fotográficas, o Apostolado pediu às pessoas que usassem os guardanapos brancos de papel que tinham sido oferecidos juntamente com os missais para acenar à passagem da estátua, tal como é habitual nas procissões das velas em Fátima.

Viagens marcadas

Um ritual fácil mesmo para quem nunca pôs os pés no santuário, como Zbigniew e Ivone Lis, filhos de emigrantes polacos. Há quem veja os polacos e os seus descendentes — bem como os emigrantes de outros países onde o catolicismo é muito forte, como as Filipinas — como os novos impulsionadores desta religião em solo britânico. “A mensagem de Nossa Senhora acaba por ser uma fonte de união para estas várias comunidades estrangeiras, importante num país onde a religião católica ainda é uma minoria”, sublinhou Nuno Prazeres, director do secretariado internacional do Apostolado.

Os dados mais recentes indicam que 8,3% da população do Reino Unido é católica, enquanto os anglicanos serão 19,8% (48,5% dizem não ter qualquer religião). “Mas isso está a mudar”, acredita Michael Berry, britânico de 75 anos a residir no Norte de Inglaterra. Deslocou-se a Londres com a mulher, Catheline, para rezar perante Nossa Senhora de Fátima e celebrar a sua “excelente mensagem”, já que não planeiam visitar o santuário em breve.

Para Nuno Prazeres, a cerimónia deste sábado pode funcionar como “rampa de lançamento” para outras actividades e até para atrair mais ingleses a Fátima. A devoção a Nossa Senhora de Lourdes está mais presente na comunidade católica britânica, até pela proximidade geográfica (Sul de França), mas pelo menos este ano o cenário será diferente. Todas as agências de viagens inglesas contactadas pelo PÚBLICO referem um aumento exponencial no número de grupos com viagem marcada para Fátima, quase todas já com lotação esgotada.