Teresa Villaverde: “É difícil falar de Colo sem falar de política”

A cineasta portuguesa explica ao PÚBLICO a génese do filme que levou ao concurso de Berlim este ano.

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Teresa Villaverde na conferência de imprensa de quarta-feira em Berlim IAN LANGSDON/EPA

Encontramos Teresa Villaverde a encerrar um longo dia dedicado à promoção de Colo em Berlim. Contente por ver a sua sétima longa-metragem em concurso no festival alemão, porque é uma oportunidade para fazer com que este filme e este tema cheguem a outras audiências, agradada com as reacções positivas dos jornalistas com quem foi conversando ao longo do dia. Não há unanimidade quanto aos méritos de Colo – na conferência de imprensa, um jornalista russo definiu-o como demasiado opaco, demasiado longo; e ficará para a história a crítica arrasadora de Stephen Dalton, do Hollywood Reporter, que o resume como “um filme com pouco para dizer que leva demasiado tempo a dizê-lo”. No entanto, a singularidade do olhar de Colo sobre uma família de classe média atirada para a pobreza pela crise económica gerou um interesse que surpreendeu a equipa presente em Berlim. Numa breve conversa com o PÚBLICO, Teresa Villaverde explicou que este é um filme que nasceu da crise e que é difícil falar dele sem começar a puxar o nó das políticas de austeridade que o inspiraram.

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Encontramos Teresa Villaverde a encerrar um longo dia dedicado à promoção de Colo em Berlim. Contente por ver a sua sétima longa-metragem em concurso no festival alemão, porque é uma oportunidade para fazer com que este filme e este tema cheguem a outras audiências, agradada com as reacções positivas dos jornalistas com quem foi conversando ao longo do dia. Não há unanimidade quanto aos méritos de Colo – na conferência de imprensa, um jornalista russo definiu-o como demasiado opaco, demasiado longo; e ficará para a história a crítica arrasadora de Stephen Dalton, do Hollywood Reporter, que o resume como “um filme com pouco para dizer que leva demasiado tempo a dizê-lo”. No entanto, a singularidade do olhar de Colo sobre uma família de classe média atirada para a pobreza pela crise económica gerou um interesse que surpreendeu a equipa presente em Berlim. Numa breve conversa com o PÚBLICO, Teresa Villaverde explicou que este é um filme que nasceu da crise e que é difícil falar dele sem começar a puxar o nó das políticas de austeridade que o inspiraram.

O germe deste filme já existia antes da crise, ou nasce da crise?

Nasce da crise. Foi um argumento que escrevi muito rapidamente, mais rápido do que é costume. A crise estava por todo o lado e ouvíamos todo o tipo de histórias; desde o início que o que me interessou foi essa parte da família, a forma como os filhos passariam a olhar para os pais que não produziam nada. Muitos começaram a olhar para os pais como falhados, como pessoas que não valiam nada, ou até com vergonha. O que me impressionou e me fez começar a escrever foi isso. Mas é evidente que depois, quando começamos a desenvolver as personagens, a dada altura passamos a entrar naquelas pessoas, e parece que tudo o resto, a confusão do mundo à volta que nos levou até ali, quase desaparece.

O tema da família é recorrente no seu cinema, mas este filme inscreve-se muito especificamente neste momento, neste tempo. É um filme de urgência?

Não sei se este filme tem isso. Estou tão confusa em relação aos tempos que estamos a viver como estas personagens. Não me sinto diferente delas. Sinto o mesmo espanto em relação a muita coisa que se está a passar na Europa, no mundo – e ainda há pouco estava a dizer a jornalistas que é impossível alguém minimamente consciente dizer, hoje, que não está perplexo, expectante e preocupado com o estado do mundo. Estamos num momento de grande confusão e grande perigo, e não sabemos exactamente como se resolvem estas embrulhadas em que nos metemos. No caso de Portugal, a geração que tem hoje 40-50 anos e que cresceu com o 25 de Abril, com avanços e recuos, pensava – pensávamos todos – que o mundo ia sempre ficar cada vez melhor... Afinal não. Termos esta sensação de que estamos a chegar a um momento muito difícil, e é uma coisa nova para nós. É difícil falar do filme sem falar de política: a nossa geração achou que tudo iria sempre caminhar para melhor, esta geração que tem agora 18-19 anos não. E nem sequer nos conseguimos pôr no lugar deles. Eles têm um muro à frente.

É um filme que parece enclausurado com as suas personagens num beco sem saída.

É exactamente isso. Mas isso não é só a crise. Mesmo no meio da multidão estamos no meio da nossa bolha. E ainda não percebi muito bem até que ponto é uma coisa característica dos portugueses – ou se calhar geracional. Em Portugal temos muita dificuldade em falar de nós próprios e isso tem-nos prejudicado muito, porque nos vai isolando. Às vezes vejo que noutros países as pessoas choram em frente umas às outras; nós, quanto mais grave é a coisa, mais nos fechamos. Não sei se daí virá boa coisa.

O cinema ainda pode ajudar a encontrar esse afecto, essa necessidade de compreensão?

Acho que sim, que o cinema pode vir a ganhar de novo uma enorme importância. Vêm aí tempos em que os artistas vão fazer trabalhos muito sérios, porque é sempre assim: quando o mundo vai abaixo, a arte vai acima.