Medicamentos oncológicos em falta por não serem lucrativos
A escassez de medicamentos leva os médicos a optarem por terapêuticas alternativas cuja eficácia não está comprovada.
A medicação disponível para doentes oncológicos está a desaparecer porque a indústria farmacêutica está menos interessada. Em causa está o preço baixo dos fármacos e, consequentemente, a sua pequena margem de lucro, noticia o Jornal de Notícias nesta quarta-feira.
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A medicação disponível para doentes oncológicos está a desaparecer porque a indústria farmacêutica está menos interessada. Em causa está o preço baixo dos fármacos e, consequentemente, a sua pequena margem de lucro, noticia o Jornal de Notícias nesta quarta-feira.
Assim, as farmacêuticas hospitalares procuram-se entre si para responder à escassez e os médicos acabam por receitar terapêuticas alternativas, que nem sempre estão comprovadas.
Fátima Cardoso, responsável da Unidade da Mama e do Programa de Investigação do Cancro da Mama do Centro Clínico Champalimaud, sublinha que “estamos a falar de fármacos básicos necessários para cerca de 80% dos doentes oncológicos” e insiste que este é um tema que gera preocupação.
A médica cita medicamentos como ciclofosmida, 5-Fluoroucilo e a hormonoterapia, que o Infarmed confirmou enfrentarem “maior dificuldade de aquisição”. No entanto, o Infarmed recusa um cenário de “ruptura persistente”.
Também Nuno Miranda, director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, partilha a preocupação, destacando que alguns dos medicamentos em causa não são substituíveis.
Por outro lado, existem ainda problemas em relação à distribuição dos medicamentos. “Como não são produzidas quantidades suficientes, são vendidos nos países que podem pagar mais e esgotam nos países mais pobres”, acrescenta Fátima Cardoso.
Estes medicamentos não estão sujeitos a uma notificação em caso de exportação e podem ser adquiridos por países como a Alemanha (que em alguns casos paga preços cinco vezes superiores aos praticados em Portugal, por exemplo).
Uma das soluções poderá passar por condicionar a introdução de medicamentos inovadores e manter disponíveis os fármacos mais baratos, exemplifica Gabriela Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia.