Conselheiros de Trump "em conversa constante" com a Rússia durante a campanha
A proximidade entre membros da Administração Trump e Moscovo durante a campanha foi confirmada por entidades oficiais norte-americanas.
Vários conselheiros próximos de Donald Trump estiveram em “contacto constante” com responsáveis russos durante o período de campanha eleitoral, garantem os serviços secretos norte-americanos. De acordo com fontes citadas pela CNN e pelo New York Times, as conversas entre a equipa de Trump e responsáveis governamentais russos aconteceram durante o início do Verão e provocaram um “alerta vermelho” entre os serviços secretos dos Estados Unidos.
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Vários conselheiros próximos de Donald Trump estiveram em “contacto constante” com responsáveis russos durante o período de campanha eleitoral, garantem os serviços secretos norte-americanos. De acordo com fontes citadas pela CNN e pelo New York Times, as conversas entre a equipa de Trump e responsáveis governamentais russos aconteceram durante o início do Verão e provocaram um “alerta vermelho” entre os serviços secretos dos Estados Unidos.
As comunicações foram interceptadas durante operações de rotina dos serviços de informação norte-americanos, detalham agentes. Entre os nomes envolvidos do lado da equipa de Trump estão Michael Flynn, que esta segunda-feira se demitiu do cargo de conselheiro de Segurança Nacional, precisamente por ter estabelecido contactos com Moscovo, e Paul Manafort, responsável pela campanha do actual Presidente dos EUA.
Numa entrevista citada pela CNN, Manafort diz que o seu envolvimento nas conversas com a Rússia é “100% mentira”. “Não posso acreditar que me estão a incluir numa coisa destas. Não estive envolvido em nenhuma destas actividades”, garante.
“Não me lembro de ter falado com funcionários russos, nenhuma vez”, afirma Manafort. “Não estabeleci qualquer contacto com [o Presidente russo Vladimir] Putin ou com o Governo da Rússia antes, durante ou depois da campanha”, asseverou.
Assim que surgiram as primeiras indicações de que estaria a decorrer uma investigação dos serviços secretos devido à sua alegada proximidade com Moscovo, ainda antes da vitória de Trump, Manafort defendeu-se afirmando que se tratava de uma estratégia de “propaganda política” dos democratas.
Manafort defendeu ainda que os seus negócios na Rússia e Ucrânia não deviam ser interpretados como sinal de proximidade ao Governo russo. Em Agosto de 2016, o New York Times escrevia que alguns bens de Paul Manafort estariam ainda no seu escritório em Kiev, onde prestou aconselhamento político ao Governo pró-russo de Viktor de Yanukovich, na Ucrânia.
As chamadas e registos telefónicos interceptados integram as investigações que ainda decorrem para determinar as ligações do Presidente norte-americano ao governo russo, bem como a interferência da Rússia nas eleições presidenciais de Novembro.
“Não acreditemos em informação anónima”, defendeu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, numa conferência de impressa esta quarta-feira, notando que o New York Times protegeu a identidade das fontes, sugerindo desta forma uma motivação política para as últimas notícias e colocando em causa a sua veracidade.
Sem que a investigação e o relato de contactos entre o Presidente dos EUA e a Rússia se apresentem como uma surpresa, estes novos dados reforçam a fragilidade da Administração Trump a vários níveis. As contradições na comunicação de Washington encontram repetição no mais recente briefing da Casa Branca. Esta terça-feira, quando questionado sobre as ligações de membros da campanha de Trump à Rússia, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, voltou a negar a existência de quaisquer contactos, repetindo que, mesmo com a demissão de Michael Flynn, a Casa Branca mantinha a afirmação de que não houve contactos entre a equipa de Trump e Moscovo durante a campanha.
Por outro lado, o número de investigações contra a Administração Trump que está a vir a público mostra que os serviços secretos norte-americanos estão dispostos a partilhar informações que disponham em resposta à Casa Branca, que já disse que iria investigar as fugas de informação.
Esta terça-feira, o presidente Comité de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes e congressista luso-descendente Devin Nunes informou que o antigo conselheiro da Segurança Nacional e o teor das suas conversas não iriam ser investigados. Mas haverá investigação às fontes que tornaram públicas as conversas entre Flynn e Moscovo, disse à CNN.
A polémica coloca ainda mais pressão sobre o Congresso Republicano, que em Dezembro pediu uma comissão de inquérito especial à possível influência russa na campanha presidencial. Mas essa investigação, no entanto, ainda não avançou.
O Presidente dos EUA reagiu entranto através da sua conta de Twitter, afirmando que as alegadas ligações à Rússia "não fazem sentido" e que "são apenas uma tentativa de esconder os muitos erros comentidos pela campanha perdedora de Hillary Clinton".
Logo depois de negar a existência de conversas com Moscovo durante o período de campanha, Trump publicou um segundo tweet para acusar os serviços secretos de estarem partilhar informações ilicitamente. "A informação está a ser dada de forma ilegal ao New York Times e Washington Post pelas agências de serviços secretos", escreveu Trump, questionando o envolvimento da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana e do FBI.
Em Julho de 2016, em plena campanha, Trump encorajou em público os serviços russos a aceder ilicitamente à conta de email de Hillary Clinton, antiga Secretária de Estado dos EUA e à data candidata presidencial adversária. Na altura, as afirmações de Trump foram fortemente criticadas e encaradas como uma ameaça à segurança nacional dos EUA.
Agora, Trump decidiu não aplicar a mesma regra de transparência aos serviços secretos norte-americanos e condena a sua acção. Para o Presidente norte-americano, "o verdadeiro escândalo" não é o teor das informações, mas sim a vinda a público das mesmas. "As informações confidenciais estão a ser entregues pelos 'serviços secretos' como se fossem doces". Uma decisão muito "anti-Americana", tece o líder da Casa Branca.