Um riso foi impresso no espaço
A peça de arte está a orbitar na Estação Espacial Internacional. Foi o resultado de um concurso com 100 mil participações.
Embora a primeira escultura criada fora da atmosfera terrestre pareça à primeira vista um donut colorido, representa o riso da humanidade e pertence a Naughtia Jane Stanko, uma estudante de cinema que vive em Las Vegas. O riso de Stanko foi o mais votado de entre 100 mil contribuições de todo o mundo que participaram no concurso #Laugh, promovido por um fornecedor da NASA.
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Embora a primeira escultura criada fora da atmosfera terrestre pareça à primeira vista um donut colorido, representa o riso da humanidade e pertence a Naughtia Jane Stanko, uma estudante de cinema que vive em Las Vegas. O riso de Stanko foi o mais votado de entre 100 mil contribuições de todo o mundo que participaram no concurso #Laugh, promovido por um fornecedor da NASA.
“O resultado do #Laugh cumpriu as nossas expectativas,” disse ao PÚBLICO Harrison Pitman, director de estratégia de produtos da Made in Space, uma fabricante de impressoras 3D que trabalha para a NASA. “Acima de tudo, a nossa equipa gostou da oportunidade de imprimir uma peça de arte. É algo muito diferente das peças que normalmente saem das nossas impressoras 3D”.
A impressão 3D é uma tecnologia em que máquinas depositam sucessivas camadas de plástico umas em cima das outras até ao objecto final. A Made in Space foi fundada em 2010 para desenvolver máquinas que criem peças e ferramentas directamente na Estação Espacial Internacional (EEI). O #Laugh parte da colaboração entre a empresa e o artista israelita Eyal Gever para transportar para o espaço elementos que os responsáveis do projecto dizem representar a humanidade no século XXI: arte, tecnologia e Internet. Ao longo de Dezembro, pessoas de todo o mundo foram convidadas a fazer o download da aplicação móvel, a criar uma versão 3D do seu riso e a votar naquela de que gostassem mais.
O riso de Naughtia Stanko demorou quatro horas a ser impresso num ambiente sem gravidade. O processo foi monitorizado a partir de um centro de pesquisa da NASA em Silicon Valley e contou com a presença de Stanko. No vídeo em que recebe a novidade directamente de Eyal Gever, a estudante norte-americana descreve o projecto como uma “carta de amor ao universo” – é a razão pela qual a divulgação foi feita no Dia dos Namorados.
Após uma impressão monocromática, a escultura foi colorida para representar as ondas sonoras do riso de Stanko. O código por detrás da aplicação foi criado por Gever, cujo trabalho assenta na fusão de arte e tecnologia. A aplicação capta a energia do riso dos utilizadores e representa-a através de ondas sonoras que são posteriormente moldadas segundo um código matemático que permite criar “estrelas de riso”. Em conversa com o PÚBLICO, Gever conta que criar uma representação 3D do riso não foi a sua primeira ideia.
“Quando o projecto me foi apresentado há cerca de cinco anos queria criar algo futurista para ser impresso no espaço, mas depois decidi que tinha de me focar em pessoas,” disse Gever. “Apesar dos desenvolvimentos na área das ciências e tecnologia, os noticiários parecem estar dominados por racismo e discriminação. Queria recordar às pessoas que há beleza na humanidade.”
Inicialmente, Gever considerou convidar Nelson Mandela para gravar uma mensagem original para a NASA: “Para mim ele simbolizava, e ainda simboliza, o melhor da humanidade. Queria trabalhar com a voz dele, mas ele morreu duas semanas depois da ideia inicial. Acabei por perceber que tinha de pensar em algo que não estivesse associado a qualquer país ou língua.”
No final, a decisão foi trabalhar com o som do riso humano, que na óptica de Gever representa mais do que diversão: “O riso não tem de representar felicidade. Também há risos sarcásticos, ou mesmo zangados. Há várias maneiras de nos rirmos, mas é algo que todos podemos fazer.”
Para a Made in Space, a capacidade de produzir arte no espaço é um passo essencial para a criação de um futuro em que os seres humanos podem existir no espaço sem dependerem da Terra. A primeira impressora a bordo da Estação Espacial Internacional foi instalada pela empresa em 2013, facilitando o trabalho de astronautas quando precisam de ferramentas ou peças e não têm tempo para estas serem enviadas da Terra.
Gever avança que, no futuro, os utilizadores da aplicação poderão encomendar esculturas do seu riso para ter em casa em bronze ou inox: “Quero que todos possam utilizar a aplicação e o meu código para comprar uma versão física do seu riso. É uma nova forma de utilizar a tecnologia para imortalizar os nossos sons.”
O riso de Stanko está a orbitar na Estação Espacial Internacional desde sexta-feira.
Notícia actualizada: clarificado que a peça foi colorida depois de ser impressa.
Texto editado por João Pedro Pereira