Democratas exigem investigação à Casa Branca após demissão de Flynn
Nunca houve um início de uma presidência nos EUA tão confuso e conturbado como a de Trump.
Em menos de um mês, a nova Administração norte-americana já contabiliza a primeira baixa de peso. Há vários dias que a demissão do conselheiro para a Segurança Nacional, Michael Flynn, era uma notícia pronta para ser dada. Agora que aconteceu, os democratas exigem uma investigação aprofundada, e querem saber se há mais ameaças à segurança nacional na Administração Trump.
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Em menos de um mês, a nova Administração norte-americana já contabiliza a primeira baixa de peso. Há vários dias que a demissão do conselheiro para a Segurança Nacional, Michael Flynn, era uma notícia pronta para ser dada. Agora que aconteceu, os democratas exigem uma investigação aprofundada, e querem saber se há mais ameaças à segurança nacional na Administração Trump.
O líder da minoria democrata no Senado, Charles Schumer, apelou a uma investigação das violações "potencialmente criminais" em que incorre Michael Flynn. "Estou a apelar a uma investigação independente, com autoridade executiva para poder conduzir processos criminais", afirmou Schumer, dizendo que uma tal acção não poderia ser liderada pelo Procurador-Geral dos EUA, Jeff Sessions, ou por advogados da Casa Branca.
A forma atabalhoada como o processo foi conduzido foi parte do início mais conturbado de uma presidência na história recente dos EUA. A saída prematura de Flynn ficagistada como um recorde para o cargo, embora poucos esperassem que o antigo general batesse a longevidade do influente Henry Kissinger, que ocupou o posto seis anos. O caso de Flynn seguiu um padrão recorrente noutras polémicas que já fazem parte do curto historial da Administração de Donald Trump — proliferação de fugas de informação, manifesta falta de experiência governativa e declarações contraditórias aos media.
A posição de Flynn tornou-se insustentável a partir do momento em que o vice-presidente, Mike Pence, se viu vinculado publicamente à negação do conselheiro de que não abordou as sanções nos contactos que manteve com o embaixador russo em Washington, Serguei Kisliak. Mas o alerta vinha de trás.
A ex-procuradora-geral, Sally Yates, demitida por Trump depois de se ter recusado a defender a ordem executiva que limita a imigração para os EUA, tinha manifestado há um mês, junto da Casa Branca, a sua preocupação em relação aos contactos entre Flynn e Kisliak, chegando ao ponto de sugerir que o conselheiro poderia ser vulnerável a chantagem pelo Kremlin, revela o Washington Post. Nada foi feito até segunda-feira, quando Flynn acabou por pedir demissão, já por volta da meia-noite (hora de Washington).
Esta terça-feira, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump já estava a analisar a situação de Flynn "há várias semanas". Mas a decisão final foi tomada com "base na confiança", disse Spicer. "O nível de confiança foi diminuíndo, até ao ponto em que o Presidente sentiu que era preciso fazer mudanças", afirmou. Trump considerou que Flynn tinha mentido ao vice-presidente Mike Pence e a outras pessoas, e por isso pediu-lhe que apresentasse a sua demissão, explicou.
Os democratas do Congresso pediram ontem esclarecimentos e a abertura de uma investigação à conduta de Flynn. “Precisamos de saber quem mais na Casa Branca continua a ser um risco para a segurança nacional”, afirmou um grupo de congressistas, numa carta conjunta. A grande questão é saber por que demorou Trump tanto tempo a agir, quando já era público o teor das conversas entre Flynn e Kisliak.
Fugas de informação
Não é preciso ser um observador de longa data da política americana, nem um frequentador dos corredores do poder em Washington para perceber que o arranque da Administração Trump está longe de ser suave. A face mais visível é a quantidade invulgar de fugas de informação: desde a publicação de pormenores sobre as chamadas telefónicas de Trump com outros líderes mundiais até rumores sobre demissões, passando pela divulgação de pormenores sobre a elaboração de ordens executivas, é raro o dia em que os jornais não tenham notícias baseadas em “fontes internas da Casa Branca”.
“A demissão, com a era Trump ainda com menos de quatro semanas, é a mais recente e mais dramática convulsão no início mais caótico de uma Administração na história moderna dos EUA”, escreve o editor diplomático do Guardian, Julian Borger.
“Nada disto é normal. A incompetência, a inaptidão e a fuga de informação é sem precedentes”, disse ao Washington Post o estratega republicano Steve Schmidt. A instabilidade na Administração Trump ajuda a explicar a demora no preenchimento de alguns lugares importantes.
Na Segurança Nacional estão, por exemplo 60 lugares por ocupar, segundo o Washington Post. O mesmo se passa no Pentágono, diz a Foreign Policy, por causa da falta de acordo entre a Casa Branca e o secretário da Defesa, James Mattis, que diz estar a ser impedido de escolher o próprio staff. Outro dos casos mais flagrantes é no Departamento de Estado, onde ainda só foram anunciados quatro embaixadores.
O caos organizacional da Administração reflecte sobretudo uma Casa Branca dividida em dois grupos opostos, que lutam para garantir as boas graças de Trump. De um lado estão os elementos mais radicais e que defendem uma estratégia de maior confronto com o establishment, e do qual o conselheiro estratégico da Casa Branca, Steven Bannon, é o principal rosto; do outro, está um grupo de conselheiros e secretários mais institucionais, que preferem uma maior articulação com o Partido Republicano e o Congresso e receiam a degradação da imagem internacional dos EUA.