Lone Star convida empresas portuguesas a entrar no Novo Banco
Entre as empresas que terão sido convidadas pelo fundo norte-americano para investir no Novo Banco estarão o grupo Amorim, a Sonae, a Jerónimo Martins e o grupo Violas.
O Lone Star, seleccionado pelo Banco de Portugal (BdP) para assumir o controlo do Novo Banco, endereçou convites abertos a pelo menos cinco grupos industriais para que tomem posições qualificadas minoritárias na instituição. No plano de desenvolvimento que se propõe implementar, o fundo norte-americano traça vários objectivos, entre eles a dispersão em bolsa de parte do capital, conceder todos os anos até 6.000 milhões de euros de novo crédito e vender todas as operações internacionais, com excepção da espanhola.
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O Lone Star, seleccionado pelo Banco de Portugal (BdP) para assumir o controlo do Novo Banco, endereçou convites abertos a pelo menos cinco grupos industriais para que tomem posições qualificadas minoritárias na instituição. No plano de desenvolvimento que se propõe implementar, o fundo norte-americano traça vários objectivos, entre eles a dispersão em bolsa de parte do capital, conceder todos os anos até 6.000 milhões de euros de novo crédito e vender todas as operações internacionais, com excepção da espanhola.
Depois dos contactos exploratórios estabelecidos numa primeira fase com o empresariado nacional, o PÚBLICO sabe que o Lone Star enviou, por carta, convites formais a pelo menos cinco grupos da área não financeira para que assumam pequenas posições no capital do Novo Banco. E mais do que um compromisso, trata-se de uma manifestação de interesse por parte do investidor norte-americano de ter parceiros portugueses, o que numa negociação com o Governo, como a que está a decorrer, tem valor político.
No lote de potenciais sondados pelo Lone Star estarão as grandes empresas nacionais, as únicas com fôlego para investir, nomeadamente o grupo Amorim, a Sonae ou a Jerónimo Martins. Mas também outros de menor dimensão como o Violas, que deixou o BPI com um encaixe de cerca de 45 milhões. Tiago Violas já veio dizer que no sistema financeiro, agora, “só lhe interessa o Novo Banco”. De fora terá ficado a Semapa, de Pedro Queiroz Pereira, que em 2013 se opôs a Ricardo Salgado no BES.
Américo Amorim tem mostrado interesse pelo sistema financeiro no geral. Em Portugal foi fundador da SPI (BPI) e do BCP, passou pelo BPN, pelo BNC e pelo Banco Carregosa. Em Espanha foi grande accionista do Banco Popular e em África investiu no BIC (Angola) e no Banco Único (Moçambique). No Brasil, apareceu no Banco Luso-Brasileiro. Recentemente, Américo Amorim foi sondado pela gestão do BCP para subscrever acções no último aumento de capital.
O mesmo não se pode dizer da Sonae. Depois de uma breve passagem pelo BPA, nos anos 90, onde tentou assumir o controlo e perdeu 264 milhões de euros, não há registo de se ter voltado a interessar pela banca.
Resta saber se alguma das entidades sondadas irá responder positivamente à carta-convite endereçada pelo Banco Rothschild, em nome do Lone Star. E onde constam as linhas gerais do plano que o investidor norte-americano pretende aplicar no Novo Banco, cujas necessidades de capital poderão chegar (segundo parâmetros mais rigorosos) a três mil milhões de euros. Uma parte dos quais a ser injectado de imediato.
A possibilidade de o Fundo de Resolução, o vendedor do Novo Banco, se manter com uma posição até 25% do capital, servindo de instrumento de partilha do risco, não é mencionada, mas faz parte da proposta que esteve a ser trabalhada com as autoridades. Uma solução que tem como vantagem substituir a garantia pública, prevista na proposta inicial do Lone Star.
A estratégia para o Novo Banco, esquissada em articulação com o Banco de Portugal e o Governo, prevê um Oferta Pública de Venda inicial (IPO) na bolsa de Lisboa dentro de cinco a 10 anos, iniciativa que abrirá espaço para uma nova configuração da estrutura accionista. E pode abrir a porta à saída do Fundo de Resolução, ou seja, do sistema financeiro concorrente. O que levanta nova incógnita: quando chegar ao momento da dispersão das acções no mercado, será que estas podem ser revendidas em condições de os accionistas obterem ganhos?
Ao longo da sua extensa exposição, o Lone Star insiste no “envolvimento com Portugal”, onde tem investimentos na área dos centros comerciais e do imobiliário (Dolce Vita e Vilamoura). E compromete-se a dar anualmente novo crédito à economia portuguesa no valor de 6.000 milhões, sendo que 4.000 milhões se destinam a clientes empresariais e a PME, segmento que quer privilegiar. Em relação à actividade internacional, a única operação a preservar é o banco em Espanha de modo a permitir ao Novo Banco acompanhar as empresas exportadoras para aquele país.
Caso obtenha, como pretende, o controlo da instituição liderado por António Ramalho, o Lone Star garante que a conservará “independente” e assegura não ter planos na gaveta “para a partir ou consolidar”. E adianta que a intenção é desenvolver os activos na esfera do Novo Banco, uma estratégia que exemplifica com a exploração de um terreno na zona das Amoreiras, em Lisboa, sem avançar com detalhes.
Contactados, alguns dos grupos portugueses convidados ainda desconheciam o teor da carta-convite que lhes foi endereçada.
Depois de nos últimos 12 meses ter aplicado “recursos significativos” para que fosse feita uma análise profunda quer do Novo Banco, quer dos seus activos e da sua viabilidade a longo prazo, o fundo norte-americano destaca os “custos consideráveis” que teve para realizar a due diligence e conceber o plano de negócios. O que o leva a concluir que o projecto passa por permanecer durante muitos anos no banco presidido por Ramalho, que convidou para se manter em funções, pois acredita que Portugal tem “boas perspectivas macroeconómicas a longo prazo”.