Trudeau rejeita dar “sermão” a Trump por causa da imigração
Presidente norte-americano elogiou relações comerciais com o Canadá e disse tratar-se de uma situação totalmente diferente do México.
Muito havia a separar o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, mas no seu primeiro encontro foi das afinidades que preferiram falar. Ambos concordaram na importância de manter as relações comerciais, com Trump a reconhecer que a dureza que tem aplicado ao México não se repete com o Canadá.
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Muito havia a separar o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, mas no seu primeiro encontro foi das afinidades que preferiram falar. Ambos concordaram na importância de manter as relações comerciais, com Trump a reconhecer que a dureza que tem aplicado ao México não se repete com o Canadá.
Em antecipação da visita de Trudeau a Washington, a generalidade dos media sublinhou as acentuadas diferenças, de estilo e conteúdo, entre os dois líderes que se encontraram na Sala Oval da Casa Branca. Trump é definido por uma linguagem truculenta e pouco diplomática, enquanto Trudeau foi eleito usufruindo de uma imagem de abertura e simpatia. Houve até quem contrastasse a apetência para o desporto do primeiro-ministro canadiano, que pratica surf, boxe e yoga, com o sedentarismo do Presidente americano, praticante de golfe e cuja dieta é feita à base de fast food.
Mas é nas políticas de um e outro que as diferenças são mais óbvias. Quando Trump anunciava a proibição de entrada de imigrantes de sete países muçulmanos e a suspensão do acolhimento de refugiados, Trudeau declarou que o Canadá estava disponível para receber “aqueles que fogem da perseguição, do terror e da guerra”. Desde o final de 2015, o Canadá recebeu mais de 40 mil refugiados sírios.
Ao lado de Trump, o líder canadiano reafirmou os “valores” de abertura e integração do seu país, mas acrescentando sempre o factor “segurança” à equação. “Segurança e imigração têm de trabalhar juntas”, declarou.
Pressionado pelos jornalistas a tomar uma posição sobre as políticas restritivas de imigração de Trump, Trudeau recusou dar um “sermão” ao seu homólogo, embora reconhecendo algumas divergências. “A última coisa que os canadianos esperam de mim é que venha aqui para dar um sermão a outro país sobre como escolheram governar-se”, disse Trudeau.
“As relações entre vizinhos são complexas, nunca são perfeitas, mas os EUA e o Canadá serão sempre os parceiros mais importantes”, afirmou.
“Este encontro serve mais para evitar imprevistos do que para tentar negociar alguma das grandes questões”, dizia à Reuters o especialista em sondagens Nik Nanos, ainda antes da visita. Do ponto de vista de Trudeau, trata-se “definitivamente de uma política de agir de forma discreta”, acrescentou.
Trump voltou a defender a medida controversa – que se encontra num impasse após várias decisões judiciais contrárias – dizendo tratar-se de “bom senso”. “Não vamos permitir que o nosso país tenha os mesmos problemas que outras partes do mundo”, disse Trump, numa referência aos atentados terroristas ocorridos em países europeus como a França ou a Bélgica.
"Aprimorar" relações comerciais
No topo da agenda do líder canadiano estava o comércio entre os dois países. Trump não esconde que quer uma renegociação do acordo de comércio livre entre os EUA, Canadá e México (NAFTA, na sigla inglesa), que considera injusto. Trudeau reconheceu que a hipótese de uma reconfiguração do tratado comercial “preocupa” os canadianos. Mas Trump quis deixar a garantia de que não é o comércio com o Canadá que é o seu alvo.
As relações comerciais com o vizinho do Norte estão numa “situação muito menos grave do que na fronteira Sul”, afirmou o Presidente norte-americano, garantindo que pretende “aprimorar” as relações existentes embora já as considere “extraordinárias”.
Trump sabe que o Canadá não é o México. Cerca de três quartos das exportações canadianas têm o Sul como destino e o Canadá é o principal parceiro comercial de mais de três dezenas de estados norte-americanos, lembra a AFP. Quando Trump exige uma renegociação do NAFTA, é no México e no défice comercial que os EUA têm com o vizinho do sul que está a pensar.
Trump, que chegou a referir-se ao México como um “assassino de empregos”, nunca adoptou uma retórica tão dura em relação ao Canadá. Fontes do Governo de Otava diziam recentemente que os casos dos dois países eram totalmente diferentes, dando a entender que as relações comerciais entre os EUA e o Canadá poderiam permanecer quase intactas.
Ao contrário das suas visitas anteriores, em que foi recebido por Barack Obama, com quem estabeleceu uma boa relação, Trudeau encontrou em Trump um líder diferente, tanto em termos pessoais como ideológicos. Apesar da mudança, o líder canadiano demonstrou esperar que, no fim do dia, as relações entre os países que partilham a mais longa fronteira terrestre do planeta se mantenham saudáveis.