O mistério da linha Aveiro – Mangualde
O mais caro de todos os projectos, que representa um quarto do Ferrovia 2020, é a construção de uma linha nova entre Aveiro e Mangualde que está orçada em 675 milhões de euros. Um projecto que foi já chumbado por Bruxelas por a sua taxa de rentabilidade ser negativa, mas que o Governo insiste em candidatar novamente ao CEF (Connecting Europe Facility) ainda durante o mês de Fevereiro.
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O mais caro de todos os projectos, que representa um quarto do Ferrovia 2020, é a construção de uma linha nova entre Aveiro e Mangualde que está orçada em 675 milhões de euros. Um projecto que foi já chumbado por Bruxelas por a sua taxa de rentabilidade ser negativa, mas que o Governo insiste em candidatar novamente ao CEF (Connecting Europe Facility) ainda durante o mês de Fevereiro.
“O governo considera importante a construção deste troço, de forma a reforçar as ligações neste eixo do país e a potenciar o hinterland dos portos nacionais”, disse ao PÚBLICO fonte oficial do Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, sem explicar, porém, que alterações foram feitas ao projecto para que este possa agora ser aprovado, beneficiando assim de 405 milhões de euros de fundos comunitários.
Em ano de eleições autárquicas pretende-se manter assim o sonho de um linha nova que é “filha” do plano ferroviário de 2003 quando foi apresentado o TGV Aveiro – Salamanca.
O investimento não é pacífico e a própria Infraestruturas de Portugal tem um estudo no qual fundamenta que o investimento na reabertura da linha do Douro para Espanha seria mais barato do que construir o Aveiro – Mangualde (para além de esta ser uma ligação mais curta do Porto a Salamanca, Madrid e fronteira francesa).
Miguel Lisboa, da administração da Takargo, a empresa ferroviária de mercadorias do grupo Mota Engil, diz que não vê interesse nesta ligação a menos que hinterland de Aveiro se expandisse ao ponto de justificar aquele investimento. Em sua opinião, bastaria a linha da Beira Alta modernizada para permitir um bom escoamento do tráfego de mercadorias.
A própria Beira Alta está hoje subaproveitada pois apenas lá passam seis comboios de carga por dia, o que levanta dúvidas sobre a oportunidade de construir uma nova infraestrutura de 675 milhões de euros para tão pouca procura.