Hipnose coletiva nacional
Chega, chega, chega. Estou farto! E não me venham dizer que é azedume pelo PSD, o meu partido, não estar no governo. Nada disso. Sou daqueles que, desde o início, disse que a solução geringonça era legítima, especialmente quando durante a campanha eleitoral Costa foi dando sinais de que essa construção política era possível. Só não percebeu quem não quis. E os portugueses votaram e são soberanos. Mas para mim, chega. Estou farto de não poder dizer o que precisa de ser dito sem que logo apareçam os do costume a acusar-me de estar a chamar pelo diabo.
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Chega, chega, chega. Estou farto! E não me venham dizer que é azedume pelo PSD, o meu partido, não estar no governo. Nada disso. Sou daqueles que, desde o início, disse que a solução geringonça era legítima, especialmente quando durante a campanha eleitoral Costa foi dando sinais de que essa construção política era possível. Só não percebeu quem não quis. E os portugueses votaram e são soberanos. Mas para mim, chega. Estou farto de não poder dizer o que precisa de ser dito sem que logo apareçam os do costume a acusar-me de estar a chamar pelo diabo.
Estou farto de ver alguns a enganarem todos, passando um atestado de estupidez coletiva ao nosso povo.
Estou farto de ver supostos salvadores a hipotecarem as nossas (já ténues) perspetivas de construirmos um país coeso, sustentável e credível.
Vivemos tempos diferentes, em que o preconceito, o descaramento e a falta de jeito se sobrepõem à ética republicana e à vontade de servir Portugal.
Vale quase tudo para passar a imagem de que tudo vai bem.
A flauta mágica faz o resto.
Os recibos de salário são maiores e passam a falsa aparência que nos bolsos dos portugueses há mais dinheiro no início do mês. O problema é que os combustíveis estão mais caros, os juros subiram e há mais impostos para todos. Contas feitas, o mais do início é menos do fim. Ninguém diz nada.
Pagamos juros acima dos 4%, pisando a barreira diabólica para a única agência de rating que nos permite manter a cabeça fora de água nos mercados. As outras, ditas “grandes”, do lixo não nos tiram e não há perspetivas que nos anos mais próximos o venham a fazer. Mas ninguém diz nada.
Temos um governo minoritário, de foguetório e navegação à vista, completamente manietado pela esquerda radical e irresponsável, incapaz de reformar o país ou sequer de ter uma ideia de conjunto para Portugal. Estamos a cavar a sepultura do país e ninguém vê? Mas que diabo, ninguém questiona, ninguém se importa? Os analistas andam a analisar o quê? E os comentadores andam a comentar o quê?
Jovens turcos, Galamba&Companhia, sentados no banquete do poder e já embriagados pela demagogia que eles próprios transformaram em doutrina, fazem dos portugueses cobaias nos seus testes de ideologia laboratorial e aplicam em Portugal as mais esdrúxulas soluções económicas e sociais. É gente que não sabe o que faz e que põe em causa o nosso futuro.
Esta jovem trupe, das pseudotertúlias intelectuais da elite do Bairro Alto, está hipnotizada pela flauta mágica do primeiro dos anciões, do homem que lidera o projeto de renovação da utopia dos idos 60, trazendo para o seculo XXI o ideário de uma sociedade sem classes onde o Estado garante tudo a todos.
E a flauta funciona mesmo e com (quase) toda a gente. Senão vejamos: o que seria se Pedro Passos Coelho não viesse às cerimónias fúnebres do dr. Soares? Aqui-d’el-rei que o insensível, o desumano e desprovido de coração coloca o formalismo de uma viagem à Índia à frente da homenagem a um dos grandes da nossa história. Fora Passos Coelho!
Estes hipnotizadores de feira de província, encantadores de serpentes de segunda categoria, querem nacionalizar bancos e até conseguem que alguns ditos sociais-democratas os acompanhem numa incompreensível unanimidade que só tem de facto explicação pela utilização de pós de perlimpimpim.
Estarei enganado, ou não foi o PSD o motor das mais importantes revisões constitucionais que, primeiro, tiraram os militares da governação, depois abriram a economia, privatizando os bancos e, por último, libertaram a comunicação social do monopólio público? Será que os que agora pedem a nacionalização não são os mesmos que ajudaram a trazer Portugal para o abismo?
E as PPP dos hospitais: constato que o Hospital de Braga foi considerado a melhor unidade hospitalar do país; já Cascais nunca teve um hospital a trabalhar tão bem — sendo inclusivamente considerada a melhor maternidade de Portugal. E, pasmem-se, até o Tribunal de Contas vem dizer que estas PPP funcionam. Veremos qual é o plano do grande hipnotizador. Esperamos que não se façam concursos para inglês ver, impossíveis de materializar, e depois se diga que os privados, esses mauzões, não quiseram concorrer.
Quanto às escolas, só públicas. E nem pensar em dar a oportunidade de escolha aos pais ou aos próprios alunos. Quanto à TAP — que mau negócio o anterior Governo fez — reverta-se (ou pelo menos finja-se que se reverteu). Já no setor dos transportes, há que dizê-lo com todas a letras, os sindicatos são corresponsáveis pela dívida abismal deste setor. E o que faz o nosso Hamelin? Dá tudo o que os sindicatos pedem para manter os comunistas bem hipnotizados.
Continuam a desfazer o país a troco de um governo. Estou farto dos que são coniventes. Mas não vejo ninguém a oferecer um projeto de desenvolvimento estratégico para Portugal. Falta rumo e ambição.
A política não é tecnocracia desapaixonada. Portugal precisa de renovar quadros e construir novas elites, porque as atuais estão gastas e irreversivelmente contaminadas. Acima de tudo, precisamos coletivamente de eleger um desígnio nacional claro. Um em que todos se revejam e em que todos se motivem para construir um novo Portugal.