Autoridades de Espírito Santo acusam polícias de crime de revolta

Registam-se mais de 120 mortos em sete dias de protesto de famílias dos polícias que os mantém nos quartéis.

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Falta de policiamento deixou já mais de 120 mortos na cidade de Vitória PAULO WHITAKER/Reuters

As autoridades do estado brasileiro de Espírito Santo acusaram 701 elementos da Polícia Militar pelo crime de revolta. Os membros daquela força não podem fazer greve mas não saem para as ruas há sete dias por causa de um protesto dos seus familiares, que estão nas portas dos quartéis e os impedem de sair.

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As autoridades do estado brasileiro de Espírito Santo acusaram 701 elementos da Polícia Militar pelo crime de revolta. Os membros daquela força não podem fazer greve mas não saem para as ruas há sete dias por causa de um protesto dos seus familiares, que estão nas portas dos quartéis e os impedem de sair.

A falta de policiamento (é a Polícia Militar quem policia as cidades brasileiras) levou a uma onda de assaltos e violência que deixou já mais de 120 mortos – que as autoridades acreditam ser na grande maioria membros de grupos criminosos rivais.

As autoridades dizem que a paralisação é uma “greve branca” e começaram a fazer acusações judiciais, que seguirão agora para a fase de inquérito. Os agentes arriscam-se a expulsão da força e a penas de prisão até 20 anos.

O Espírito Santo é um de vários estados brasileiros com problemas para pagar salários de funcionários de serviços públicos essenciais devido às restrições impostas pelas políticas de austeridade do Governo federal. Os polícias dizem que não são aumentados há cinco anos e pedem ainda subsídio de risco, alimentação, e complemento por trabalho nocturno.

O Governo enviou um contingente militar para a capital, Vitória, mas os soldados estavam em poucos pontos da cidade e a violência manteve-se. O número de militares foi aumentado de dia para dia e esperava-se que chegasse a 3000 no fim de semana.

De resto, a capital do estado continuava paralisada. Comerciantes têm demasiado medo para abrir, os transportes públicos deixaram de funcionar depois de motoristas terem armas apontadas à cabeça, as escolas estão fechadas. As pessoas estão praticamente presas nas suas casas, com grupos de moradores a fazerem colectas para contratarem empresas privadas de segurança, e outros a organizarem-se em piquetes de vigilância para dissuadirem assaltantes.

Temia-se que os protestos dos familiares dos polícias se pudesse replicar noutros estados, com rumores nas redes sociais, desmentidos pelas autoridades e pela polícia, de que uma acção semelhante seria levada a cabo no Rio de Janeiro.

Esta sexta-feira alguns familiares de polícias militares no Rio foram protestar junto às portas de alguns quartéis. Segundo a imprensa brasileira havia protestos em 27 dos 45 batalhões, mas apenas em quatro locais os polícias não conseguiram sair para as rondas. Num dos locais, foi preciso usarem um escadote, mas conseguiram ultrapassar os familiares em protesto.

A Polícia Militar confirmou os protestos, mas disse que a situação estava controlada pois na maior parte das unidades as viaturas estavam a sair normalmente.

Para evitar problemas com os familiares em protesto, em algumas unidades a troca de turnos, refeições e abastecimento estavam a ser feitos na rua.

A possibilidade de protestos que afectassem a capacidade de policiamento no Rio deixou muitos habitantes da cidade de 12 milhões com medo de que a violência de grupos de tráfico de droga saísse das favelas para toda a cidade.