Turismo e petróleo não fazem parte da mesma equação
Por maiores que sejam os silêncios e as omissões, a opção de viabilizar as perfurações na costa vicentina é um retrocesso para o desenvolvimento local e para o sentido político da governação nacional.
As opções políticas devem ser fundamentadas e ser inteligíveis pelos cidadãos. A governação deve ser coerente com os compromissos políticos assumidos em matéria de grandes opções estratégicas nos programas eleitorais e de governo. Não faz sentido entronizar o turismo como vocação, colocá-lo como motor do crescimento económico e, ao mesmo tempo, ser complacente ou autorizar iniciativas incompatíveis com a sustentabilidade, a preservação ambiental e a valorização do território e da orla costeira.
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As opções políticas devem ser fundamentadas e ser inteligíveis pelos cidadãos. A governação deve ser coerente com os compromissos políticos assumidos em matéria de grandes opções estratégicas nos programas eleitorais e de governo. Não faz sentido entronizar o turismo como vocação, colocá-lo como motor do crescimento económico e, ao mesmo tempo, ser complacente ou autorizar iniciativas incompatíveis com a sustentabilidade, a preservação ambiental e a valorização do território e da orla costeira.
Há uma incompatibilidade evidente entre o esforço local de valorização do território e de afirmação do turismo de natureza, em complemento ao tradicional sol e praia, e a viabilização do primeiro furo em águas profundas, na bacia do Alentejo, ao largo de Aljezur e de todas as áreas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Há uma incoerência entre o investimento do Estado e das autarquias nos programas Polis ou as limitações impostas aos pescadores e aos mariscadores e a decisão de viabilizar a prospeção de petróleo num mar que queremos valorizar como pilar da nossa economia com equilíbrio e sustentabilidade.
Não cola com o preconizado investimento em energias limpas da Agenda para a Década ou com a adesão ao Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas e da Organização Mundial do Turismo, a eventual concretização da ameaça que impende sobre o Algarve e parte da costa alentejana.
ão colhem os argumentos de que no passado se fez muita coisa ou que se deixou de fazer. Estamos a falar do presente e do futuro. De um presente em que o turismo é uma alavanca fundamental para a economia do país, em que o Algarve e o Alentejo têm um papel importante na afirmação de Portugal como destino turístico. E de um futuro que se constrói com estratégias locais para as alterações climáticas, como fazemos em Loulé, com a requalificação e a preservação do território e com a sustentabilidade das opções políticas.
Quando se fala tanto de participação como um elemento fundamental para a dinamização da democracia representativa, não se pode desconsiderar a mobilização das 43 mil pessoas que participaram na audição pública sobre esta questão, a posição das autarquias locais e o amplo consenso social e político gerado na oposição às perfurações, que a recente posição da AMAL-Comunidade Intermunicipal do Algarve reforçou.
Como autarcas, próximos das populações e dos territórios, temos bem a perceção de que nunca é tarde para fazer o que é certo. Seja corrigir algum erro ou a orientação de uma medida de política, seja superar uma injustiça ou desigualdade.
Portugal está a dar cartas no turismo e quer continuar a crescer. Portugal está a dar cartas nas energias renováveis e nas opções sustentáveis que geram respostas limpas e sustentáveis para as necessidades da economia e das comunidades. Portugal está a marcar uma posição de liderança nas novas tecnologias, na inovação e na indústria 4.0.
Num momento em que são evidentes as marcas de uma atitude com os olhos postos no futuro, qual a razão para perturbar o esforço de afirmação do turismo com uma opção política por uma fonte de combustível fóssil?
Por maiores que sejam os silêncios e as omissões, a opção de viabilizar as perfurações na costa vicentina é um retrocesso para o desenvolvimento local e para o sentido político da governação nacional. Por muitas voltas que se procurem dar, turismo e petróleo não fazem parte da mesma equação.
Continuaremos firmes na concretização de uma estratégia de desenvolvimento local e regional, assente num turismo sustentável para o desenvolvimento, em que a preservação do mar, da orla costeira, da superfície terrestre e da natureza são parte integrantes da oferta turística do Algarve e da costa vicentina.
É esse o imperativo da construção de soluções sustentáveis: não decidir em função de opções retrógradas, sem futuro.