O consenso impossível em torno da expansão do metro do Porto
A Trofa, que continua a não ver linha ao fundo do túnel, tem o maior capital de queixa, mas várias vozes exigem mais investimento em Gondomar, Porto e Matosinhos.
Horas depois do anúncio das duas novas obras de expansão do Metro do Porto, o consenso que se vislumbrava na sala do conselho de administração da empresa, durante as declarações à imprensa, deu lugar a posições de descontentamento de quem ficou à margem destes investimentos de quase 290 milhões de euros. O concelho da Trofa, ganha em capital de queixa o inverso do que perdeu há década e meia, quando o comboio lhe foi retirado sem que, no seu lugar, surgisse o metro prometido.
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Horas depois do anúncio das duas novas obras de expansão do Metro do Porto, o consenso que se vislumbrava na sala do conselho de administração da empresa, durante as declarações à imprensa, deu lugar a posições de descontentamento de quem ficou à margem destes investimentos de quase 290 milhões de euros. O concelho da Trofa, ganha em capital de queixa o inverso do que perdeu há década e meia, quando o comboio lhe foi retirado sem que, no seu lugar, surgisse o metro prometido.
O presidente da Câmara da trofa prometeu “denunciar às instâncias europeias" o facto de os sucessivos governos terem cancelado a "prometida" extensão do metro do Porto até àquela cidade. “Se havia dinheiro para a extensão da Linha C até à Trofa, se a União Europeia fez chegar esse dinheiro via Governo - e em causa estão todos os governos até ao dia de hoje - onde é que foi gasto esse dinheiro? Vamos pedir para que as responsabilidades sejam averiguadas", disse à agência Lusa o presidente da câmara da Trofa, Sérgio Humberto, acusando o PS de "não gostar da Trofa".
Num breve momento da sua intervenção na terça-feira, na Metro, o ministro do Ambiente aludiu ao sentimento de injustiça vivido pelos trofenses desde a perda do comboio há quase 15 anos. Assumindo que a ligação por metro “não é rentável”, Matos Fernandes referiu estar a ser estudada uma alternativa e garantiu que a solução será construída e desenhada com a Câmara da Trofa. Mas o autarca considera que a população "merece e exige mais", estando "para muito breve" o envio de uma "denúncia às instâncias europeias", disse à Lusa.
"Está provado que o PS não gosta da Trofa e discrimina a Trofa. Votou contra a criação do concelho da Trofa [referindo-se à saída deste concelho em 1998 face ao vizinho Santo Tirso] e quando anularam o concurso era primeiro-ministro José Sócrates, secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, e presidente da câmara da Trofa Joana Lima [PS]. Hoje um Governo liderado pelo PS assumiu que com eles que o metro até à Trofa não vem", descreveu Sérgio Humberto.
O autarca eleito pelo PSD tem, nas críticas à decisão de não se construir metro no concelho, o apoio do PCP, cuja organização distrital considera-a "particularmente negativa", e também da estrutura local do PS. "O PS Trofa continua a defender a expansão da linha de metro até ao centro da cidade da Trofa, por uma questão de justiça para com as populações, mas também pelo posicionamento estratégico para a Região. Demonstrámos esta convicção nos órgãos autárquicos, nos órgãos do PS e junto do Ministro", lê-se numa nota à imprensa da concelhia liderada por Marco Ferreira.
De Gondomar, e contrariando o optimismo do autarca socialista Marco Martins, que se mostrou satisfeito com a inclusão da sua nova proposta de ligação da sede do concelho ao Estádio do Dragão num lote de três linhas que a Metro está incumbida de avaliar, surgem vozes críticas ao adiamento deste investimento. O PCP “considera inaceitável que a ligação ao centro de Gondomar não só não seja considerada no imediato, como não seja perspectivada a sua construção num horizonte razoável” e acusa o presidente de Câmara de tentar disfarçar a passividade do município com “um hipotético novo traçado”, que descrevem como um “fait divers”.
Já o geógrafo Rio Fernandes, catedrático da Universidade do Porto e militante do PS em Gondomar, considera uma injustiça o adiamento para lá de 2020 desta ligação a Oriente que, como insiste o município, serve uma zona deprimida do concelho do Porto, também. “Diz-se que há estudos que suportam a decisão, inacessíveis sabe-se lá porquê, perante os quais os políticos encolheram os ombros – ou pior! –, achando por bem que Cerco, Ilhéu e Lagarteiro persistam como “ilhas de desespero”, a urbanidade entre Gondomar e Porto continue por se fazer e Valbom e S. Cosme, onde a maioria trabalha, estuda e faz compras no Porto, fiquem ainda mais à margem do desenvolvimento”, queixa-se o académico num artigo de opinião no Jornal de Notícias.
Se para uns um estudo é pouco, noutros outros, fez soar as campainhas. A Câmara Municipal de Matosinhos espera “que o anúncio de que vão ser estudadas três novas linhas (para além daquelas que a Metro do Porto já estudou anteriormente) não sirva para adiar outra vez, e 'sine die', a criação de uma nova ligação a Matosinhos, a qual, recorde-se, também servirá um importante conjunto de núcleos residenciais da cidade do Porto", sustenta o presidente da Câmara.
O independente Eduardo Pinheiro acredita que, "dada a importância da expansão do Metro para a coesão de todo o Grande Porto, este investimento será discutido com profundidade e de modo sério, não podendo nem devendo ser utilizado como mera arma de arremesso político ao sabor do calendário eleitoral que se avizinha". Mas por via das dúvidas exigiu, em comunicado, que o Governo estabeleça um "cronograma claro para a concretização" da ligação do Metro do Porto entre a Casa da Música e Matosinhos-Sul, apontada, nos planos de uma segunda fase apresentados em 2011, como "uma das que mais utentes acrescentará à rede".
O adiamento desta outra ligação – que como todas as restantes, com estudos mais ou menos adiantados, não tem prazo nem financiamento garantido durante a vigência do actual quadro comunitário de apoio – mereceu também uma reacção do PSD-Porto. A concelhia criticou o autarca Rui Moreira por, enquanto cidadão, ter andado a defender a opção por esta ligação em detrimento da Linha da Boavista para, agora, dizem, a deixar cair, numa posição “submissa”, acusam.
É "lamentável que Rui Moreira se resigne à construção de uma segunda linha, que não consideramos prioritária, para a Baixa do Porto, em detrimento da prometida e consensual Linha do Campo Alegre, essencial para aliviar o trânsito caótico da zona ocidental da cidade, ou mesmo da expansão da linha amarela do Hospital de São João para a Areosa - com ligação à linha laranja no Parque Nascente", refere o PSD num comunicado em que não deixa de considerar, ainda assim, que o investimento anunciado “é uma boa notícia”. Com Lusa