Adeus ao grande ulmeiro da Gulbenkian
Árvore que marcava a entrada da fundação há mais de 50 anos não resistiu a uma doença que tem dizimado a espécie.
A Fundação Calouste Gulbenkian despediu-se esta quarta-feira de uma árvore tão antiga quanto a instituição, cuja copa verdejante sobressaía mal se entrava no recinto pela Avenida de Berna. O grande ulmeiro não resistiu a uma doença “para a qual ainda não existe nenhum tratamento eficaz”, a grafiose, informou a fundação em comunicado.
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A Fundação Calouste Gulbenkian despediu-se esta quarta-feira de uma árvore tão antiga quanto a instituição, cuja copa verdejante sobressaía mal se entrava no recinto pela Avenida de Berna. O grande ulmeiro não resistiu a uma doença “para a qual ainda não existe nenhum tratamento eficaz”, a grafiose, informou a fundação em comunicado.
Com a morte desta árvore, o jardim da Gulbenkian passa a ter apenas um ulmeiro tão antigo. Esse, plantado mais perto da entrada do museu, não está doente, explicou ao PÚBLICO uma fonte oficial da fundação.
A grafiose do ulmeiro é um fungo que se espalha pelas árvores através de escaravelhos que nelas depositam os ovos. Quando o fungo se instala, a árvore tenta defender-se lançando um melaço, mas isso acaba por bloquear os vasos que transportam os elementos essenciais à fotossíntese. Assim, lentamente, o ulmeiro vai sucumbindo: primeiro as folhas das pontas, depois os troncos.
Pedro Lérias, biólogo e organizador de visitas guiadas às árvores de Lisboa, acredita ser "praticamente inevitável" que os ulmeiros de origem europeia, como os do jardim da fundação e a maioria dos que existem em Portugal, morram com esta doença. "Os ulmeiros europeus são sensíveis ao fungo. Basta que a árvore seja infectada uma vez e, a partir daí, não há nada a fazer", acrescentou.
Se a luta contra a doença é praticamente impossível, prevenir o seu aparecimento também é "muito difícil". "Por muitas armadilhas que se ponham, é uma luta inglória tentar impedir a propagação de um fungo natural", diz o especialista. Pedro Lérias encara apenas a possibilidade de serem plantadas estirpes (variedades da espécie) de ulmeiros naturalmente imunes à doença ou que se espere pelo momento em que a evolução da doença dita o seu próprio fim.
Já na década de 80, quando a grafiose chegou a Portugal, os ulmeiros do jardim da Gulbenkian tinham sido afectados por esta doença, o que “dizimou” uma mata que ali existia, refere o comunicado. Sobraram poucos exemplares. “Em Lisboa são das poucas que ainda existem, fruto do cuidado e dedicação que a equipa de jardinagem lhes dispensa, mas a idade e a poluição atmosférica não ajudam”, acrescenta o documento.
Segundo a fonte da fundação contactada pelo PÚBLICO, a terra onde estava plantado o grande ulmeiro vai agora ser limpa cuidadosamente para tentar garantir que o fungo não continua por lá. Depois será plantado um ulmeiro jovem, com a esperança que dure tanto ou mais como aquele a que a Gulbenkian disse agora adeus.