Teresa Villaverde leva a Berlim filme Colo sobre uma geração desamparada
Só o facto de “estar em competição em Berlim é mesmo extraordinário”, disse a realizadora à agência Lusa.
Mais de duas décadas depois, a realizadora Teresa Villaverde volta ao Festival de Cinema de Berlim, desta vez com Colo, filme sobre uma geração que não soube reagir à crise, como contou à agência Lusa.
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Mais de duas décadas depois, a realizadora Teresa Villaverde volta ao Festival de Cinema de Berlim, desta vez com Colo, filme sobre uma geração que não soube reagir à crise, como contou à agência Lusa.
O festival começa esta quinta-feira, mas Colo fará a estreia mundial no dia 15, integrado na competição oficial. É um regresso de Teresa Villaverde a um festival onde, em 1991, apresentou a longa-metragem de estreia, A Idade Maior.
Hoje com 50 anos e mais de 10 filmes, Teresa Villaverde mostra uma ficção que se centra numa família de classe média a desmoronar-se: uma filha adolescente, um pai desempregado e uma mãe que se divide por vários empregos.
“Apesar de este filme não ser sobre a situação portuguesa, inclui também isso e tudo o que eu senti que se passou nestes últimos anos”, contou a realizadora.
No filme está representada uma geração - a da própria realizadora - “que não estava preparada para que lhe acontecesse uma coisa deste tamanho; é a geração em Portugal que era criança no 25 de Abril, foi sempre tudo melhorando e sentia que o seu futuro estava garantido”.
Protagonizado por Beatriz Batarda e João Pedro Vaz, Colo é um filme com pouca esperança, sobre “sociedades exaustas” e sobre “a ideia do direito à felicidade, uma coisa de que praticamente já nem se fala”, disse.
São personagens desamparadas, vítimas de um problema de comunicação: “Estão nitidamente perdidos, sem colo e sem saber sequer onde é que hão-de procurar esse colo e resolver as coisas. E eu, que estou a olhar para eles, também não sei o que lhes hei-de dizer. O filme é muito isso”, descreveu a realizadora.
Teresa Villaverde volta ainda a mergulhar na adolescência, numa linha narrativa paralela, a partir da relação da filha adolescente com os amigos.
“Interessa-me saber o que acontece à relação entre os pais e os filhos quando de repente os filhos adolescentes olham para os pais... uns passaram a ver os pais como falhados, que não cumprem a sua função, outros começaram a ver os pais deprimidos e começaram a ser pais dos seus pais”, sublinhou.
O filme apresenta os jovens actores não profissionais Alice Albergaria Borges, Tomás Gomes e Clara Jost: “Fiz um casting aberto, mas aquele grupo daqueles três adolescentes são amigos na realidade e isso facilitou-me muitíssimo o trabalho. Fui buscar muitas coisas a eles”.
Clara Jost, filha de Teresa Villaverde, estuda realização, mas tem presença em Berlim como actriz em dois filmes, ambos em competição, em Colo e em Coup de Grâce, de Salomé Lamas.
Colo, ainda sem estreia comercial prevista para Portugal, é o segundo filme em que Teresa Villaverde assume o papel de produtora de si mesma. Enquanto estreia este em Berlim está já a trabalhar na investigação e escrita do próximo, também de ficção.
Nascida em Lisboa em 1966, trabalhou com João César Monteiro, José Álvaro Morais e João Canijo antes de se estrear como realizadora nos anos 1990.
É da mesma geração de realizadores como Pedro Costa e João Pedro Rodrigues, que também tem feito um percurso premiado e reconhecido por festivais internacionais. Três irmãos (1994) teve estreia mundial em Veneza, Os mutantes (1998) e Transe (2006) estrearam-se em Cannes, por exemplo.
Sobre Colo, Teresa Villaverde não quer pensar se há ou não hipótese de ser premiado. Só o facto de “estar em competição em Berlim é mesmo extraordinário”.