Um método matemático para prever melhor quando começa a época de gripe
Trabalho foi desenvolvido no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras.
Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, criaram um novo método que consegue antecipar num mês o alerta oficial de início da epidemia da gripe, permitindo melhorar a resposta das unidades de saúde. O trabalho foi publicado na revista científica PLoS Computational Biology.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, criaram um novo método que consegue antecipar num mês o alerta oficial de início da epidemia da gripe, permitindo melhorar a resposta das unidades de saúde. O trabalho foi publicado na revista científica PLoS Computational Biology.
O método consiste num modelo matemático e computacional que cruza dados de diferentes fontes de informação, possibilitando calcular a probabilidade do começo do surto quando há mudanças no número de casos.
Na Europa, o Centro Europeu de Controlo de Doenças é o organismo oficial responsável pela monitorização da gripe: “Esta entidade emite relatórios semanais, com o número estimado de casos de gripe na população, baseados na informação recolhida por médicos-sentinela. Apesar de ser um mecanismo de vigilância muito eficiente, este sistema tem limitações conhecidas e leva a um inevitável atraso entre o início efectivo da epidemia sazonal e a sua detecção”, refere um comunicado de imprensa do IGC, que sublinha que anualmente a gripe sazonal causa entre três a cinco milhões de casos grave e até meio milhão de mortes em todo o mundo.
Por isso, o método de vigilância usado nos países europeus, incluindo Portugal, apenas permite declarar o surto de gripe sazonal depois de, nomeadamente, terem sido confirmados laboratorialmente casos suspeitos reportados por médicos, com o alerta a ser dado “com alguma frequência” após o pico da infecção, frisa à agência Lusa Joana Gonçalves Sá, investigadora do IGC e coordenadora do trabalho.
Para Portugal, o modelo matemático e computacional criado pelos cientistas do IGC acrescenta aos dados oficiais (como a taxa de incidência da gripe e o número de casos suspeitos transmitidos pelos médicos e confirmados em laboratório) informações provenientes das pesquisas feitas no motor de busca Google para o termo “gripe” e seus sintomas e das chamadas para a linha telefónica de triagem Saúde 24.
Ao calcular a probabilidade de início da epidemia gripal, quando o número de casos começa “a aumentar de uma forma mais consistente”, o novo método permite antecipar os alertas oficiais e melhorar a resposta dos serviços de saúde no pico da infecção, nota Joana Gonçalves Sá, que é coordenadora do Grupo de Ciência e Política do IGC. Quando os alertas oficiais são emitidos, sublinhou ainda a investigadora, os hospitais estão em dificuldades, com as urgências sobrelotadas, porque não tiveram tempo para se preparar, reforçar as equipas de médicos e enfermeiros, vagar quartos, encomendar medicamentos.
A equipa analisou dados de vários países europeus e utilizou o seu novo método para mostrar que pelo menos em oito países – Bélgica, Espanha, Hungria, Irlanda, Itália, Noruega, República Checa e Portugal – é possível antecipar os alertas oficiais em várias semanas, refere ainda o comunicado de imprensa.
O novo método poderá ser usado em vários países como complemento ao método de vigilância em vigor para a gripe, e servirá, de acordo com os seus autores, para antecipar o começo de outros surtos sazonais, como o da febre de dengue ou as ondas de calor, ao cruzar igualmente dados de diferentes fontes de informação.