Morreu Hans Rosling, o homem “que fazia os números cantar e sorrir”

O guru da visualização estatística tinha 68 anos.

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Hans Rosling DR

Era quase sempre apresentado como um guru da visualização estatística ou alguém capaz de tornar os números algo divertido. Ou, como escreve o Guardian, o homem que "fazia os números cantar". O académico, médico e estatístico sueco Hans Rosling morreu nesta terça-feira, aos 68 anos, anunciou o filho, Ola, no Twitter.

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Era quase sempre apresentado como um guru da visualização estatística ou alguém capaz de tornar os números algo divertido. Ou, como escreve o Guardian, o homem que "fazia os números cantar". O académico, médico e estatístico sueco Hans Rosling morreu nesta terça-feira, aos 68 anos, anunciou o filho, Ola, no Twitter.

“Infelizmente, o Hans morreu hoje”, escreveu Ola Rosling, na conta de Twitter do pai. “Mas não vamos deixar morrer o seu sonho de uma visão do mundo baseada em factos”. Há um ano foi-lhe diagnosticado cancro no pâncreas, diz a BBC. 

Médico e professor no Instituto Karolinska, em Estolcomo, Hans Rosling era um apaixonado pelos números. “Tornou-se famoso em 2006 nas conferências TED em Monterey, quando usou o Trendalyzer, um gráfico em que bolas representando cada um dos países do mundo se vão movendo e mudando de tamanho, à medida que os anos passam, mostrando sempre a relação entre dois parâmetros, entre dezenas repartidos por áreas como população, saúde, educação, economia, ambiente, energia ou infra-estruturas. Esta ferramenta de visualização mostrou-se tão poderosa que no ano seguinte foi comprada pelo Google”, como lembrou o jornalista Ricardo Garcia, numa conversa com o sueco publicada em 2014, quando esteve em Portugal para o Congresso Mundial da Água.

“Hans Rosling dava aos números um significado. Contava histórias de uma forma única. Ela conseguia contar histórias com números”, diz ao PÚBLICO  David Lopes, director-geral da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), que o trouxe a Portugal em 2015 para uma grande conferência.

“Os números com ele tinham vida. Não só os fazia cantar, como sorrir”, acrescenta David Lopes, lembrando “o extraordinário sentido de humor” de Hans Rosling. “Nas suas conferências, ele era capaz de algo fora do comum, como usar uma vara do atletismo em vez do ponteiro ou utilizar rolos de papel higiénico para mostrar evolução da população mundial”, conta ainda o director-geral da FFMS.

Em 2005, Hans fundou a Gapminder, uma organização sem fins lucrativos com o objectivo de promover o desenvolvimento sustentável. A organização inicialmente dedicou-se a desenvolver um programa de computador que pudesse “revelar a beleza das séries estatísticas, convertendo números enfadonhos em gráficos animados, interactivos e aprazíveis”, na descrição da própria Gapminder.

Em 2012, foi considerado uma das pessoas mais influentes do mundo pela revista Time, tendo aconselhado políticos, como Al Gore, executivos de empresas de tecnologia e líderes de organizações de solidariedade, lembra ainda a BBC. Foi consultor da Organização Mundial da Saúde, da UNICEF e fundou os Médicos sem Fronteiras na Suécia, como já destacava o PÚBLICO no texto publicado em 2014.

David Lopes recorda também a ligação especial de Hans Rosling a Portugal, porque falava português, uma língua que aprendeu em Moçambique, onde “ajudou a montar o Serviço Nacional de Saúde” entre 1979 e 1981. “Era um grande conhecedor e um grande amigo do nosso país”, sublinha o director-geral da FFMS, dando exemplos dessa conferência de 2015.

“Ele alertou para um paradoxo português. Tivemos uma evolução enorme na esperança média de vida e, ao mesmo tempo, somos do ponto de vista económico um país frágil”, conta David Lopes, prosseguindo. “Tentou interpretar estes dados e disse: ‘ou vocês têm um estilo de vida extraordinário, com o clima e a gastronomia a ajudarem, ou então têm um Serviço Nacional de Saúde muito bom. Ou então são as duas coisas’”, recorda David Lopes, acrescentando que a resposta é mesmo “as duas coisas”.

Sublinhando que Hans Rosling também deixou um outro alerta sobre o caso português – “a nossa taxa de fecundidade é uma das mais baixas do mundo e ele deixou um aviso de bastante preocupação” – David Lopes não hesita em responder que a obra e visão deste estatístico sueco terão continuidade, um pouco por todo o mundo.

“A própria missão da Fundação Francisco Manuel dos Santos tem essa premissa. É difícil discutirmos soluções para os nossos problemas se não nos basearmos em factos. E ele punha-nos a olhar para as coisas importantes”, sublinha David Lopes, lembrando que a Internet está cheia de bons exemplos que ilustram a “enorme capacidade de Hans Rosling para contar histórias”. Histórias com números. 

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