Uma reforma para hoje
A reforma da floresta não é para daqui a 30 anos, é para hoje, e não precisa de grandes intenções. Apenas que seja feita.
Sucessivos governos têm levado pouco a sério o facto de Portugal ser o único país na Europa que perdeu área florestal nos últimos 20 anos, apesar de muito clamarem contra o drama dos incêndios — parecendo não chegar a sítio algum. Pelo que foi a história das tentativas de reforma da floresta, é melhor não eliminar o risco de o plano do actual ministro da Agricultura poder ser mais um a juntar aos anteriores que ficaram pelo caminho.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Sucessivos governos têm levado pouco a sério o facto de Portugal ser o único país na Europa que perdeu área florestal nos últimos 20 anos, apesar de muito clamarem contra o drama dos incêndios — parecendo não chegar a sítio algum. Pelo que foi a história das tentativas de reforma da floresta, é melhor não eliminar o risco de o plano do actual ministro da Agricultura poder ser mais um a juntar aos anteriores que ficaram pelo caminho.
Capoulas Santos, que pediu um “pacto de regime” para a floresta, procurou o consenso político e parece tê-lo conseguido. Mas não serão os sinais políticos a mudar o que fazemos com a floresta. São os sinais económicos e, neste aspecto, o que o ministro tem dito é pouco. Admite-se a criação de um mercado de licenças de plantação para controlar a área de eucalipto, mas sem muito mais.
Se esta não for uma reforma contra o eucalipto, mas a favor do pinheiro, do montado de sobro e do carvalho, o que falta mesmo é o Governo anunciar medidas que incentivem o investimento e a mudança para estas espécies por parte dos proprietários das terras. O terreno é propício a demagogias do género “onde não se plantar eucalipto vai crescer mato”. Uma luta entre os interesses do eucalipto contra os do pinheiro e vice-versa equivale a dizer que, por aqui, o plano candidata-se ao mesmo destino dos seus antecessores.
Para se levar este assunto a sério desta vez, o Governo tem de ser o primeiro a mostrá-lo, com medidas eficazes. E, com isso, conseguir resolver outros aspectos: que o banco de terras funcione, sobretudo para as novas formas de organização agrícola e para as gerações mais novas, que o modelo de cadastro das propriedades seja adequado ao país, que as novas competências técnicas das câmaras para a gestão da floresta não sucumbam aos interesses económicos, como está a acontecer com a municipalização da gestão da Rede Ecológica Nacional. Ou seja, que tem respostas para o abandono da propriedade, o que equivale a dizer para os incêndios.
Em Novembro passado, António Costa foi à cimeira do clima em Marraquexe prometer um balanço zero de emissões de carbono para 2050. Para chegar a menos 85% das emissões de hoje, o país precisa da capacidade da floresta em fazer sumir carbono. Aos ouvidos dos cidadãos, 2050 é tão longínquo que não comove e a mudança climática, apesar das grandes intenções políticas, não é o centro das preocupações.
Embora Capoulas Santos tenha dito que o efeito das suas medidas será apenas visível dentro de uma geração, a reforma da floresta não é para daqui a 30 anos, é para hoje, e não precisa de grandes intenções. Apenas que seja feita.