Abuso sexual de crianças abala Igreja Católica na Austrália

Investigação concluiu que quase 4500 rapazes e raparigas foram abusados em mais mil instituições católicas, entre 1980 e 2015.

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As acusações nunca eram investigadas, denunciou Gail Furness, da comissão que está a investigar crimes sexuais contra crianças na Igreja Católica EPA/RCIRCSA/JEREMY PIPER

É mais um escândalo de abuso sexual de menores a abalar a Igreja Católica. Desta vez, na Austrália. As primeiras conclusões do inquérito que tem estado a ser conduzido pela comissão que investiga a resposta das autoridades aos casos de abuso sexual de menores concluiu que pelo menos 4444 crianças terão sido vítimas de crimes sexuais em mais de mil instituições católicas espalhadas pelo país, entre 1980 e 2015, noticia a BBC nesta segunda-feira.

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É mais um escândalo de abuso sexual de menores a abalar a Igreja Católica. Desta vez, na Austrália. As primeiras conclusões do inquérito que tem estado a ser conduzido pela comissão que investiga a resposta das autoridades aos casos de abuso sexual de menores concluiu que pelo menos 4444 crianças terão sido vítimas de crimes sexuais em mais de mil instituições católicas espalhadas pelo país, entre 1980 e 2015, noticia a BBC nesta segunda-feira.

A Royal Commission into Institutional Responses to Child Sex Abuse, criada em 2013, está a investigar acusações de abuso físico e sexual em dezenas de instituições australianas, incluindo escolas, clubes desportivos e organizações religiosas. Os relatos de casos de abusos sexuais de crianças por parte de membros do clero já eram conhecidos, mas a verdadeira dimensão do problema só se tornou pública nesta segunda-feira, com a divulgação dos primeiros números recolhidos pela comissão, que deverá publicar o relatório deste trabalho no final do ano. Até 27 de Fevereiro, a maioria dos bispos do país será chamada a testemunhar, noticia a agência EFE.

Os dados divulgados pela comissão indicam que pelo menos 7% dos padres católicos do país terão abusado de crianças entre 1950 e 2010. Numa das ordens religiosas – a St. John of God Brothers – mais de 40% dos padres foram acusados de abuso. As histórias das vítimas são “deprimentemente semelhantes”, relatou Gail Furness, a conselheira jurídica da comissão neste processo, na primeira sessão pública sobre esta investigação, em Sydney. “As crianças eram ignoradas ou, pior do que isso, castigadas”, disse a advogada. As alegações não eram investigadas e os padres, ou outros responsáveis religiosos, eram “transferidos para paróquias onde as pessoas desconheciam o seu passado”.

Segundo Gail Furness, as 4444 denúncias recolhidas apontam culpas a centenas de religiosos, 93 deles em altos cargos da Igreja. “Das 1880 pessoas identificadas como supostos abusadores, 597 eram irmãos religiosos, 572 eram sacerdotes, 543 eram laicos e 96 eram irmãs religiosas”, disse a conselheira principal da comissão, citada pela Globo. Cerca de 78% das denúncias vieram de homens e 22% de mulheres. A idade média das vítimas à data dos abusos era de 10,5 anos no caso das raparigas e de 11,5 anos no caso dos rapazes. Em média, cada situação de abuso demorou 33 anos até ser reportada.

Além da St. John of God Brothers, a comissão denunciou outras ordens onde os casos de abusos de crianças eram comuns. Em algumas, como é o caso dos Christian Brothers, dos Salesians of Don Bosco e dos Marist Brothers, mais de 20% dos responsáveis religiosos foram acusados de abusos nas seis décadas que se seguiram a 1950.

Os dados demonstram “um fracasso clamoroso” da Igreja Católica na protecção das crianças, afirmou Francis Sullivan, presidente do Truth Justice and Healing Council, o órgão que está a coordenar a resposta da Igreja ao inquérito. “Os números são chocantes, trágicos e não têm defesa”, afirmou Sullivan à comissão. “Como católicos, prostramo-nos com vergonha”, afirmou o responsável, citado pela BBC.

Este é um processo que tem sido seguido de perto pelo Vaticano. Antes de se ter tornado no principal conselheiro financeiro do Papa Francisco, o cardeal George Pell foi o responsável máximo da Igreja Católica, e já testemunhou em audições prévias na comissão sobre a forma como as autoridades religiosas lidaram com as suspeitas de abuso de crianças.