BE defende língua gestual portuguesa para alunos não surdos
Catarina Martins diz que a medida é para ser posta em prática no próximo ano lectivo e reclama grupo de recrutamento para estes professores.
O Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto, abriu este domingo uma excepção para que a visita guiada àquele espaço cultural da cidade fosse feita em duas línguas - a portuguesa e a gestual portuguesa, onde há uma infinidade de diferenças.
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O Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto, abriu este domingo uma excepção para que a visita guiada àquele espaço cultural da cidade fosse feita em duas línguas - a portuguesa e a gestual portuguesa, onde há uma infinidade de diferenças.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, tem dispensado grande atenção à língua gestual portuguesa e escolheu o Mosteiro de São Bento da Vitoria, considerado um dos edifícios religiosos mais importantes da cidade, para anunciar à comunidade surda que o BE tem vindo a preparar legislação para que as escolas de referência ensinem lingua gestual portuguesa também às crianças que ouvem já a partir do próximo ano lectivo.
No final de uma visita guiada, a dirigente do Bloco reuniu-se no bonito espaço que acolhe o centro de documentação para dar informações sobre o trabalho que o partido tem vindo a fazer no sentido de melhorar a resposta à comunidade surda. Mas antes disso, fez o enquadramento da visita, na qual participou também o deputado José Soeiro.
“Nós, Bloco, fomos convidados há já algum tempo pela Laredo para virmos conhecer o trabalho que esta Associação Cultural faz e esta visita enquadra-se no trabalho que temos feito com a comunidade surda e sobre como é que tornamos presente a língua gestual portuguesa - uma das três línguas que Portugal tem”, declarou.
“Com o debate na Assembleia da República, com os projectos que apresentamos, com o que está neste momento a ser trabalhado, temos toda a expectativa que avancem duas coisas que são muito importantes para esta comunidade: uma é que as escolas de referência [onde há alunos surdos] ensinem a lingua gestual portuguesa também às crianças ouvintes, ou seja, que numa turma em que há crianças ouvintes e não ouvintes não aprendam só as não ouvintes”, explicou.
A outra proposta de lei tem a ver com a criação de um “grupo de recrutamento de professores de língua gestual portuguesa”. A deputada destaca a importância destes professores passarem a ter um grupo de recrutamento.
“Os professores de língua gestual portuguesa não têm grupo até agora, não têm nenhuma possibilidade de vinculação e, portanto, vivem numa situação de híper-precariedade que não permite depois desenvolver os projectos educativos nas escolas de uma forma continua e evolutiva”, sustentou, sublinhando que “naturalizar a presença da língua gestual portuguesa na cultura e na educação como as duas formas que nós teremos para uma cidadania plena da comunidade surda.”
Disse ainda que as propostas que foram apresentadas pelo seu partido estão a ter acolhimento na Assembleia da República e que estão a avançar. Quanto às negociações com o Governo nesta matéria, não hesitou em dizer que “correram bem”, daí que afirme: “Temos toda a expectativa que no próximo ano electivo haja duas novidades: a primeira é que nas escolas de referência as crianças ouvintes possam também aprender a língua gestual portuguesa, a segunda é que os professores de língua gestual portuguesa tenham um grupo de recrutamento”.
Ao PÚBLICO, Catarina Martins adiantou que há ainda um outro projecto que vai no sentido de que “seja possível numa primeira fase no âmbito das actividades de enriquecimento curricular que uma das opções que as escolas possam oferecer seja língua gestual portuguesa independentemente de ser escola de referência ou não”.
As visitas guiadas em língua gestual portuguesa no Mosteiro de São Bento da Vitória são uma iniciativa recente assumida pela direcção do Teatro Nacional de São João, que faz a gestão deste espaço, bem como do Teatro Carlos Alberto.
A visita, feita pela professora Joana Cottim, e pela intérprete Cláudia Braga, estendeu-se ao segundo andar, que no passado era ocupado pelos quartos dos monges beneditinos. Actualmente, o piso acolhe uma exposição permanente constituída por exemplos de cenografias e figurinos de peças que foram produzidas pelo Teatro Nacional São João. Existe também uma sala não muito grande para espectáculos, conferências e outras iniciativas.