Obama tinha plano para avançar sobre o Estado Islâmico em Raqqa, mas Trump colocou um travão
A anterior Administração americana passou meses a planear o ataque final ao bastião do Estado Islâmico na Síria e chegou à solução "menos má". A equipa de Donald Trump encontrou diversas falhas e procura alternativas.
Barack Obama planeou durante meses, juntamente com a equipa de segurança da sua Administração, o plano final para libertar definitivamente a cidade síria de Raqqa do autoproclamado Estado Islâmico. Depois de ter entregue a pasta a Donald Trump para a decisão final, o actual Presidente dos EUA apontou falhas na estratégia e rejeitou utilizá-la. A história é divulgada pelo Washington Post, que traz a lume os pormenores da preparação do plano pela Administração Obama e a posterior recusa da equipa do novo inquilino da Casa Branca.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Barack Obama planeou durante meses, juntamente com a equipa de segurança da sua Administração, o plano final para libertar definitivamente a cidade síria de Raqqa do autoproclamado Estado Islâmico. Depois de ter entregue a pasta a Donald Trump para a decisão final, o actual Presidente dos EUA apontou falhas na estratégia e rejeitou utilizá-la. A história é divulgada pelo Washington Post, que traz a lume os pormenores da preparação do plano pela Administração Obama e a posterior recusa da equipa do novo inquilino da Casa Branca.
Durante cerca de sete meses a equipa de Obama avaliou as hipóteses para desbravar caminho para o assalto final à capital do califado preconizado pelo Daesh, e de onde, acreditam os serviços de informação, o grupo planeia muitos dos ataques realizados fora da Síria. Foram feitas dezenas de reuniões, esboços de planos de batalhas e todas as possibilidades foram colocadas em cima da mesa. No final, sobrou aquele que era visto como o caminho “menos mau”: armar os combatentes curdos no Norte da Síria, dizem ao jornal americano fontes oficiais da antiga e actual Administração.
No entanto, e apesar de finalmente se ter chegado a uma conclusão, o tempo que demorou toda a deliberação criou um problema. A ordem teria de ser dada o mais rápido possível. E, por isso, no dia 17 de Janeiro, apenas três dias antes da tomada de posse de Trump, Obama instruiu o seu conselheiro para a segurança nacional que preparasse um relatório onde se explicavam os detalhes do plano para ser entregue à equipa do sucessor. Aí era até descrito a melhor forma de abordar o Presidente da Turquia, Recep Erdogan, que não veria com bons olhos a decisão – a Turquia encara os combatentes curdos como terroristas, e a sua eliminação é a prioridade número um para Ancara. Obama planeava falar sobre o assunto com Trump durante a viagem de limousine entre a Casa Branca e a cerimónia de tomada de posse do republicano.
Apesar disso, a equipa responsável pela segurança nacional de Trump considerou o planeamento insuficiente e rejeitou-o. Em concreto, a nova Administração considerava a abordagem escolhida demasiado incremental e que evitava o risco de tal maneira que o mais provável era falhar. “Eles providenciaram a informação, mas encontrámos enormes falhas”, afirmou uma fonte da equipa de Trump ao Washington Post que reviu o documento de Obama. “Foi um trabalho de pouca qualidade”, concluiu.
Ora, Donald Trump deixou claro, principalmente durante a campanha eleitoral, que iria utilizar uma abordagem diferente em relação ao Estado Islâmico, prometendo um ataque sem precedentes que acabaria de vez com a organização terrorista. Em reuniões com o grupo de conselheiros de segurança, o Presidente terá deixado o desejo de deixar o dossier do terrorismo nas mãos do secretário da Defesa, Jim Mattis. Assim, fica à responsabilidade de Mattis, e dos restantes responsáveis pela segurança, o desenho da estratégia a utilizar para derrotar os jihadistas. E essa poderá passar, como já sugeriu Trump, por uma maior coordenação com a Rússia de Putin e com o Presidente sírio Bashar al-Assad, ou, em último caso, pelo regresso à anterior opção identificada por Obama. Sendo certo, no entanto, que um possível regresso à estratégia do seu antecessor, obrigaria que a operação fosse adiada pelo menos um ano.
Talvez por isso, Donald Trump ordenou Mattis e o Pentágono para que lhe apresentassem todas as opções disponíveis, colocando todos os cenários possíveis.
Outro dos argumentos utilizado pela nova Administração foi o facto de, aparentemente, não existir qualquer alternativa ao plano de armar os curdos, para além de não se especificar o número de combatentes necessários nem a logística necessária para se proceder ao treino e preparação dos mesmos. “O que nos incomodava mais era que não existia plano B”, explica a fonte da equipa de Trump ao Washington Post. Mas uma fonte da anterior Administração diz ao mesmo jornal que estas críticas são infundadas e um sinal da “insegurança” dos actuais responsáveis militares norte-americanos. Isto porque, o documento também entregue ao conselheiro para a segurança de Trump, Michael Flynn, englobava um pacote com material suplementar. Mais do que isso, a mesma fonte diz que a estratégia de utilizar os combatentes curdos era já o Plano B. Isto porque o A tinha sido deixado de parte depois de meses de sensíveis avaliações e negociações com o Governo de Erdogan.
O Presidente turco encara os combatentes curdos como seu principal inimigo, sendo apoiados pelo maior opositor de Erdogan, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK, que é considerado também pelos EUA uma organização terrorista. As prioridades do Governo de Ancara eram até bastantes diferentes do que as de Washington. Para Erdogan, era urgente derrotar este braço armado do PKK, passando-se depois para o número dois na lista de objectivos: a queda de Assad. No terceiro lugar aparecia finalmente o Daesh.
Erdogan comprometeu-se diplomaticamente a utilizar as forças armadas turcas para invadir Raqqa. Algo que aconteceu mais do que uma vez ao longo de dois anos, até que o Pentágono deixou de considerar as garantias de Ancara fiáveis. Dessa maneira, avançou-se para a “menos má” das soluções: armar os curdos para tentar derrotar o Estado Islâmico no seu bastião.