Planos para entrar em bolsa desvendam segredos do Snapchat
Aplicação cujas fotografias desaparecem em poucos segundos tem 161 milhões de utilizadores diários. Empresa deu 515 milhões de dólares de prejuízo em 2016.
As fotografias partilhadas no Snapchat evaporam-se pouco depois de serem vistas, mas os números por trás da popular aplicação parecem muito mais sólidos.
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As fotografias partilhadas no Snapchat evaporam-se pouco depois de serem vistas, mas os números por trás da popular aplicação parecem muito mais sólidos.
A Snap, a empresa californiana dona do Snapchat, anunciou que pretende tornar-se uma empresa cotada na Bolsa de Nova Iorque, naquela que será provavelmente uma das grandes entradas em bolsa no sector tecnológico. A documentação que foi entregue ao regulador americano revela pela primeira vez detalhes financeiros da companhia.
Os números
- No final de 2016, ao Snapchat tinha 161 milhões de utilizadores activos diários (noutro ponto, o documento refere 158 milhões). O Facebook, por exemplo, tinha no final do ano passado 1,23 mil milhões. O Instagram – que é propriedade do Facebook e um concorrente directo do Snapchat – rondava os 400 milhões.
- Dos utilizadores diários, 69 milhões estão na América do Norte e 53 milhões na Europa.
- Em média, os utilizadores diários usam a aplicação 18 vezes por dia. Seis em cada dez partilham fotos diariamente.
- Graças a anúncios publicitários, cada utilizador rende 1,05 dólares (cerca de 98 cêntimos de euro).
- As receitas da Snap foram de 405 milhões de dólares (377 milhões de euros), um valor quase sete vezes superior à facturação de 2015. A empresa teve 515 milhões de dólares de prejuízo. É frequente este tipo de empresas passarem anos a dar prejuízos. O Twitter tinha as contas no vermelho quando entrou em bolsa, em 2013, e ainda não conseguiu inverter a situação. Mas o Facebook já registava mil milhões de dólares de lucro anual quando se tornou uma empresa cotada.
- A Snap disse que pretende obter três mil milhões de dólares com a entrada em bolsa, embora este valor seja meramente indicativo. O Facebook – numa operação que não arrancou bem – conseguiu 16 mil milhões.
Como funciona
O Snapchat é uma aplicação que permite ao utilizador partilhar fotografias ou pequenos vídeos com os respectivos contactos. O que o distingue de todas as outras redes sociais e aplicações do género é que as mensagens partilhadas no Snapchat têm um limite de tempo. Ou seja, quando se partilha uma fotografia ou vídeo via Snapchat com um amigo ou grupo de pessoas, o utilizador pode escolher o tempo durante o qual essa imagem permanece acessível pelo destinatário.
A duração máxima é de dez segundos. Contudo, nos casos em que as mensagens estejam a ser usadas para criar uma história – um conjunto de mensagens que pode ser visto por todos os amigos – a duração é de 24 horas. Se alguém quiser enganar o sistema ao guardar uma das fotografias recebida através de uma captura de ecrã, o utilizador que a enviou é notificado.
Para usar o Snapchat, o primeiro passo é fazer o download da aplicação e criar uma conta. Uma vez escolhido, o nome de utilizador não pode ser alterado, contrariamente ao que acontece no Twitter, no Instagram ou no Facebook.
Após tirar a fotografia, ou vídeo, é possível acrescentar filtros do Snapchat. São a outra grande imagem de marca da aplicação: as imagens dos amigos com orelhas de cão que surgem no Facebook vêm muitas vezes do Snapchat. Os vários ícones no canto superior direito do Snapchat permitem enfeitar a mensagem com emojis (desenhos de caras), data e hora, molduras, filtros de cores, ou texto personalizado. O tempo durante o qual a mensagem está disponível pode ser escolhido no icone do relógio circular no canto inferior esquerdo.
A história
O Snapchat segue o padrão de muitas das histórias de empreendedorismo dos EUA e não é muito diferente da do Facebook, alegações de traição incluídas.
A aplicação foi criada em 2011 por três estudantes da Universidade de Stanford, uma das instituições de elite dos EUA. A ideia de criar uma aplicação que permitisse partilhar temporariamente fotografias – um conceito que declaradamente encorajava o envio de fotos íntimas – partiu do actual presidente executivo, Evan Spiegel (hoje com 26 anos), e de Reggie Brown. O outro co-fundador é o actual director de tecnologia, Bobby Murphy (28 anos). Reggie Brown foi rapidamente afastado da empresa e saiu sem qualquer participação. Em 2013 processou o Snapchat, que alegou que Brown era um estagiário não remunerado. O caso acabou com um acordo extra-judicial que deu a Brown uma indemnização de 158 milhões de dólares e o reconhecimento público pelo seu trabalho na fase inicial do projecto.
Em Novembro do ano passado, e na sequência da aquisição de uma outra empresa, a Snap lançou os óculos Spectacles, que estão equipados com uma câmara e permitem enviar fotografias e vídeos para o Snapchat, a única aplicação com que podem ser emparelhados. No documento entregue ao regulador americano, a empresa descreve os Spectacles como o seu “mais recente esforço para reinventar a câmara”.