EUA respondem ao teste balístico iraniano com novas sanções contra Teerão
A ordem congela os bens e impede os contactos de norte-americanos com 12 entidades e 13 indivíduos. Irão desvaloriza "ameaças inúteis de uma pessoa inexperiente".
Dois dias depois de o conselheiro nacional de segurança da Casa Branca, Michael Flynn, ter posto o Governo de Teerão de “sobreaviso” para as consequências do seu ensaio balístico com mísseis de médio alcance, o departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou a aplicação de novas sanções financeiras contra o Irão.
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Dois dias depois de o conselheiro nacional de segurança da Casa Branca, Michael Flynn, ter posto o Governo de Teerão de “sobreaviso” para as consequências do seu ensaio balístico com mísseis de médio alcance, o departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou a aplicação de novas sanções financeiras contra o Irão.
A ordem abrange 12 entidades, entre as quais empresas sedeadas no Irão, Emirados Árabes Unidos, Líbano e China, e ainda 13 indivíduos, incluindo membros das Guardas Revolucionárias da República Islâmica, que as autoridades norte-americanas acusam de contribuírem para a proliferação de armas de destruição maciça ou de apoiarem e promoverem actividades terroristas. A partir desta sexta-feira, ficam congelados todos os seus bens e impedidos os contactos com os EUA.
“O Irão está a brincar com o fogo – parece que ainda não se deu conta de como o Presidente Obama foi ‘bonzinho’. Mas eu não”, tweetou o Presidente norte-americano, Donald Trump, provavelmente em resposta ao encolher de ombros do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano às ameaças de Michael Flynn após o teste militar do passado domingo. Mohammad Javad Zarif sublinhou que o seu Governo não tem “qualquer intenção” de accionar os seus meios militares contra nenhum país, excepto em “legítima defesa” no caso de ser atacado. “Não sabemos se aqueles que se queixam podem dar a mesma garantia”, retorquiu.
Apesar disso, o Irão anunciou que irá impor restrições legais a entidades e indivíduos norte-americanos que apoiam “grupos terroristas regionais”, cita a televisão estatal iraniana um comunicado do ministro dos Negócios Estrangeiros. Além disso, Teerão considera que as sanções aplicadas pelos EUA não são compatíveis com os compromissos americanos e com a resolução da ONU que deu o aval ao acordo nuclear entre o Irão e seis potências.
Esta sexta-feira, um dos conselheiros do Líder Supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, voltou a desvalorizar as acções de Washington e a retórica inflamada do Presidente Trump, garantindo que a República Islâmica não se impressionava com as “tiradas sem fundamento” nem cedia às “ameaças inúteis de uma pessoa inexperiente”. Ali Akbar Velayati repetiu as garantias de Zarif sobre a legalidade das acções militares de Teerão e lembrou que o Irão não precisa de pedir permissão aos EUA para desenvolver um programa de segurança interna.
Para muitos analistas, o ensaio militar serviu principalmente para Teerão testar a reacção do novo ocupante da Casa Branca, que em duas semanas de mandato se multiplicou em declarações e acções consideradas hostis pela linha dura do regime – da directiva a proibir a entrada de cidadãos iranianos e de outros países muçulmanos nos EUA, à prometida colaboração de Trump com o Governo de Israel ou com a Rússia.
A decisão desta sexta-feira da Administração Trump foi de encontro às exigências de um grupo de legisladores, republicanos e democratas, que numa carta enviada ao Presidente exigiram uma “resposta agressiva” às acções provocatórias do irão. “Os líderes iranianos têm de sentir a pressão para desistirem imediatamente destas actividades altamente desestabilizadoras”, escreveram, sugerindo a imposição de sanções adicionais a Teerão. Fontes da Administração, citadas pelos media americanos sob anonimato, garantem que além das sanções, Trump já mandou estudar outras medidas para punir o Irão.
Se o Governo de Teerão não teme o endurecimento da posição norte-americana, o mesmo não acontece com a população iraniana, preocupada com os efeitos da escalada da tensão com os EUA e com Israel. “Já disse aos meus filhos para verificarem os passaportes. Se formos atacados, temos a hipótese de fugir de carro para a Turquia, porque os aeroportos são logo fechados”, explicava à Reuters Ghorbanali Azhari, um morador da cidade de Kermanshah. Como outros iranianos, este professor reformado de 65 anos tinha esperança que a assinatura do acordo nuclear com os EUA, em 2015, abrisse uma nova época de calma e prosperidade no país. Agora, está outra vez a estudar rotas de fuga e a fazer planos de contingência para enfrentar dificuldades. “Estamos fartos. Uma guerra de oito anos [com o Iraque], sanções, dificuldades económicas… Não quero que os meus netos tenham de viver cheios de medo”, desabafou.