Administração Trump recentra posições sobre Israel e Rússia
Casa Branca diz que expansão dos colonatos "não ajuda" o processo de paz. Embaixadora na ONU excluiu levantamento de sanções enquanto Rússia mantiver anexação da Crimeia.
A terminar duas semanas em que pareceu querer virar do avesso a política externa norte-americana, a Administração de Donald Trump adoptou um tom mais próximo das posições assumidas por Washington nos últimos anos. Primeiro foi a Casa Branca a avisar Israel de que os recentes anúncios para expansão de colonatos na Cisjordânia “não ajudam” o processo de paz no Médio Oriente. Logo a seguir a nova embaixadora dos Estados Unidos na ONU deixou claro que as sanções adoptadas contra a Rússia não serão levantadas enquanto Moscovo mantiver a anexação da Crimeia.
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A terminar duas semanas em que pareceu querer virar do avesso a política externa norte-americana, a Administração de Donald Trump adoptou um tom mais próximo das posições assumidas por Washington nos últimos anos. Primeiro foi a Casa Branca a avisar Israel de que os recentes anúncios para expansão de colonatos na Cisjordânia “não ajudam” o processo de paz no Médio Oriente. Logo a seguir a nova embaixadora dos Estados Unidos na ONU deixou claro que as sanções adoptadas contra a Rússia não serão levantadas enquanto Moscovo mantiver a anexação da Crimeia.
As duas tomadas de posição – a par com o também já previsível anúncio de que estão a ser ponderadas novas sanções ao Irão em resposta ao disparo de mísseis balísticos – surgiram no mesmo dia da tomada em que Rex Tillerson assumiu funções como chefe da diplomacia norte-americana. Segundo o Departamento de Estado, Tillerson falou quinta-feira ao telefone com os homólogos do Canadá e do México (países com os quais o Presidente norte-americano entrou em rota de colisão) e com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Não foi divulgado o conteúdo desta última conversa, realizada já depois de a presidência norte-americana ter esfriado as expectativas da direita israelita, crente que a nova Administração adoptaria uma posição muito mais favorável à colonização em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, territórios palestinianos ocupados por Israel.
“Apesar de não acreditarmos que a existência de colonatos é um impedimento para a paz, a construção de novos colonatos ou a expansão dos existentes para lá das suas actuais fronteiras pode não ajudar a atingir esse objectivo”, lê-se num comunicado da Casa Branca divulgado quinta-feira à noite.
Já nesta sexta-feira, o embaixador israelita em Washington, Danny Danon, disse ser “muito cedo” para perceber o efeito desta posição sobre os planos do Governo israelita que, desde a tomada da posse de Trump, anunciou a construção de mais de seis mil casas em colonatos já existentes e, pela primeira vez desde o final da década de 1990, decidiu esta semana avançar com a construção de um novo colonato na Cisjordânia. “Não classificaria [este comunicado] como uma reviravolta da posição americana”, afirmou Danon, acrescentando, no entanto, que Israel e os EUA “não vão concordar sempre com tudo”.
Responsáveis israelitas ouvidos pela Reuters, sob anonimato, acreditam mesmo que a declaração será bem recebida por Netanyahu, já que não coloca qualquer entrave à construção de mais casas nos actuais colonatos. “Netanyahu vai ficar contente”, disse um diplomata israelita à agência. Trump “basicamente deu carta-branca à construção de tudo o que quisermos nos colonatos desde que não sejam alargados os limites físicos.”
Posição sobre a Crimeia não se alterou
Trump também afirmou por várias vezes que pretende melhorar as relações com a Rússia e, ainda na semana passada, ao receber na Casa Branca a primeira-ministra britânica, Theresa May, voltou a não excluir o levantamento das sanções impostas por Washington à Rússia em 2014. Uma expectativa também contrariada pela embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, que se estreou quinta-feira nas reuniões do Conselho de Segurança.
“É lamentável que na minha primeira reunião aqui tenha de condenar as acções agressivas da Rússia”, disse a diplomata, responsabilizando Moscovo pelo reinício dos combates no Leste da Ucrânia, parcialmente controlado pelos separatistas pró-russos. "Não deveria ter de ser assim. Nós queremos melhores relações com a Rússia. No entanto a situação no Leste da Ucrânia exige uma condenação clara e forte das acções russas”, acrescentou.
O assunto não estava em cima da mesa, mas Haley fez questão de dizer que “o Leste da Ucrânia não é a única parte do país que está a sofrer por causa das agressões da Rússia. “Os Estados Unidos continuam a condenar e a pedir um fim imediato da ocupação da Crimeia”, afirmou, antes de acrescentar: “A Crimeia é parte da Ucrânia e as nossas sanções relacionadas com a Crimeia vão continuar em vigor até que a Rússia restitua o controlo da península à Ucrânia”.
Afirmações que o embaixador russo na ONU, Vitali Churkin, desdramatizou, dizendo que “tendo em conta as circunstâncias e o assunto em discussão, [a posição da homóloga americana] foi suficientemente amigável". Churkin acrescentou que, depois da degradação das relações bilaterais durante a presidência de Barack Obama, Moscovo acredita que “há agora uma oportunidade” para os dois países aproximarem posições.