Jovens portuguesas criam projecto de voluntariado infantil em Cabo Verde

Inês e Marisa partiram para Cabo Verde para desenvolver um projecto de voluntariado num centro que acolhe crianças carenciadas. Durante seis meses e meio querem “quebrar a rotina pós-escolar” e melhorar as condições de vida dos mais pequenos

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O Atelier dos Pikis quer ajudar crianças de Pedra Badejo Inês Carrola

Inês Carrola e Marisa Lopes trocaram Portugal por uma pequena cidade em Cabo Verde. O que poderia ser uma viagem sem um rumo definido é, na verdade, um projecto de voluntariado dedicado a crianças. As duas portuguesas terminaram recentemente os estudos na Universidade do Minho, em Braga, e partiram a 15 de Janeiro para dar apoio escolar e proporcionar actividades extracurriculares a meia centena de meninos e meninas carenciados de Pedra Badejo, na ilha de Santiago, uma das localidades mais pobres do país.

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Inês Carrola e Marisa Lopes trocaram Portugal por uma pequena cidade em Cabo Verde. O que poderia ser uma viagem sem um rumo definido é, na verdade, um projecto de voluntariado dedicado a crianças. As duas portuguesas terminaram recentemente os estudos na Universidade do Minho, em Braga, e partiram a 15 de Janeiro para dar apoio escolar e proporcionar actividades extracurriculares a meia centena de meninos e meninas carenciados de Pedra Badejo, na ilha de Santiago, uma das localidades mais pobres do país.

Tudo começou há cerca de dois anos quando as jovens, a partir de projectos desenvolvidos pela universidade, pisaram a terra de Santa Cruz, em Cabo Verde, pela primeira vez. Inês dedicou-se, por duas vezes, ao voluntariado infantil e Marisa realizou um estágio académico na área da Educação. De regresso a Portugal não queriam ficar de mãos cruzadas. “Após termos estado juntas no terreno, em Janeiro de 2016, foi uma preocupação comum querer criar um projecto dedicado às crianças de Pedra Badejo, dado termos visto a realidade e lidado de perto com as necessidades e condições de vida destes meninos e meninas”, explicou Inês em entrevista ao P3. Foi assim que surgiu o “Atelier dos Pikis”, uma iniciativa dedicada aos mais “pequenotes”.

No início do projecto, Inês e Marisa sentiram as dificuldades de ajudar à distância mas foram desenvolvendo iniciativas que envolveram outros jovens, estudantes e pessoas com vontade de fazer algo pelas crianças de Cabo Verde. Uma venda solidária onde, com a ajuda de alunos da Universidade do Minho, conseguiram vender 700 lápis e ter alguns fundos para avançar com a iniciativa; apresentações em vários espaços e uma angariação de materiais (roupa, calçado, brinquedos, jogos, material escolar, alimentos, móveis, electrodomésticos, entre outros) entregues às crianças de Cabo Verde e a outras duas instituições locais. Estas foram algumas das acções solidárias que permitiram regressar para junto das crianças com algo para oferecer. Mais de 300 caixotes com “milhares de doações” saíram do Porto num contentor em direcção à cidade da Praia, tendo chegada prevista para 2 de Fevereiro.

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Inês e Marisa partiram a 15 de Janeiro para Cabo Verde

Em Cabo Verde, durante cerca de seis meses e meio, Inês e Marisa têm dois objectivos: “Remodelar as instalações do Centro Enfermeiro Lindo com os materiais recolhidos nas doações realizadas em Portugal, bem como criar sinergias locais para ter outros materiais (como tintas para pintar as instalações), e dinamizar o dia-a-dia das crianças deste centro, através de workshops de comunicação, actividades promotoras de desenvolvimento pessoal e social, aulas de desporto e inglês e apoio escolar”.

O que começou por ser uma parceria entre a Universidade do Minho e a Câmara Municipal de Santa Cruz tornou-se um “projecto criado de raiz” pelas jovens. Na comunidade de Pedra Badejo, o “Atelier dos Pikis” vai acompanhar a evolução diária de 45 crianças dos 6 aos 12 anos e receber mais voluntários portugueses para ajudar a “quebrar a rotina pós-escolar” dos mais pequenos. Bárbara Araújo e Raquel Curto são as primeiras voluntárias e têm regresso marcado para Fevereiro e Março, onde darão lugar a outros jovens interessados em contribuir para esta causa.

Para já ainda é cedo para Inês e Marisa fazerem um balanço das duas semanas passadas no terreno, mas não têm mãos a medir por causa da “logística que envolve a implementação de um projecto de voluntariado”. “Já demos apoio escolar, fizemos actividades de auto-conhecimento para nos conhecermos uns aos outros e convivemos com as crianças. Ainda é muito prematuro para termos feedback construtivo, mas os mais pequenos estão a gostar e a receber-nos com muito carinho”, diz Inês, apaixonada por fotografia e mentora do Brave, um projecto de voluntariado que procura arrancar sorrisos a crianças com cancro. “É exigente mudar alguma coisa em tão pouco tempo, mas as nossas expectativas passam por viver e aprender com estas crianças e aprender a ser feliz com pouco”, acrescenta Marisa, 23 anos.

As duas portuguesas foram “recebidas de portas abertas” e encontraram em Cabo Verde “pessoas extremamente simpáticas e acolhedoras”. O mesmo aconteceu anteriormente quando Inês decidiu fazer voluntariado pela segunda vez e quis filmar o projecto final da Licenciatura em Ciências da Comunicação, na especialização de Audiovisual e Multimédia, numa terra onde testemunhou “uma realidade totalmente diferente daquela que conhecemos, numa cidade onde tudo se dá sem pedir nada em troca”. “Nha Storia” — que foi seleccionado em Dezembro para os Prémios Sophia Estudante, no Centro Cultural de Belém, e vai passar no Fantasporto é sobre uma das famílias cabo-verdianas com quem conviveu. “Senti que faria todo o sentido fazer um projecto documental sobre uma das pessoas que mais me tocou na minha vida, o Decó, sempre alegre mesmo quando não conseguia fazer refeições diárias, e a mãe Júlia que aceita ter imensas crianças a dormir na sua casa só para não terem de faltar à escola. Em 13 minutos pretendo transmitir o que aprendi e aprendo todos os dias com estas pessoas: a simplicidade, generosidade, humildade e inter-ajuda que demonstram ter, é algo que me mudou”, explica a jovem de 21 anos.

Para Inês e Marisa, a “ligação forte” que estabeleceram com as crianças é um incentivo para “dar o melhor pelo projecto”. “Após convivermos de perto com a realidade de Pedra Badejo, percebemos que há muito a fazer. É muito difícil não nos apaixonarmos pelos mais pequeninos, que trazem em si tantos sonhos e tanto potencial que podem e devem ser aproveitados, utilizando a dose certa de motivação”.