“Não podemos continuar a ter alunos que não progridem no secundário”

O reitor da Universidade Nova de Lisboa considera que, na prática, Nuno Crato nunca foi ministro da Ciência e do Ensino Superior.

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António Rendas: "Claro que eu gostaria de seleccionar os meus alunos. Penso que as universidades poderiam ter um papel mais activo neste campo" Nuno Ferreira Santos

Está em estudo uma revisão do regime de acesso ao ensino superior. Pensa que este é um passo importante?
Precisamos de mais estudantes no ensino superior e, para tal, a primeira coisa que há a fazer é melhorar a situação no ensino secundário. Não podemos continuar a ter alunos que não progridem neste nível de ensino, temos que resolver a questão das elevadas taxas de retenções e também da motivação para os alunos prosseguirem estudos. Também sou totalmente a favor de que existam várias vias de entrada no ensino superior, desde que sejam transparentes e avaliadas. Precisamos de mais gente qualificada.

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Está em estudo uma revisão do regime de acesso ao ensino superior. Pensa que este é um passo importante?
Precisamos de mais estudantes no ensino superior e, para tal, a primeira coisa que há a fazer é melhorar a situação no ensino secundário. Não podemos continuar a ter alunos que não progridem neste nível de ensino, temos que resolver a questão das elevadas taxas de retenções e também da motivação para os alunos prosseguirem estudos. Também sou totalmente a favor de que existam várias vias de entrada no ensino superior, desde que sejam transparentes e avaliadas. Precisamos de mais gente qualificada.

Não deviam ser as universidades a assumir parte do processo de selecção dos seus candidatos?
Em Portugal existe esta cultura de que é melhor fazer tudo igual para todos. Claro que eu gostaria de seleccionar os meus alunos. Penso que as universidades poderiam ter um papel mais activo neste campo, mas para se mudar tem tudo de ser muito bem feito de modo a que a mudança seja para melhor.

Qual é a apreciação que faz do ministro Manuel Heitor?
Conheço-o há muito tempo. É um especialista em políticas da ciência e do ensino superior, o que é muito importante. E acho que está a fazer o possível num contexto muito difícil, porque herdou uma situação muito má.

Está a falar da herança de Nuno Crato?
Sim, porque, na prática, o ministro Crato nunca foi ministro da Ciência, nem do Ensino Superior.

Voltando à Nova. No próximo ano a Faculdade de Economia e Gestão muda-se para um novo campus em Carcavelos. O que vai acontecer ao campus de Campolide?
Vai continuar a ser o campus da Universidade Nova. A reitoria fica, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, que tem cerca de cinco mil alunos, vai mudar-se da Avenida de Berna para aqui. Será construído um edifício de raiz para a acolher. Vamos valorizar o Colégio dos Jesuítas, que passará a ser o centro do campus, com salas de estudo abertas 24 horas por dia, cafetarias, etc. E vamos fazer um novo espaço verde.Vamos plantar 400 árvores em Julho e criar um conjunto de arruamentos. Queremos abrir este espaço à cidade e principalmente aos habitantes de Campolide. Temos estado a trabalhar com a junta de freguesia nesse sentido.

E vão construir mais residências universitárias?
Não faz parte das nossas prioridades. Actualmente temos 420 camas. Temos uma residê ncia aqui no campus, outra na Caparica e ainda uma outra no Lumiar. Actualmente, a ocupação está nos 100%, o que é um dado curioso porque em anos anteriores estava nos 80%. O que aconteceu é que os estudantes Erasmus voltaram a procurar estes nossos espaços. Tradicionalmente preferiam o centro da cidade, mas com o aumento do turismo deixaram de conseguir alugar quartos nessas zonas.  

Quantos estudantes internacionais tem a Nova?
Mais de mil de fora da Europa, sobretudo na Faculdade de Economia e Gestão. Há muito poucas universidades portuguesas que possam dizer que têm um conjunto de estudantes internacionais com dimensão. Costumo dizer que a ciência portuguesa é internacional, mas o nosso ensino superior ainda não o é. Para tal, será precisa uma estratégia nacional. E também que as aulas passem, sobretudo a ser dadas em inglês, o que já acontece em Economia e Gestão da Nova. Aliás, a aposta do novo campus em Carcavelos é claramente internacional.

Quanto é que esses alunos de fora da Europa pagam de propinas?
Cerca de cinco mil euros, que é o valor do mercado internacional.

A Nova admite pedir ressarcimento ao Governo pelo facto de o valor máximo das propinas nacionais ter ficado congelado? Já houve sugestões de reitores nesse sentido.
Não tenho nenhuma informação sobre isso. Que eu saiba o assunto não foi ao Conselho dos Reitores e eu, nestas coisas, até porque fui quatro anos presidente do conselho, sou muito institucional. Temos muito mais força se falarmos em conjunto. Se o assunto vier a ser abordado, claro que o estudaremos já que houve uma parte da receita que estava prevista e que não recebemos.

Qual é o valor das propinas na Nova?
No conjunto a receita das propinas representa 16% do nosso orçamento total. O Conselho Geral da universidade aprovou a propina máxima, no valor de 1068,47 euros [por ano]. Mas em cumprimento do Orçamento de Estado, que congelou o valor máximo, mantivemos o valor da propina do ano anterior de 1063,47 euros.