Itália: no país da pedra
A poderosa noção de pertença ao mundo e à História é certamente o que alimenta o desejo de visitar estas terras. E quando atingimos a meta sentimo-nos realizados, plenos
Foi o aniversário de um grande amigo que me levou a visitar Itália. E como viagens combinam com bons amigos, dei por mim a chegar ao aeroporto de Bolonha, todo ele envolto em chuva e frio.
Bolonha, la rossa
Primeiro, a bela Bolonha. Vista do cimo da torre Asinelli torna-se vermelha ocre, não fosse a cidade ter a alcunha de la rossa ( "a vermelha"). Subir quase 500 degraus permite-nos chegar à visão de uma paisagem assombrosa de montanhas e edifícios, ostentando orgulhosamente os seus ocres. A subtileza que se esconde por trás da magnificência das ruas está nas cores das paredes, das portas, dos telhados. Há majestade e presença em cada pedra ou em cada arcada interminável. Diria que Bolonha pode ser atravessada de um lado ao outro seguindo sempre por baixo das arcadas. Há movimento de estudantes e de ideologias políticas. Há este sentimento de presenciarmos uma História petrificada. Casas medievais, a basílica gótica de San Petronio, cúpulas renascentistas, igrejas românicas.
Florença - a devoção, a tamanha obra é real
Depois, a grande Florença. Apesar de tão pequena, aparece-nos como uma visão de um sonho renascentista, projectada para ser uma cidade perfeita e sem o mínimo traço de esforço. Cada bloco para a construção do cenário parece ter sido pensado ao pormenor, pois todos os elementos obedecem à ideia renascentista do equilibro entre o todo e as partes. O melhor exemplo será a Piazza della Signoria, onde convivem as esculturas dos grandes mestres, de épocas diferentes. Imagino que chegar ali é como estar perante a corte de um rei. O divino existe e está concentrado naquela praça, nas esculturas de Miguel Ângelo, Cellini, Giambologna.. A ponte Vecchio está lá para amparar as nossas almas após o branco do mármore, para olhar o Arno, de águas escuras. O Duomo é a coroa na majestade que é Florença: a sua cúpula apontando em direção aos céus, renova a fé de que existe um caminho, e é sempre a subir. Muitos degraus mais tarde, a vista corta a respiração. O silêncio instaura-se, apesar do burburinho dos turistas.: a devoção, a tamanha obra é real.
Veneza, onde as praças são feitas de água
Enfim, Veneza. Azul e branco, água e pedra. Decerto que em cada beco se escondem personagens míticas das histórias de Corto Maltese. E que as máscaras venezianas parecem querer confidenciar-nos algo, penduradas nas montras das lojas, observando- nos. Veneza foi pintada a aguarela, sobre um sonho. Ao chegar à ponte dos suspiros podemos imaginar os prisioneiros que por ali passaram, a última vez que viram o mundo exterior. O ideal é perdermo-nos pelas ruas, explorando as vias mais desimpedidas de turistas. Dessa forma podemos ver que ali vivem pessoas, com as roupas penduradas em estendais, que há barcos- ambulância, e os gondoleiros fazem pela sua vida. Lá as praças são feitas de água. E se não são de água, são de luz, como a praça de São Marcos. Ao longe, avistamos a Basílica de Santa Maria della Salute, que parece flutuar no horizonte. Aconselho a beber um Spritz, e a esperar pelo pôr do sol, para cumprimentar a noite que acorda lentamente. Veneza tem algo de místico ao pôr do sol.
Italianos: escultores e mármore do Ocidente
A poderosa noção de pertença ao mundo e à História é certamente o que alimenta o desejo de visitar estas terras. E quando atingimos a meta sentimo-nos realizados, plenos. Compreendemos o porquê de os italianos se sentirem orgulhosos com o seu país, em serem um ponto chave da Europa. E da própria civilização ocidental. Essa essência de importância respira-se em cada ponte, em cada escultura, em cada buongiorno. Passa através das montanhas e eleva-se nas cúpulas. Ninguém pode censurar este povo por ser tão confiante, tão desinibido e ao mesmo tempo tão conservador. Eles foram o escultor e o mármore, recriando-se constantemente ao longo dos tempos.
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Foi o aniversário de um grande amigo que me levou a visitar Itália. E como viagens combinam com bons amigos, dei por mim a chegar ao aeroporto de Bolonha, todo ele envolto em chuva e frio.
Bolonha, la rossa
Primeiro, a bela Bolonha. Vista do cimo da torre Asinelli torna-se vermelha ocre, não fosse a cidade ter a alcunha de la rossa ( "a vermelha"). Subir quase 500 degraus permite-nos chegar à visão de uma paisagem assombrosa de montanhas e edifícios, ostentando orgulhosamente os seus ocres. A subtileza que se esconde por trás da magnificência das ruas está nas cores das paredes, das portas, dos telhados. Há majestade e presença em cada pedra ou em cada arcada interminável. Diria que Bolonha pode ser atravessada de um lado ao outro seguindo sempre por baixo das arcadas. Há movimento de estudantes e de ideologias políticas. Há este sentimento de presenciarmos uma História petrificada. Casas medievais, a basílica gótica de San Petronio, cúpulas renascentistas, igrejas românicas.
Florença - a devoção, a tamanha obra é real
Depois, a grande Florença. Apesar de tão pequena, aparece-nos como uma visão de um sonho renascentista, projectada para ser uma cidade perfeita e sem o mínimo traço de esforço. Cada bloco para a construção do cenário parece ter sido pensado ao pormenor, pois todos os elementos obedecem à ideia renascentista do equilibro entre o todo e as partes. O melhor exemplo será a Piazza della Signoria, onde convivem as esculturas dos grandes mestres, de épocas diferentes. Imagino que chegar ali é como estar perante a corte de um rei. O divino existe e está concentrado naquela praça, nas esculturas de Miguel Ângelo, Cellini, Giambologna.. A ponte Vecchio está lá para amparar as nossas almas após o branco do mármore, para olhar o Arno, de águas escuras. O Duomo é a coroa na majestade que é Florença: a sua cúpula apontando em direção aos céus, renova a fé de que existe um caminho, e é sempre a subir. Muitos degraus mais tarde, a vista corta a respiração. O silêncio instaura-se, apesar do burburinho dos turistas.: a devoção, a tamanha obra é real.
Veneza, onde as praças são feitas de água
Enfim, Veneza. Azul e branco, água e pedra. Decerto que em cada beco se escondem personagens míticas das histórias de Corto Maltese. E que as máscaras venezianas parecem querer confidenciar-nos algo, penduradas nas montras das lojas, observando- nos. Veneza foi pintada a aguarela, sobre um sonho. Ao chegar à ponte dos suspiros podemos imaginar os prisioneiros que por ali passaram, a última vez que viram o mundo exterior. O ideal é perdermo-nos pelas ruas, explorando as vias mais desimpedidas de turistas. Dessa forma podemos ver que ali vivem pessoas, com as roupas penduradas em estendais, que há barcos- ambulância, e os gondoleiros fazem pela sua vida. Lá as praças são feitas de água. E se não são de água, são de luz, como a praça de São Marcos. Ao longe, avistamos a Basílica de Santa Maria della Salute, que parece flutuar no horizonte. Aconselho a beber um Spritz, e a esperar pelo pôr do sol, para cumprimentar a noite que acorda lentamente. Veneza tem algo de místico ao pôr do sol.
Italianos: escultores e mármore do Ocidente
A poderosa noção de pertença ao mundo e à História é certamente o que alimenta o desejo de visitar estas terras. E quando atingimos a meta sentimo-nos realizados, plenos. Compreendemos o porquê de os italianos se sentirem orgulhosos com o seu país, em serem um ponto chave da Europa. E da própria civilização ocidental. Essa essência de importância respira-se em cada ponte, em cada escultura, em cada buongiorno. Passa através das montanhas e eleva-se nas cúpulas. Ninguém pode censurar este povo por ser tão confiante, tão desinibido e ao mesmo tempo tão conservador. Eles foram o escultor e o mármore, recriando-se constantemente ao longo dos tempos.