“Este hospital é o patinho feio por causa das urgências”

Francisco Velez Roxo, presidente da administração do hospital Amadora-Sintra, "a maior urgência do país", queixa-se de falta de médicos. "Dos cinco internistas que queríamos para as urgências não conseguimos nenhum."

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Francisco Velez Roxo: "Muita gente ainda não tem sequer médico de família." Rui Gaudêncio

Acha que o hospital não merece a má fama que tem?
É fundamentalmente a urgência que dá essa má fama. É a maior urgência do país. O número de episódios por dia varia entre os 600 e os 900. Temos uma urgência geral que não é polivalente, é só médico-cirúrgica e temos um Serviço de Urgência Básica em Algueirão-Mem Martins, que será substituído pelo pólo de Sintra. A imagem deste hospital foi influenciada pela urgência, que nunca foi atacada a fundo. Por sermos urgência geral, pelo mesmo doente nós recebemos 50 euros e o [hospital de] Santa Maria receberia 100. Este corte foi feito pelo anterior ministro.

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Acha que o hospital não merece a má fama que tem?
É fundamentalmente a urgência que dá essa má fama. É a maior urgência do país. O número de episódios por dia varia entre os 600 e os 900. Temos uma urgência geral que não é polivalente, é só médico-cirúrgica e temos um Serviço de Urgência Básica em Algueirão-Mem Martins, que será substituído pelo pólo de Sintra. A imagem deste hospital foi influenciada pela urgência, que nunca foi atacada a fundo. Por sermos urgência geral, pelo mesmo doente nós recebemos 50 euros e o [hospital de] Santa Maria receberia 100. Este corte foi feito pelo anterior ministro.

É por isso que não conseguem contratar médicos?
Não se candidatam. Dos cinco internistas que queríamos para as urgências não conseguimos nenhum e dos seis anestesistas também não veio nenhum. Este hospital é o patinho feio por causa das urgências e precisa de deixar de ser até 2019.

E já atacou o problema das urgências?
Neste Inverno houve uma excelente coordenação entre toda a urgência metropolitana de Lisboa. Houve desvio de doentes no sentido positivo. Se o doente aqui está muito tempo à espera e aquele hospital está com mais capacidade então o doente vai para lá.

Mas porque é que nunca se resolveu o problema?
O problema nunca foi olhado com rigor. Depois, fisicamente a urgência não se consegue expandir mais e uma amplificação não pode ser feita a correr. Temos um plano director para alterar a estrutura do hospital.

Como se convence os doentes a não virem a uma urgência, quando muitos nem pagam taxa moderadora?
Os centros de saúde têm de estar dotados meios complementares de patologia e imagiologia. E têm de ter médicos e enfermeiros articulados com o hospital, em particular nas doenças crónicas.

Em que áreas é que isso vos podia aliviar?
Na urgência tudo quanto é doenças do foro respiratório em fase inicial e alguma traumatologia pode ser resolvida no centro de saúde se houver raio X. E na doença crónica, em particular na diabetes. Mas muita gente ainda não tem sequer médico de família. Mais de 95% dos nossos doentes entram pela urgência.

Mesmo com os planos, houve relatos de 12 horas de espera nas urgências neste Inverno.
Foi no pico e só num dia em que situação foi de tal maneira que tivemos 950 episódios de urgência. Chegámos a ter 220 doentes, ao mesmo tempo, em circulação na urgência. Mesmo assim, já reorganizámos a urgência e melhorámos as condições técnicas. Isso ficou operacional em Setembro.

Mas contrataram mais médicos?
Só prestadores de serviço para o pico. Em todos os concursos que fizemos ninguém veio. O fizemos foi alterar também o serviço de observação (SO) da urgência. No máximo deve ter 25 doentes e o nosso tinha uma dotação teórica de 55, mas podia atingir os 120. Desde que o hospital abriu que era assim. Pedimos à administração regional de saúde que nos desviasse doentes de internamento para outros hospitais e abrimos mais camas para que as pessoas não ficassem dias e dias no SO, onde agora temos 30 a 40 doentes, pelo que se infectam menos e estamos a conseguir diminuir a demora média no hospital.