PEV propõe que se deixe de importar energia produzida a partir do nuclear

Ecologistas reúnem-se hoje e amanhã no Alentejo para perceberem se e como os dois distritos estão preparados para um problema na central nuclear

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Há lá assunto mais na ordem do dia para os ecologistas do que a central nuclear de Almaraz? A resposta é não. E por isso o Partido Ecologista Os Verdes decidiu levar as suas jornadas parlamentares, hoje e amanhã, para os distritos de Portalegre e Castelo Branco, os que mais próximos estão de Almaraz, a localidade na província espanhola de Cáceres onde está instalada a central, nas margens da barragem de Almaraz-Arrocampo, à beira-Tejo.

O objectivo é perceber as preocupações e dúvidas das populações da raia e da zona ribeirinha do Tejo, se conhecem (ou não) os riscos que correm por estarem tão perto da central, e até que ponto estão (ou não) preparadas para os enfrentar, contou ao PÚBLICO a deputada Heloísa Apolónia. Em linha recta, de alguns pontos da fronteira até Almaraz, distam menos de 100 quilómetros, e Castelo Branco está a cerca de 140. Defensores do encerramento imediato da central nuclear - ou, pelo menos, que o prazo de 2020 não seja alargado sob razão nenhuma -, os dois deputados ecologistas do PEV deverão propor em breve no Parlamento que Portugal deixe de importar energia produzida a partir do nuclear e que o Governo fomente a criação de planos específicos de emergência contra riscos nucleares.

O programa das jornadas abarca os vários sectores que podem ser afectados e que deveriam ter planos de contingência – da saúde à protecção civil, da pesca à segurança, da hotelaria à educação. “Tentaremos saber se há planos de risco específicos, a nível distrital e municipal, e quais os procedimentos de emergência previstos. Na verdade, se houvesse um acidente grave em Almaraz, não havia plano de emergência que nos valesse”, lamenta a ecologista. “Mais do que estar num papel, há questões que as entidades e as pessoas têm que conhecer e saber o que fazer no momento”, diz Heloísa Apolónia, dando como exemplo os simulacros.

Embora considere “importante” a apresentação de uma queixa formal em Bruxelas contra Espanha pela decisão de construir um armazém de resíduos junto da central sem ter notificado Portugal nem pedido a sua participação numa avaliação de impacto ambiental transfronteiriça, como manda a legislação europeia, Heloísa Apolónia defende que o executivo “não pode ficar de braços cruzados à espera de uma resposta, que vai demorar três meses”.

“Tratou-se de um incidente diplomático e deve ser tratado como tal, com o envolvimento directo do MNE, do primeiro-ministro e até dos chefes de Estado, para o resolver o mais depressa possível. E todas as diligências devem ser públicas”, defende a deputada, acrescentando que a diplomacia nacional “tem que ser mais firme, veemente e assertiva na necessidade de não se construir o armazém e de se encerrar a central, e envolver as populações na matéria”.

O dia de hoje é dedicado sobretudo a Castelo Branco, entre a Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, o mercado municipal, o Comando Distrital de Operações de Socorro, os Bombeiros Voluntários e o hotel Vila Portuguesa – Casa de Campo, já em Vila Velha de Ródão. Depois de uma viagem de barco até à Barragem do Fratel ao entardecer, conversam com os pescadores na Aldeia do Arneiro (Nisa). Amanhã de manhã, debatem o tema de Almaraz com os alunos do Agrupamento de Escolas de Nisa e visitam o centro de formação da GNR em Portalegre. À tarde, há uma audição pública sobre a central na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Portalegre.