Ataque em mesquita do Quebeque causa seis mortos
Homens armados abriram fogo durante orações de domingo à noite. Primeiro-ministro fala em "terrorismo". Um dos suspeitos é estudante universitário.
Seis pessoas morreram e 17 ficaram feridas, depois de atacantes armados terem aberto fogo numa mesquita do Quebeque durante as orações de domingo à noite. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, qualificou o caso como “um ataque terrorista contra muçulmanos”.
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Seis pessoas morreram e 17 ficaram feridas, depois de atacantes armados terem aberto fogo numa mesquita do Quebeque durante as orações de domingo à noite. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, qualificou o caso como “um ataque terrorista contra muçulmanos”.
Segundo a Reuters, foram dois os atacantes que abriram fogo sobre as mais de 40 pessoas que estavam no interior do Centro Cultural Islâmico da Cidade do Quebeque. Citando uma fonte não identificada, esta agência de notícias diz que um dos autores do ataque foi identificado e é estudante na Universidade Laval, perto da mesquita. A televisão canadiana avançou que os dois atacantes foram identificados como Alexandre Bissonnette e Mohamed Khadir.
“Há seis mortos confirmados, com idades entre os 35 e os 70 anos”, disse a porta-voz da polícia do Quebeque, Christine Coulombe. A porta-voz do hospital do Quebeque acrescentou que cinco pessoas estão internadas em estado crítico (três delas correm risco de vida) e 12 foram tratadas a ferimentos ligeiros.
"Todos pensamos nas crianças a quem temos de anunciar a morte dos pais", lê-se numa mensagem publicada na página do Facebook da grande mesquita do Quebeque, como também é conhecido o Centro Cultural Islâmico da Cidade do Quebeque. "Que Alá lhes dê paciência e resistência." Segundo a Reuters, uma das vítimas era pai de quatro filhos.
Trudeau: "A diversidade é a nossa força"
Num comunicado em que “condena este ataque terrorista contra muçulmanos", Justin Trudeau diz que “as autoridades ainda estão a investigar” o atentado, mas lamenta desde já “esta violência sem sentido”.
“A diversidade é a nossa força e a tolerância religiosa é um valor querido para os canadianos”, diz ainda a nota emitida pelo chefe de Governo do Canadá.
“Os muçulmanos-canadianos são uma parte importante do nosso tecido nacional e estes actos sem sentido não têm lugar nas nossas comunidades, cidades ou país. Os órgãos policiais vão proteger os direitos de todos os canadianos e fazer um esforço para deter os autores deste e de todos os actos de intolerância”, acrescenta o comunicado de Trudeau.
Este ataque, que ainda não foi reivindicado, surge numa altura em que o Canadá se prontificou a receber mais refugiados. Numa reacção ao decreto de Donald Trump que proíbe a entrada de cidadãos de sete países nos EUA, Justin Trudeau escreveu no Twitter uma mensagem de boas-vindas aos refugiados. “Aos que fogem à perseguição, ao terror e à guerra, os canadianos dão-vos as boas-vindas, independentemente da vossa religião. A diversidade é a nossa força #BemVindosaoCanadá."
"Não estamos seguros aqui"
O presidente da mesquita, Mohamed Yangui, que não estava no local quando ocorreu o tiroteio, disse ter recebido várias chamadas de quem estava nas orações. “Porque está a acontecer isto? Isto é bárbaro”, perguntaram-lhe.
O presidente das câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, já reagiu afirmando que as mesquitas da cidade vão ter protecção reforçada. “Todos os nova-iorquinos devem estar vigilantes. Se virem alguma coisa, avisem”, escreveu no Twitter.
A Reuters nota que, tal como França, o Quebeque tem tido, às vezes, dificuldades em conciliar a sua identidade secular com uma crescente população muçulmana, parte dela proveniente do Norte de África.
Em Junho do ano passado foi deixada uma cabeça de porco à porta do Centro Cultural Islâmico da cidade do Quebeque. E outras mesquitas do Canadá têm sido igualmente visadas por graffiti de carácter racista nos últimos meses, lembra a AFP.
Zebida Bendjeddou, que saiu da mesquita pouco tempo antes do ataque, confirmou à Reuters que o centro já tinha alvo de ameaças. “Em Junho, puseram uma cabeça de porco à frente da mesquita. Mas pensámos: ‘Oh, são eventos isolados’. Mas agora esses incidentes isolados assumem contornos diferentes.”
“Não estamos seguros aqui”, queixou-se também à Reuters Mohammed Oudghiri, que normalmente assiste às orações na grande mesquita do Quebeque, mas não o fez no domingo.
Oudghiri vive no Quebeque há 42 anos, mas agora mostra-se “muito preocupado” e está a ponderar regressar a Marrocos.
Os tiroteios são raros no Canadá, que tem leis de porte de armas mais restritivas do que os Estados Unidos, e este ataque provocou um grande choque entre a comunidade islâmica nesta província maioritariamente de língua francesa.
“É um dia triste para o Quebeque e para o Canadá ver um ataque terrorista na pacífica Cidade do Quebeque”, reagiu Mohamed Yacoub, co-presidente de um centro comunitário islâmico nos subúrbios de Montreal. “Espero que seja um incidente isolado.”
Os casos de islamofobia têm aumentado no Quebeque nos últimos anos. O niqab, véu integral feminino, tornou-se um tema das eleições federais de 2015, especialmente no Quebeque, onde a maioria da população apoiava a sua proibição sempre que as mulheres tivessem de lidar com serviços públicos.
Em 2013, a polícia investigou um caso numa mesquita da região de Saguenay, que foi atacada com o que se acreditava ser sangue de porco – segundo o Corão, é proibido comer carne de porco, um animal considerado impuro.
Em Ontário, uma mesquita foi incendiada em 2015, um dia depois dos atentados de Paris.