Pintura escondida de Magritte não pode ser recuperada

Pintor surrealista belga criou novas obras sobre o seu quadro de 1927. E o original vai ter de continuar tapado.

Foto
A pose encantada DR

A exposição René Magritte – A traição das imagens foi um dos acontecimentos do final do ano, na agenda cultural de Paris. A exposição atraiu multidões ao Centro Pompidou, onde esteve entre Setembro e o passado dia 23 de Janeiro. Encontra-se agora em trânsito para Frankfurt, onde será exibida, numa versão mais restrita, na Schirn Kunsthalle, a partir de 10 de Fevereiro.

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A exposição René Magritte – A traição das imagens foi um dos acontecimentos do final do ano, na agenda cultural de Paris. A exposição atraiu multidões ao Centro Pompidou, onde esteve entre Setembro e o passado dia 23 de Janeiro. Encontra-se agora em trânsito para Frankfurt, onde será exibida, numa versão mais restrita, na Schirn Kunsthalle, a partir de 10 de Fevereiro.

Mas se a “traição das imagens” foi um dos temas mais abordados pelo surrealista belga – e a exposição do Centro Pompidou dava especial atenção à relação da sua pintura com a filosofia, e em especial com a obra de Michel Foucault –, as telas que conhecemos de René Magritte (1898-1967) também escondem algumas “traições”. Uma delas foi descoberta em 2013, quando investigadores encontraram, por baixo das suas telas da década de 1930 O retrato (colecção MoMA, Nova Iorque) e O modelo vermelho (Museu de Arte Moderna, Estocolmo) marcas de uma obra anterior.

A pesquisa feita a seguir através de raios X veio mostrar que se tratava de metade da pintura A pose encantada, que se encontra documentada numa fotografia de 1927, mas que entretanto desapareceu.

Em Setembro do ano passado, uma investigadora portuguesa a trabalhar para o Hamilton Kerr Institute da Universidade de Cambridge, Alice Tavares da Silva, descobriu a terceira parte desse quadro original sob outra pintura que Magritte exibiu em 1936, A condição humana (que pertence à colecção do Castelo de Norwich, e que integrou a exposição no Centro Pompidou).

Tudo leva a crer que o pintor decidiu partir a tela de A pose encantada em quatro partes, e sobre cada uma delas criou novas obras. Aquela pintura – pode ver-se na fotografia do original – representa duas mulheres nuas praticamente iguais, lado a lado, numa representação neoclássica. Mas a sua recuperação, mesmo que venha a encontrar-se a parte que falta, parece estar definitivamente posta de parte.

Segundo noticia a BBC, a conservadora de história da arte do Castelo de Norwich diz ser impossível recuperar a obra original sem destruir as criações posteriores. E mesmo que fosse tecnicamente possível, através de técnicas não invasivas e não destrutivas, isso “seria certamente pouco ético, já que foi o próprio Magritte que decidiu cortar o quadro e criar novas composições a partir dos seus fragmentos”, salienta Giorgia Bottenelli, considerando que a sua prioridade é “preservar a intenção do artista”.

Fica, no entanto, a expectativa de que, a qualquer altura, seja possível encontrar o elo (a quarta parte) que falta para se poder verdadeiramente reconstituir – ainda que apenas via raios X – A pose encantada.