Macron, o candidato de fuga
O ex-ministro da Economia do Governo socialista está a atrair apoiantes de todos os quadrantes políticos e tornou-se um sério concorrente ao Eliseu.
A chamada “esquerda de governo” do Partido Socialista francês poderá esgueirar-se das fileiras socialistas, se o escolhido for de facto Benoît Hamon, e optar por votar no candidato independente Emmanuel Macron, a quem as sondagens dão cerca de 20% das intenções de voto.
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A chamada “esquerda de governo” do Partido Socialista francês poderá esgueirar-se das fileiras socialistas, se o escolhido for de facto Benoît Hamon, e optar por votar no candidato independente Emmanuel Macron, a quem as sondagens dão cerca de 20% das intenções de voto.
Tanto à esquerda como à direita, temem-se os estragos da fuga de eleitores para Macron, que diz não ser “nem de esquerda nem de direita”. Apresenta-se para além das clivagens ideológicas tradicionais, como um progressista, capaz de captar os eleitores que se sentem sem candidato após a derrota de Alain Juppé nas primárias de centro-direita, no fim de Novembro, e também dos que que não se reconhecerão num Partido Socialista conquistado por Benoît Hamon, se se confirmar a derrota de Manuel Valls.
Uma boa percentagem dos centristas já foi cativada pelo ex-ministro da Economia que só este ano completará os 40 anos, sobretudo os jovens, mas não só. “Em Dezembro, todos atravessámos um período de luto, em que nos sentimos órfãos”, contou ao Libération Anne, uma alta funcionária pública parisiense de 52 anos, que iria votar em Juppé.
“O programa de François Fillon é demasiado brutal” para que considerasse sequer a hipótese de votar no vencedor das primárias da direita, contou ainda Anne. Acabou por se juntar à campanha de Macron, o ex-banqueiro de investimento que se envolveu na política como conselheiro do Presidente François Hollande e que por toda a Europa está a fazer fãs: “O livro dele, Révolution, fez-me oscilar, fui conquistada”, explicou.
“Macron tornou-se o candidato de todos os possíveis”, afirmou ao diário francês Aurélien Preud’homme, da empresa de sondagens Via Voice. “Incarna tanto uma esperança como a ideia do voto útil para os que querem derrotar a Frente Nacional” nas presidenciais de 23 de Abril (primeira volta) e 7 de Maio (segunda volta).
Os comícios dele têm conseguido juntar mais gente do que os dos seus rivais, ainda que não tenha concretizado muito as suas propostas para governar, acusam os analistas políticos. “Aos olhos dos cidadãos convencidos de que o sistema político está obsoleto, que a alternância não muda nada, Macron tem uma grande qualidade: traz novidade sem radicalismos”, comentou ao Libération Emmanuel Rivière, da empresa de sondagens TNS Sofres.
Mas o caminho do candidato não é sem riscos: um livro publicado esta semana por dois jornalistas, Dans l’Enfer de Bercy, acusa-o de ter usado dinheiros do fundo de representação a que tinha direito como ministro da Economia para pôr de pé o movimento En Marche!, que serve de base para a sua candidatura à presidência da República. Ele nega que tenha cometido quaisquer abusos.
A campanha de François Fillon faz gala em dizer que Macron não é um problema, mas ao mesmo tempo manifesta grande preocupação, convocando empresários e líderes da direita para atacar o candidato. Na verdade, a direita tem apelado ao voto em Manuel Valls nas primárias de esquerda, para tentar travar o fenómeno Macron. Jean-François Copé, ex-líder do partido, fez isso mesmo, considerando Macron um “perigo real”. “Atenção, as sondagens não se enganam sempre”, avisou, irónico.