May garante que Trump apoia a NATO, ele aplaude o “Brexit”
Primeira-ministra britânica assegurou na Casa Branca que se opõe ao fim das sanções à Rússia. Uma divergência que May precisava de sublinhar e que não ofusca as boas relações prometidas pelos dois líderes.
Donald Trump e Theresa May prometeram que vão reforçar a “relação especial” que muitos antecessores enalteceram no passado e que para o Reino Unido, prestes a iniciar as negociações para a saída da União Europeia, é um trunfo mais valioso do que nunca. Mas a proximidade inclui agora divergências claras – e as posições assumidas por ambos em relação ao futuro das sanções à Rússia mostrou-o bem – e, pela primeira vez, um chefe de Governo britânico viu-se obrigado a dizer para que todos ouvissem que o Presidente norte-americano ali ao seu lado é “apoia a NATO a 100%”.
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Donald Trump e Theresa May prometeram que vão reforçar a “relação especial” que muitos antecessores enalteceram no passado e que para o Reino Unido, prestes a iniciar as negociações para a saída da União Europeia, é um trunfo mais valioso do que nunca. Mas a proximidade inclui agora divergências claras – e as posições assumidas por ambos em relação ao futuro das sanções à Rússia mostrou-o bem – e, pela primeira vez, um chefe de Governo britânico viu-se obrigado a dizer para que todos ouvissem que o Presidente norte-americano ali ao seu lado é “apoia a NATO a 100%”.
Em contraste com o tom que assumiu nos primeiros dias da sua presidência, foi um Trump cortês, ponderado nas respostas e até gracejador aquele que se apresentou nesta sexta-feira ao lado de May, a primeira líder estrangeira a ser recebida na Casa Branca pelo novo Presidente americano.
Era, no entanto, a primeira-ministra quem tinha mais a provar neste encontro. Precisava de acalmar os eleitores britânicos, tanto os que repudiam as acções de Trump, como os que querem rapidamente que Londres se coloque como principal aliado dos EUA. Da mesma forma tinha de mostrar aos parceiros europeus que não ficará isolada quando sair da UE, mas sabia também que não podia dizer nada que tornasse ainda mais difíceis as negociações que terá de iniciar em breve com Bruxelas.
A Europa estava atenta: horas antes do encontro em Washington, a chanceler alemã, Angela Merkel, reuniu-se com o Presidente francês, François Hollande, e ambos fizeram um apelo a uma defesa coesa “dos valores das democracias liberais e democráticas”. Em Paris, o candidato presidencial, Emmanuel Macron, afirmou que o alinhamento de May com Trump indicia que o Governo britânico “se está a tornar um vassalo, ou seja o parceiro júnior dos Estados Unidos”. No Reino Unido, os partidos da oposição exigiam-lhe que repudiasse claramente a tortura que Trump admitiu voltar a usar, e o racismo que as suas primeiras medidas indiciam.
“Ter uma relação especial quer dizer que podemos discordar”, afirmou a primeira-ministra britânica na conferência de imprensa conjunta com Trump. Já na véspera, num discurso aos congressistas republicanos, tinha defendido a NATO (que Trump classificara como obsoleta) e avisado que a aproximação à Rússia desejada pela nova Administração “não pode pôr em causa as liberdades que o Presidente Reagan e a primeira-ministra Thatcher levaram à Europa de Leste”.
Uma diferença que May quis vincar de novo, perante as objectivas da imprensa mundial. Donald Trump escusou-se a dizer se admite levantar as sanções aprovadas contra a Rússia após a anexação da Crimeia, mas voltou a dizer que acredita na possibilidade de construir “uma relação fantástica com a Rússia” e “uma relação positiva com a China”. A primeira-ministra não se desviou um milímetro daquela que é a posição oficial da União Europeia, defendendo que as sanções não devem ser levantadas até que sejam cumpridos os acordos de Minsk, que prevêem a retirada de todas as tropas estrangeiras do Leste da Ucrânia.
Foi também aos parceiros europeus que se dirigiu quando incluiu a Aliança Atlântica nos temas que geram consenso entre Washington e Londres. “Posso assegurar-vos que o Presidente Trump apoia a NATO a 100%”, afirmou, garantindo que, da sua parte, vai tentar convencer os aliados europeus a gastarem os 2% do PIB em defesa a que estão obrigados (uma das reivindicações de Trump).
O Presidente norte-americano garantiu-lhe, por sua vez, que a nova Administração americana acredita que o “Brexit será uma coisa fantástica” e que o país vai prosperar quando se libertar das amarras da UE, a que se referiu como “o consórcio”. Disse ainda que, da sua parte, será possível negociar “rapidamente” um acordo comercial com o Reino Unido – aquela que é a grande ambição de Londres, mas que Bruxelas assegura que não poderá ser negociado enquanto país pertencer à UE. “Vamos ver aquilo que podemos começar imediatamente a discutir”, limitou-se a responder May.
Trump foi também útil à primeira-ministra britânica quando, depois de interrogado pela BBC, disse que, apesar de “acreditar pessoalmente” no recurso “a tácticas de interrogatório agressivas”, vai seguir a posição de James Mattis, o seu secretário da Defesa, que já se pronunciou publicamente contra métodos de tortura. “Ele é o general dos generais e se ele acha isso vou confiar nele”.