Três “grandes” enchem os cofres com venda de jogadores da formação

As academias dos principais clubes nacionais continuam a formar “pérolas”, embora seja em Alvalade que elas permanecem mais tempo.

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No dia em que se confirmou a transferência de Gonçalo Guedes, de 20 anos, do Benfica para o Paris Saint-Germain por 30 milhões de euros (mais um bónus de sete dependente de uma futura venda do atleta) é oportuno olhar para aquilo que a formação de Benfica, FC Porto e Sporting tem “produzido” nos últimos três anos. Um intervalo temporal que permite perceber se há e quais são os jogadores trabalhados nas academias dos “grandes” e que podem vir a encher os seus cofres.

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No dia em que se confirmou a transferência de Gonçalo Guedes, de 20 anos, do Benfica para o Paris Saint-Germain por 30 milhões de euros (mais um bónus de sete dependente de uma futura venda do atleta) é oportuno olhar para aquilo que a formação de Benfica, FC Porto e Sporting tem “produzido” nos últimos três anos. Um intervalo temporal que permite perceber se há e quais são os jogadores trabalhados nas academias dos “grandes” e que podem vir a encher os seus cofres.

Por enquanto, têm sido os benfiquistas a lucrar mais, graças aos encaixes realizados com Renato Sanches e Gonçalo Guedes (65 milhões no imediato). Mas a fonte pode ter secado para os lados da Luz, que na sua “linha de montagem” não apresenta mais nenhum “craque” formado nos últimos três anos.

Já FC Porto e Sporting esfregam as mãos com o interesse que, respectivamente, André Silva e Gelson Martins têm despertado na Europa, antecipando importantes mais-valias.

Mais preocupante é o facto de em nenhuma das academias se vislumbrarem, neste momento, jogadores com a mesma dimensão ou capacidade para gerar receitas do mesmo nível das obtidas pelas mais recentes transferências.

Benfica: ?Seixal começa a dar frutos

Renato Sanches e Gonçalo Guedes são os exemplos mais óbvios do rendimento que o Benfica tem vindo a obter com os escalões de formação. O emblema da Luz conseguiu um considerável encaixe com a transferência dos dois jogadores (o primeiro rumou, no Verão, ao Bayern Munique, e o segundo chegou a acordo com o Paris Saint-Germain no período de transferências em curso) e pode-se dizer que o benefício financeiro tem sido mais preponderante do que o desportivo. Nas últimas três temporadas houve um total de cinco jogadores vindos dos juniores a estrearem-se pela equipa principal, mas só Renato Sanches e Gonçalo Guedes tiveram continuidade (e chegaram mesmo à selecção nacional). José Gomes, Yuri Ribeiro e Nuno Santos foram os outros futebolistas que vestiram a camisola “encarnada”, mas os dois primeiros têm alinhado pela equipa B e o terceiro está cedido ao V. Setúbal.

“Cada vez mais vamos ter jovens formados no Benfica na primeira equipa”, prometia o presidente “encarnado”, Luís Filipe Vieira, a propósito do décimo aniversário do Centro de Estágio do Seixal, em Setembro. Um mês depois, na mensagem que assinava no relatório e contas da SAD do Benfica relativo à época 2015-16, o dirigente reforçava uma estratégia assente num “novo paradigma de aposta na formação de jovens promessas”. Porém, com a saída de Gonçalo Guedes não restam na equipa principal exemplos de jogadores que tenham dado o “salto” nas últimas três épocas — Ederson, Lindelöf e André Horta são de uma “fornada” anterior.

A equipa B tem funcionado como rampa de lançamento para vôos mais altos: Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Nuno Santos, Ederson e Lindelöf passaram por lá e José Gomes e Yuri Ribeiro trabalham às ordens de Hélder Cristóvão, assim como outros 16 jogadores que subiram dos juniores nas últimas três temporadas.

Longe da Luz, e sem contar com Renato Sanches, Gonçalo Guedes e Nuno Santos, há 13 jogadores formados no Seixal a competir nos escalões profissionais de Portugal ou no estrangeiro.

FC Porto: ?“Matadores” de elite

O caso de André Silva dispensa qualquer tipo de introdução. O goleador afirmou-se e é a grande bandeira da formação portista, onde desponta ainda Rui Pedro, igualmente avançado, de 18 anos, que esta época já jogou também pelos juniores, pela equipa B e equipa principal.

A julgar pelos dois exemplos, dir-se-ia que o “dragão” está mais vocacionado para lapidar “matadores” de elite. Na verdade, o Olival é muito mais do que uma escola de avançados. A equipa B portista tem absorvido nos últimos três anos quase todos os valores que se evidenciaram na formação.

A sustentabilidade do projecto comprova-se com o título de campeão nacional da II Liga, com a equipa B a ser aproveitada como rampa de lançamento de diversos talentos, seja pela chamada persistente aos treinos da formação principal, seja pela convocatória para jogos da Liga, destacando-se o caso de Francisco Ramos, que fez quatro jogos na época transacta.

Apesar de os jovens “dragões” despertarem enorme cobiça entre clubes do primeiro escalão, não abundam os casos de futebolistas a disputar a I Liga. Rafa Soares e Ivo Rodrigues são os mais relevantes, com passagens consistentes em clubes como a Académica e o Rio Ave, no caso do defesa-esquerdo, ou V. Guimarães, Arouca e Paços de Ferreira, no que diz respeito ao avançado… enquanto Francisco Afonso só agora começa a afirmar-se na Mata Real.

Curiosa é ainda a quase residual “exportação” de promessas para ligas profissionais estrangeiras. Palmer-Brown é a excepção… tendo regressado ao futebol norte-americano após quatro anos de empréstimo pelo Sporting KC ao FC Porto.

O verdadeiro filão poderá estar, porém, a emergir, com nomes já bem conhecidos do público a “virem à superfície”. Um dos mais flagrantes é o do defesa-direito Fernando Fonseca, bicampeão nos juniores, que saiu do “anonimato” à velocidade da luz, com a surpreendente convocatória para os Jogos Olímpicos 2016. O lateral agarrou o lugar na selecção, garantindo a promoção aos sub-21, e poderá estar a um pequeno passo da “emancipação” absoluta.

Sporting?: A tradição ainda é o que era

A formação é uma das imagens de marca do Sporting nas décadas mais recentes. Casos de grande sucesso como Futre, Figo, Cristiano Ronaldo deram uma dimensão internacional às escolas “leoninas”, que exportaram ainda talentos como Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, Nani, João Moutinho ou, mais recentemente, João Mário, que rendeu a maior receita da história do clube.

Também ao nível do aproveitamento das “pérolas” da Academia na equipa principal, o Sporting tem-se destacado nos últimos anos. Aos já “veteranos” Rui Patrício e Adrien Silva, juntam-se William Carvalho, Ruben Semedo e Gelson Martins, todos presenças imprescindíveis no “onze” titular de Jorge Jesus esta temporada, com Ricardo Esgaio, João Palhinha e Matheus Pereira à espreita de oportunidades no plantel.

Mas a qualidade não termina aqui, com muitos outros jogadores recém-saídos da formação a ganharem experiência competitiva em equipas de menor dimensão nacionais ou internacionais. Entre os casos mais promissores destacam-se Iuri Medeiros (Boavista), Carlos Mané (Estugarda), Tobias Figueiredo (Nacional) e Filipe Chaby (Sp. Covilhã), que já levam mais de três anos como seniores, mas também Francisco Geraldes (Moreirense), Daniel Podence (Moreirense), Domingos Duarte (Belenenses), José Postiga (Ac. Viseu) ou Guilherme Oliveira (Cova da Piedade). Mesmo assim, nas últimas três épocas, para além de Gelson Martins, não houve mais nenhum jovem da formação a afirmar-se indiscutivelmente na equipa A.