Fillon deu um bom emprego à mulher no Parlamento... para não fazer nada
Candidato da direita às presidenciais francesas em apuros na justiça após jornal ter revelado o que parece ser um caso de emprego fictício.
François Fillon, o candidato às presidenciais da direita francesa, está a ser investigado pelo Tribunal Central de Luta contra as Infracções Financeiras e Fiscais por uso inapropriado de fundos públicos e por ter escondido esse uso. Em causa está ter empregado durante anos a sua mulher como assistente parlamentar sem que esta, aparentemente, tenha feito trabalho algum.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
François Fillon, o candidato às presidenciais da direita francesa, está a ser investigado pelo Tribunal Central de Luta contra as Infracções Financeiras e Fiscais por uso inapropriado de fundos públicos e por ter escondido esse uso. Em causa está ter empregado durante anos a sua mulher como assistente parlamentar sem que esta, aparentemente, tenha feito trabalho algum.
A denúncia foi feita esta semana pelo semanário Le Canard Enchaîné, que muitas vezes publica escândalos sobre políticos. Penelope Fillon foi assistente parlamentar do marido entre 1998 e 2002, recebendo um ordenado bruto de 3900 euros, e de novo seis meses em 2012, com um salário de 4600 euros. Entre 2002 e 2007, enquanto Fillon foi ministro, ela foi assistente do deputado que a substituiu, mas com salário ainda maior: de 7900 euros brutos. Nos cálculos do semanário, Penelope Fillon recebeu cerca de 500 mil euros (brutos) do erário público francês.
Esta prática de empregar os esposos como assistentes, embora discutível, é relativamente comum em França. Só que o cônjuge contratado tem, de facto, de trabalhar. O que não parece ter ocorrido com a senhora Fillon, pois ninguém se lembra de ver a mulher de Fillon pelos corredores da Assembleia Nacional, em Paris, nem sequer a fazer trabalho político no seu círculo eleitoral.
“Nunca trabalhei com ela. Só a conhecia como mulher do ministro”, disse ao Le Canard Enchaîné Jeanne Robinson-Behre, uma assistente parlamentar que deveria ter trabalhado com Penelope Fillon.
A própria mulher de Fillon – de origem britânica, com estudos em literatura inglesa e francesa e direito – disse várias vezes que nunca se envolveu na carreira política do marido. Por exemplo, em 2016, numa entrevista ao jornal Le Bien Public, citada pelo Le Monde: “Até agora, nunca me envolvi na vida pública do meu marido.” E dizia que só quando ele concorresse às primárias do centro-direita - quando foi designado como candidato às presidenciais de Abrill - iria participar pela primeira vez na campanha eleitoral.
François Fillon, que está numa curva ligeiramente descendente depois de ter ganho as primárias no fim de Novembro, tenta relançar a sua campanha no momento em que a esquerda escolhe o seu candidato para as presidenciais. Considera esta notícia é um “ataque que demonstra desprezo e misoginia”. Embora não negue ou contraponha factos.
França já teve uma série de casos de empregos fictícios que chegaram à justiça, em que foram condenados vários políticos, como o ex-primeiro-ministro Alain Juppé, o ex-Presidente Jacques Chirac (por actos cometidos enquanto presidente da câmara de Paris) ou o actual primeiro secretário do Partido Socialista, Jean-Christophe Cambadélis, para citar apenas alguns.