“Para o PS, este era o momento ideal para ter eleições”
A possibilidade de se tornar o principal partido no Parlamento pode levar o PS a querer eleições, defende Vítor Bento. Os socialistas poderiam mudar a relação de forças que hoje existe e diminuir a dependência da componente mais à esquerda.
Vítor Bento acredita que para o Partido Socialista (PS) provavelmente este era o momento ideal para ir a votos, no seguimento do caso da Taxa Social Única (TSU) e depois de Bloco e PCP terem pedido a apreciação parlamentar da TSU, que hoje se discute no Parlamento. O economista diz que os partidos à esquerda quiseram entalar o PS e que, se mais episódios destes se repetirem, estar-se-á perante um cenário de instabilidade que dificilmente poderá perdurar.
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Vítor Bento acredita que para o Partido Socialista (PS) provavelmente este era o momento ideal para ir a votos, no seguimento do caso da Taxa Social Única (TSU) e depois de Bloco e PCP terem pedido a apreciação parlamentar da TSU, que hoje se discute no Parlamento. O economista diz que os partidos à esquerda quiseram entalar o PS e que, se mais episódios destes se repetirem, estar-se-á perante um cenário de instabilidade que dificilmente poderá perdurar.
O episódio da TSU foi isso mesmo, um episódio, ou o modelo de apoio ao Governo está esgotado?
Receio que não. Receio que, esgotado o consenso redistributivo em que se baseou a acção até aqui, daqui para a afrente não há mais para reverter ou distribuir e, desse ponto de vista, receio que a sustentabilidade da coligação se torne mais difícil, e que as diferenças de conceptualização do mundo entre os dois lados, o PS e os partidos mais à esquerda, comecem a acentuar-se e a tornarem-se mais difíceis. Relativamente ao episódio da TSU, enquanto análise política, não consigo perceber a acção dos parceiros do PS a não ser entalá-lo. Tinham conseguido o seu grande objectivo, o aumento do salário mínimo; não concordavam com a TSU, faziam a sua declaração de que não concordavam; o Governo, usando o seu poder legislativo, legislava; e toda a gente da coligação ficava satisfeita. Os partidos da extrema-esquerda tinham feito a sua declaração de interesses, dessa forma apaziguavam a sua base de apoio, o Governo conseguia, no fundo, fazer valer a solução que tinha acordado na concertação, o salário mínimo era aumentado e, portanto, a situação continuava. Não se percebe é porque é que depois os partidos da coligação resolvem pôr o Governo em xeque. É um movimento agressivo e vai, inevitavelmente, deixar feridas.
O que seria menos perturbador para o país: eleições antecipadas ou deixar esse eventual cenário de instabilidade?
Esse cenário de instabilidade dificilmente poderá perdurar. Se se continuarem a verificar contradições destas, mais uma vez pode ser que as improbabilidades... é complicada e implicará um desgaste para o próprio Governo. Desse ponto de vista, o Governo, e em particular o PS, pode querer clarificar a situação. Aliás, começou a haver observações sobre a apresentação de uma moção de confiança que, no fundo, obriga cada um a definir-se. Também entendo que para o PS, provavelmente, este seria o momento ideal para ter eleições. Começa a aproximar-se da maioria absoluta, não creio que a atinja, mas a possibilidade de se tornar o principal partido no Parlamento muda a relação de forças que hoje existe e diminui a sua dependência da componente mais à esquerda. Poderá ter de continuar a fazer alianças, mas já não depende de dois partidos, o que significa que fica com mais flexibilidade e que pode, inclusivamente, optar por fazer o que sempre fez no passado, que é negociar apoios à esquerda e à direita pontualmente.