ASAE encontrou problemas em mais de um quinto dos talhos fiscalizados em 2016
Associação de defesa do consumidor desaconselha compra de hambúrgueres já picados nos talhos.
A venda de carne é dos negócios mais fiscalizados pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e os resultados não parecem ser animadores: a fiscalização a 610 talhos, ao longo do ano passado, permitiu detectar problemas de vária ordem em mais de um quinto dos estabelecimentos, revelou nesta segunda-feira aquele organismo.
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A venda de carne é dos negócios mais fiscalizados pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e os resultados não parecem ser animadores: a fiscalização a 610 talhos, ao longo do ano passado, permitiu detectar problemas de vária ordem em mais de um quinto dos estabelecimentos, revelou nesta segunda-feira aquele organismo.
Vinte talhos foram alvo de processos-crime por “incumprimentos” vários, como a utilização indevida da denominação de origem protegida, abate clandestino e “produtos avariados” (impróprios para consumo). A estes processos somaram-se 134 de contra-ordenação, devido a múltiplas infracções, como o “desrespeito das normas higiénicas e técnicas aplicáveis” e “a falta ou inexactidão de rotulagem”, especificou a ASAE, em resposta escrita ao PÚBLICO.
Os resultados do trabalho da ASAE foram divulgados depois de a DecoProteste ter lançado mais um alerta – o terceiro desde 2013 – contra a venda de carne previamente picada em talhos, desta vez sob a forma de hambúrgueres: 80% das amostras de hambúrgueres de vaca dos 25 talhos de Lisboa e do Porto visitados apresentavam problemas de higiene e conservação e sulfitos (conservantes que conferem à carne um aspecto fresco, “enganando os consumidores”, e que são potencialmente perigosas para alérgicos) e quatro tinham salmonelas (bactéria que pode ser problemática se alimentos não forem bem cozinhados), refere a associação.
Mais: na esmagorada maioria dos casos (92%), a carne estava conservada a temperaturas demasiado elevadas. O máximo que a lei prevê são 2 graus Celsius.
Face a estes resultados, que, no geral, são semelhantes aos encontrados em dois estudos anteriores, a associação de defesa dos consumidores reclama que a venda de carne já picada seja proibida, como chegou a ser no passado, explica o coordenador do estudo, Nuno Dias. Esta recomendação vai, aliás, ser feita ao Parlamento. A nova investigação atesta que “os problemas continuam, apesar dos sucessivos alertas”, justifica Nuno Dias, que aconselha as pessoas a picarem a carne em casa, ou a pedirem que seja picada à sua frente nos talhos.
Depois de conhecido este estudo, a ASAE adiantou também que avaliou 202 amostras de carne picada e preparados de carne ao longo de 2016, tendo encontrado problemas em cerca de 10%, nomeadamente sulfitos em 14 e salmonelas em sete. Problemas com uma dimensão bem inferior aos revelados pelo estudo da DecoProteste e que a ASAE tenta, de certa forma, desdramatizar, ao sublinhar que o consumo da carne picada “é feito após confecção (excepto o bife tártaro), e este tratamento térmico permite reduzir o risco associado ao consumo da carne picada para níveis aceitáveis”.
Já tentaram “desvalorizar os outros estudos”, recorda Nuno Dias. Esta foi a terceira investida da DecoProteste contra a carne previamente picada em talhos. Em 2013, a revista anunciava também resultados “alarmantes” num primeiro estudo sobre a carne de vaca picada vendida em talhos da Grande Lisboa e do Grande Porto. Revelava, então, a presença de salmonela, listeria e aditivos perigosos, além de temperaturas de conservação acima do imposto por lei, numa parte das amostras.
Dois anos mais tarde, em Janeiro de 2015, uma investigação idêntica permitiu perceber que os problemas persistiam e se tinham mantido em 12 dos estabelecimentos anteriormente estudados. Este estudo incidiu em 26 talhos da Grande Lisboa, Grande Porto e Setúbal. Destes, 23 adicionavam sulfitos à carne e todos conservavam o produtos em temperaturas acima das previstas na lei. A fiscalização pelas entidades competentes “falha”, concluíam então.
Em declarações à Lusa, o inspector-geral da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, disse esta segunda-feira que o estudo, que ainda desconhecia, é um bom contributo para a defesa do consumidor e adiantou que o vai remeter para o conselho científico do organismo.