McGuinness passou o testemunho à nova geração no Sinn Féin
Michelle O’Neill é a escolhida para nova líder do partido na Irlanda do Norte. A até agora ministra da Saúde é a primeira da geração formada após os acordos de paz.
Será Michelle O’Neill, a até agora jovem ministra da Saúde da Irlanda do Norte, de 40 anos, a ocupar o lugar deixado vago por Martin McGuinness e a assumir a liderança do Sinn Féin na dura campanha para as eleições antecipadas de Março. Uma escolha que marca o início de uma transição histórica no partido republicano – é a primeira dirigente da geração formada após os acordos de paz de Sexta-feira Santa.
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Será Michelle O’Neill, a até agora jovem ministra da Saúde da Irlanda do Norte, de 40 anos, a ocupar o lugar deixado vago por Martin McGuinness e a assumir a liderança do Sinn Féin na dura campanha para as eleições antecipadas de Março. Uma escolha que marca o início de uma transição histórica no partido republicano – é a primeira dirigente da geração formada após os acordos de paz de Sexta-feira Santa.
Não será fácil estar à altura de McGuinness, “um gigante político”, “um homem que é uma lenda”, reconheceu O’Neill, assim que foi anunciada como nova líder do partido na Irlanda do Norte. Sentado ao seu lado, o antigo comandante do Exército Republicano Irlandês (IRA), que foi depois negociador do Sinn Féin nas conversações de paz, antes de ter assumido, em 2007, o cargo de vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte declarou-se “radiante” com a escolha, que abre caminho a uma “mudança geracional”.
Uma passagem de testemunho que, admitiu o próprio McGuinness numa entrevista em Setembro ao jornal Irish Times, estava a ser planeada há muito, tanto por ele como por Gerry Adams, presidente do Sinn Féin desde 1983 e deputado no Parlamento de Dublin. Mas o início da saída de cena da geração formada nos anos de chumbo dos confrontos na Irlanda do Norte, acabaria por ser precipitada pela crise no governo que o Sinn Féin partilhava há quase uma década com o Partido Democrático Unionista (DUP).
Há duas semanas, depois de meses de tensão, McGuinness demitiu-se do cargo de vice-primeiro-ministro por causa de um escândalo de incentivos fiscais que envolvia directamente Arlene Foster, chefe do governo autónomo e líder dos unionistas, fazendo cair o executivo e precipitando novas eleições, que vão realizar-se a 2 de Março, menos de dez meses depois das últimas. Visivelmente doente há meses, o antigo guerrilheiro anunciou na semana passada que não tinha “condições físicas” para enfrentar mais uma campanha e depressa a imprensa, a norte e a sul da fronteira, apontou O’Neill como favorita.
Nascida numa família com forte tradição republicana – o pai esteve várias vezes preso por ligações ao IRA, um primo foi um dos paramilitares mortos numa célebre emboscada das forças especiais britânicas em 1991 –, tornou-se militante do partido aos 21 anos, foi assessora de McGuinness, autarca e, desde 2007, é deputada no parlamento autónomo. Em 2011, foi nomeada ministra da Agricultura e no ano passado assumiu a pasta da Saúde, considerada uma das mais difíceis do executivo, e nas duas afirmou a sua reputação de pragmática e próxima dos eleitores.
A imprensa garante que é totalmente leal a Adams e à liderança histórica, “mas pertence claramente à ala mais liberal do partido, capaz de apelar aos eleitores mais jovens”, que já não viveram o auge dos “Troubles”, escreve o Belfast Telegraph, enquanto o jornal irlandês Independent afirma que representa o que o partido já se habituou a chamar “o Novo Sinn Féin”, de que faz também parte Mary Lou McDonald, “número dois” de Adams e tida como sua potencial sucessora.
Mas a campanha já em marcha anuncia-se como uma das mais duras dos últimos anos. Foster prometeu dar luta ao Sinn Féin, a quem acusa de ter precipitado a queda do executivo para obter ganhos eleitorais e os republicanos acreditam que o escândalo vai minar o DUP, permitindo-lhes vencer, pela primeira vez, as eleições e nomear o próximo primeiro-ministro. Mudem, ou não, as posições ocupadas pelos dois partidos (e a maioria das previsões não acredita que isso aconteça) é garantido que só um acordo entre ambos permitirá formar um novo governo, pelo que as negociações pós-eleitorais prometem ser ainda mais duras que a campanha.
A isto soma-se as negociações que Londres vai iniciar para a saída da União Europeia e que, a par da violência recorrente de grupos dissidentes, ameaçam desestabilizar a paz na Irlanda do Norte. “O Sinn Féin está bem colocado para ter um bom resultado eleitoral” escreveu Suzanne Breen no jornal Independent. “Será só quando começarem as negociações e depois delas que se sentirá a falta da mão forte e segura de Mcguinness. Até o DUP poderá lamentar a sua partida.”