Um fim-de-semana no Reino Unido sem sair da Casa da Música
O Ano Britânico começa esta sexta-feira no Porto com um programa concentrado, que até domingo percorrerá algumas obras essenciais da música inglesa de várias épocas, do Renascimento ao presente.
Inaugurando o Ano Britânico na Casa da Música, o programa God Save the Queen apresenta esta sexta-feira à noite na Sala Suggia - após um dia de Casa Aberta, com visitas guiadas, na quinta-feira - o concerto Sagração Britânica, que percorre algumas obras-primas da música do Reino Unido, do conjunto Lachrimae (1604), do compositor renascentista John Dowland, numa versão vocal contemporânea da responsabilidade de Paul Hillier, passando pelo hino patriótico Rule Britannia, que Thomas Arne musicou no século XVIII, a Earth Dances, de Harrison Birtwistle, considerado o mais importante compositor britânico no activo, e Júpiter, da suite The Planets, de Gustav Holst, uma conhecida obra orquestral do primeiro quartel do século XX cuja secção central foi usada em diversas canções nacionalistas.
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Inaugurando o Ano Britânico na Casa da Música, o programa God Save the Queen apresenta esta sexta-feira à noite na Sala Suggia - após um dia de Casa Aberta, com visitas guiadas, na quinta-feira - o concerto Sagração Britânica, que percorre algumas obras-primas da música do Reino Unido, do conjunto Lachrimae (1604), do compositor renascentista John Dowland, numa versão vocal contemporânea da responsabilidade de Paul Hillier, passando pelo hino patriótico Rule Britannia, que Thomas Arne musicou no século XVIII, a Earth Dances, de Harrison Birtwistle, considerado o mais importante compositor britânico no activo, e Júpiter, da suite The Planets, de Gustav Holst, uma conhecida obra orquestral do primeiro quartel do século XX cuja secção central foi usada em diversas canções nacionalistas.
Interpretado pela Orquestra Sinfónica e pelo Coro da Casa da Música, não é por acaso que o concerto inaugural abre com John Dowland, explica o director artístico da sala portuense, António Jorge Pacheco, lembrando que este contemporâneo de Shakespeare “é uma referência fundamental” para o octogenário Harrison Birtwistle, que a Casa da Música terá como compositor residente em 2017. A obra de Dowland, um conjunto de peças instrumentais originalmente escritas para a mulher de Jaime VI, Ana da Dinamarca, será uma oportunidade para ouvir o Coro cantar a capella esta versão de Lachrimae, que usa textos de autores de diferentes épocas, do escritor e aventureiro isabelino Walter Raleigh a grandes poetas do século XX, como T. S. Eliot ou Dylan Thomas.
Earth Dances, diz ainda António Jorge Pacheco, “é vista como uma Sagração da Primavera para o século XXI”, e a sua interpretação, esta sexta-feira, bem como a apresentação, no sábado, de Theseus Game, uma complexa obra de Birtwistle que exige dois maestros em palco, irão ser certamente momentos altos deste fim-de-semana de música britânica no Porto.
A preceder o concerto inaugural do programa God Save the Queen, no qual Pacheco vê “uma síntese” do que irá ser a programação do Ano Britânico, a directora de Música do British Council, Cathy Graham, apresenta esta sexta-feira ao fim da tarde, no Café da Casa da Música, quatro dos mais reconhecidos compositores britânicos da nova geração: Edmund Finnis, Daniel Kidane, Philip Venables, autor de obras de forte dimensão política, e Emily Howard, conhecida pela particular ligação que a sua música estabelece com a ciência.
O Ano Britânico da Casa da Música foi pensado, decidido e preparado muito antes do referendo que deu a vitória ao Brexit, em Junho passado, mas a coincidência de decorrer no ano em que o Reino Unido negoceia a sua saída da União Europeia veio dar-lhe uma inesperada ressonância política. E houve ainda tempo de incluir no programa deste fim-de-semana o debate O impacto do Brexit na vida musical britânica, moderado no sábado à tarde pelo musicólogo Tom Service. Um dos oradores será Nicholas Kenyon, actual director do Barbican Centre, que dirigiu durante mais de uma década, de 1996 a 2007, os célebres festivais de música BBC Proms e foi uma voz activa a favor da permanência do país na União Europeia durante a campanha do Brexit.
Antes do debate, às 16h00, o Serviço Educativo da Casa da Música apresenta o espectáculo To Be or Not to Britten, concebido e dirigido por Mário João Alves e centrado no compositor Benjamin Britten (1913-1976), uma das grandes figuras da cultura inglesa do século XX. E às 18h, o Remix Ensemble e a soprano Juliet Fraser interpretam na Sala Suggia o concerto Inglaterra Hoje, com direcção musical de Peter Rundel e Pedro Neves, que apresentará, em estreia nacional, peças recentes de três compositores contemporâneos: Skin, de Rebecca Saunders, Van Gogh/Blue, de Julian Anderson, que se inspirou num conjunto de cartas em que o pintor descreve as técnicas que utiliza nos seus quadros, e a já citada Theseus Game, de Birtwistle, que recupera o mito de Teseu e do Minotauro do labirinto de Creta.
A fechar este fim-de-semana britânico, o Coro da Casa da Música interpreta no domingo ao fim da tarde, na Sala Suggia, o concerto A Vida das Palavra, título que evoca uma expressão utilizada pelo compositor renascentista William Byrd, representante da época de ouro dos grandes polifonistas ingleses: “A música em sintonia com a vida das palavras”. Com direcção musical de Paul Hillier, o concerto inclui um conjunto de compositores particularmente relevantes para a obra de Harrison Birtwistle, a começar por John Dunstable (c.1390-1453), unanimemente reconhecido como o maior compositor inglês anterior a William Byrd. John Tallis, o mestre de Byrd, o compositor e organista John Taverner e o autor de Lachrimae, John Dowland, são outros autores representados neste concerto, que incluirá ainda a estreia em Portugal de uma peça do próprio Birtwistle, Three Motets.
Se God Save the Queen! se propõe mostrar alguns dos momentos altos da música inglesa, alguns deles de conteúdo assumidamente patriótico, nestes tempos de Brexit também convirá lembrar, como o faz Nicholas Kenyon num recente artigo para o diário inglês Guardian, que “a melhor música britânica nunca foi insular” e que a tradição musical inglesa, de Byrd ou Purcell às sinfonias de Edward Elgar, no século XX, sempre se desenvolveu em diálogo com os modelos europeus.