Insuficiência cardíaca afecta 380 mil portugueses, mas tem sido doença esquecida

Médica coordenadora de documento sobre o tratamento insuficiência cardíaca em Portugal refere que é necessário alocar melhor as verbas já existentes nos cuidados de saúde primários, com especial enfoque na prevenção.

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A insuficiência cardíaca consome 1 a 3% do orçamento para a saúde nos países desenvolvidos MARIA JOãO GALA

A insuficiência cardíaca afecta cerca de 380 mil pessoas em Portugal, mas não tem recebido a prioridade necessária, faltando nomeadamente meios para a diagnosticar de forma precoce, conclui um grupo de peritos.

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A insuficiência cardíaca afecta cerca de 380 mil pessoas em Portugal, mas não tem recebido a prioridade necessária, faltando nomeadamente meios para a diagnosticar de forma precoce, conclui um grupo de peritos.

"A insuficiência cardíaca é uma síndrome com elevada prevalência, morbilidade e mortalidade, que representa uma sobrecarga económica e social de grande magnitude. Porém, em Portugal tem sido alvo de pouca atenção", avisa o grupo de especialistas que elaborou um documento de consenso sobre a doença.

Cândida Fonseca, médica que coordenou o documento, sublinhou à agência Lusa que "há uma necessidade urgente de priorizar a insuficiência cardíaca na agenda da saúde". A ideia não passa por pedir mais recursos ou mais verbas, mas antes realocar os que existem, de modo a diagnosticar mais precocemente a doença, nomeadamente nos cuidados de saúde primários.

"Pretendemos até poupar recursos. O facto de não estarmos despertos para o diagnóstico precoce, não termos alguns meios de diagnóstico disponíveis e comparticipados nos cuidados primários faz com que a doença seja tardiamente diagnosticada. Muitas vezes é-o quando o doente vai à urgência e já está muito mal, descompensado. E é onde se gasta a maior parte do dinheiro com insuficiência cardíaca. A ideia é poupar com internamentos, prevenindo-os. Investir na prevenção", resumiu Cândida Fonseca.

Aliás, dados nacionais de 2015 mostram que o número de internamentos por insuficiência cardíaca cresceu 33% em oito anos, de 2004 a 2012. A médica explica que a doença tem um quadro clínico pouco específico (que passa pela falta de ar ou cansaço), que é comum a várias outras doenças e pode acontecer que nem se desenvolvam sintomas.

Muitas vezes, o diagnóstico faz-se por exclusão. Há inclusivamente uma análise de sangue que permite excluir a doença, mas não está disponível de forma comparticipada nos cuidados de saúde primários.

Assim, os peritos pretendem que o diagnóstico seja melhorado através da disponibilização nos centros de saúde de meios comparticipados para detectar ou excluir a patologia.

Como medidas para tornar prioritária a insuficiência cardíaca, os especialistas querem que se crie e aplique um plano de formação de profissionais de saúde, nomeadamente de médicos e enfermeiros, e que se crie um boletim para a doença que permita um acompanhamento mais adequado dos doentes, facilitando o acesso a todos os que participam na assistência.

É ainda sugerido que a insuficiência cardíaca seja considerada uma prioridade no Programa Nacional das Doenças Cérebro-Cardiovasculares e propõe-se o lançamento de uma campanha de informação e sensibilização junto dos cidadãos.

Os peritos lembram ainda que em Portugal não existe um algoritmo de tratamento padronizado e sistematicamente aplicado para a insuficiência cardíaca.

Para debater estas questões consideradas urgentes, decorre na sexta-feira em Lisboa uma conferência aberta sobre o futuro da doença em Portugal, considerada uma das principais epidemias do século XXI e que consome 1 a 3% do orçamento para a saúde nos países desenvolvidos.

A insuficiência cardíaca define-se essencialmente como uma síndrome causada por uma anomalia da estrutura ou da função cardíaca, conduzindo a um débito sanguíneo inadequado às necessidades do organismo.