Teresa Novais: "A sociedade celebra a excelência da arquitectura, mas não lhe reconhece valor social e económico"
Teresa Novais, candidata da Lista C à presidência da Ordem dos Arquitectos, responde ao inquérito do PÚBLICO.
Teresa Novais é um dos três candidatos à presidênciado do conselho directivo nacional da Ordem dos Arquitectospela, cujas eleições são esta sexta-feira. Com 54 anos, tem escritório no Porto, o atelier aNC, que divide como Jorge Carvalho. O atelier foi a equipa local que assistiu Rem Koolhaas na construção da Casa da Música.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Teresa Novais é um dos três candidatos à presidênciado do conselho directivo nacional da Ordem dos Arquitectospela, cujas eleições são esta sexta-feira. Com 54 anos, tem escritório no Porto, o atelier aNC, que divide como Jorge Carvalho. O atelier foi a equipa local que assistiu Rem Koolhaas na construção da Casa da Música.
Quais os principais problemas da profissão, hoje, e qual o papel da Ordem na sua abordagem?
O exercício da profissão de arquitecto vive hoje um paradoxo: por um lado, a sociedade celebra a excelência da arquitectura portuguesa, por outro, não lhe reconhece valor social e económico.
Os nossos serviços são vistos como um custo e não um investimento na geração de património e riqueza. Esta visão, conjugada com a crise económica, provocou a degradação acentuada da profissão. Somos confrontados com a necessidade de aceitar condições de trabalho incompatíveis com as responsabilidades e complexidade dos serviços que prestam. A encomenda privada e, mais grave, a encomenda pública, só valorizam o factor preço e não a qualidade.
A profissão mudou, os serviços do arquitecto são muito mais abrangentes e, acima de tudo, contribuem para uma melhoria significativa da vida das populações e do futuro do país.
O desafio da OA hoje é político e de afirmação pública na defesa de condições dignas para exercer a profissão que o Estado nos confia. A OA tem de ser a referência dos actos da profissão para o cidadão, o Estado e o arquitecto.
A reabilitação urbana está na agenda económica do governo e da sociedade. Como é que isso se reflecte na arquitectura e na profissão?
A reabilitação está em grande parte dirigida para o turismo. A inexistência de uma política de cidades permite a massificação dos alojamentos turísticos, afastando as comunidades locais e as suas actividades, enquanto largas zonas, além dos centros históricos e no mundo rural, necessitam urgentemente de processos de reabilitação.
Se o turismo permitiu a sobrevivência imediata de alguns ateliers, também os arquitectos são os primeiros críticos do modo como estas operações se estão a desenvolver, quer na ausência da política de cidades, quer na qualidade arquitectónica, construtiva e infraestrutural das intervenções. A legislação aprovada para facilitar a intervenção veio em auxílio de obras que descuram as condições de conforto e de segurança entre outras, permitindo até a ausência de técnicos. Os serviços de projecto neste domínio deviam beneficiar da redução do valor de IVA, à semelhança da construção.
O corrente investimento na reabilitação não pode ser mais uma oportunidade perdida para o país. Importa que os arquitetos sejam intervenientes centrais nos processos de reabilitação urbana e do território porque nas suas competências destaca-se a vocação ímpar de interpretar a matéria base da reabilitação: o edificado e o espaço público, e logo, projetar o seu potencial de transformação para servir o futuro colectivo.
Como se pode abrir/facilitar o acesso à profissão por parte dos arquitectos mais jovens?
O actual bloqueio de acesso de novos arquitectos à profissão é uma porta aberta para a perda, no país, de capacidade de resposta qualificada num futuro próximo. Propomos iniciar uma reflexão multidisciplinar sobre os desafios até 2050, onde queremos estar, e que papel pode ter a arquitectura. Os jovens arquitectos são o elo mais fraco numa profissão precária e é a pensar neles que se torna urgente lutar pelo valor e pelo potencial multiplicador da profissão.
O mercado público representa 20% dos serviços de arquitectura em Portugal e está concentrado num pequeno número de profissionais. Propomos a criação de bolsas bianuais para a contratação de serviços do arquitecto na categoria dos ajustes directos e que os critérios de acesso contemplem a entrada de novos profissionais.
Propomos também a bolsa dos arquitectos oficiosos, democratizando esse direito, e permitindo que esteja acessível a todas as franjas da população, a que um número significativo de jovens poderá aceder ao seu serviço, e demonstrar as suas competências.