Repo-Man, uma proteína relevante para divisão celular que também regula genes

Inês Castro publicou um artigo científico que mostra que a proteína Repo-Man tem um papel importante na activação ou silenciamento dos nossos genes. A descoberta pode ter implicações em doenças como o cancro.

Foto
Imagens por microscopia que mostram o início da divisão celular e a sua fase final com o ADN (a azul) das células filhas já separado DR

A proteína Repo-Man que desempenha um papel importante no processo de divisão celular é também capaz de ligar e desligar os nossos genes. A cientista portuguesa Inês Castro é a primeira autora do artigo publicado esta semana na revista Nature Communications que descreve a acção deste novo “actor” genético. A descoberta pode ser importante para investigar situações de anomalia em certos genes associados a doenças como cancro.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A proteína Repo-Man que desempenha um papel importante no processo de divisão celular é também capaz de ligar e desligar os nossos genes. A cientista portuguesa Inês Castro é a primeira autora do artigo publicado esta semana na revista Nature Communications que descreve a acção deste novo “actor” genético. A descoberta pode ser importante para investigar situações de anomalia em certos genes associados a doenças como cancro.

Imagine um daqueles interruptores que permitem a regulação da intensidade da luz. Neste cenário, a luz seria a proteína estudada nesta investigação. Assim, quando aumentamos a presença de Repo-Man desencadeamos uma série de eventos que reprimem os genes. Por outro lado, se apagarmos a luz os genes ficam activos. A imagem é trazida pela investigadora Inês Castro que se encontra a trabalhar na Universidade Brunel, em Londres, e assina o artigo que mostra que a Repo-Man, além de importante para a divisão celular, interfere nos nossos genes.

“Não se sabia o que fazia a Repo-Man depois da divisão celular”, explica a cientista ao PÚBLICO, adiantando que a investigação permitiu concluir que esta proteína “tem um papel fundamental em controlar estados de repressão celular”. “A presença da Repo-Man parece atrair uma cadeia de reacção associada à repressão de genes – neste caso, temos mais metilação [alteração química] na histona [proteína] H3 (H3K27me)”, adianta.

A Repo-Man não é a única proteína identificada com esta capacidade de activar ou desligar genes. É mais um caminho para sabermos como os nossos genes são controlados. “Em situações de alteração de padrão genético, por exemplo, em casos de cancro onde há uma anormalidade de expressão [actividade] genética, podemos começar a tentar investigar quais são os culpados para tal anomalia”, diz a cientista, que antecipa ainda: “Quando um dia soubermos todas as proteínas que trabalham a este nível, podemos verificar num paciente qual ou quais delas poderão ter desencadeado este padrão anormal de expressão genética.” No entanto, avisa, ainda há muito trabalho pela frente.

As investigações que procuram encontrar novas formas de controlo de expressão genética, que vão além da informação contida no nosso ADN, ainda têm um longo caminho a percorrer. Mas as novas tecnologias de sequenciação genética têm ajudado a completar um mapa de proteínas e outros factores capazes de ligar ou desligar genes. “Não faço ideia se algum dia este mapa estará completo”, admite Inês Castro, acrescentando que “quantas mais proteínas podermos adicionar a este mapa de factores que regulam a nossa informação genética mais saberemos o que fazer quando estão disfuncionais”.

Neste trabalho, através da técnica desenvolvida pela equipa (TAG-proteogenomics), os investigadores perceberam que a Repo-Man se liga especificamente a certos tipos de genes, os que estão no fim dos cromossomas. “Se esta proteína tiver alterada, em elevada concentração, como é o caso de alguns cancros, quem sabe se este padrão não se pode alterar? Será que se liga a mais genes do que devia? Esse é o objectivo de investigações futuras”, refere a investigadora.