O soberano no seu labirinto
Albert Serra assina o seu melhor filme para e por Jean-Pierre Léaud, numa interpretação admirável sem a qual A Morte de Luís XIV não poderia sequer existir.
A Morte de Luís XIV é, com a devida distância, o equivalente masculino da Ela de Verhoeven: um filme que só existe por causa do actor que lhe está no centro, um Jean-Pierre Léaud admirável, magnético, diríamos mesmo monumental, sem para isso precisar sequer de se levantar da cama onde passa quase todo o filme.
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A Morte de Luís XIV é, com a devida distância, o equivalente masculino da Ela de Verhoeven: um filme que só existe por causa do actor que lhe está no centro, um Jean-Pierre Léaud admirável, magnético, diríamos mesmo monumental, sem para isso precisar sequer de se levantar da cama onde passa quase todo o filme.
Tal como a Huppert no Verhoeven, também este filme não seria sequer imaginável sem Léaud no seu centro, espécie de buraco negro que suga tudo — luz, vida, energia — até restar apenas um transe pictural, um limbo hipnótico reduzido às quatro paredes de um quarto onde o Rei-Sol se fina sob os olhares da corte e à luz mortiça das velas.
Albert Serra, capaz do insuportável e do intrigante, ergue-se à altura do seu actor e assina o seu melhor filme; compõe um retrato quase Sokuroviano do “soberano às portas da morte”, preso num labirinto de manipulação e dependência a que vai lentamente cedendo, mas sem nunca perder uma peculiar e quase desafiadora dignidade. Mas não há como enganar: o filme, é ele, Léaud, e isso chega e mais do que sobra.