Falta liberdade religiosa, indica inquérito académico feito a protestantes e evangélicos
A maioria dos inquiridos considera que a entrada de refugiados vai fazer com que a liberdade religiosa seja menor.
Em Portugal há um défice de liberdade religiosa e os imigrantes vão agravar a situação, conclui um inquérito a lideranças protestantes e evangélicas, que concordam com o diálogo inter-religioso mas não o praticam. São conclusões da primeira fase de um inquérito às lideranças religiosas sobre percepção de liberdade religiosa, que será divulgado na quarta-feira, na apresentação pública do Instituto de Cristianismo Contemporâneo, da Universidade Lusófona, em Lisboa.
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Em Portugal há um défice de liberdade religiosa e os imigrantes vão agravar a situação, conclui um inquérito a lideranças protestantes e evangélicas, que concordam com o diálogo inter-religioso mas não o praticam. São conclusões da primeira fase de um inquérito às lideranças religiosas sobre percepção de liberdade religiosa, que será divulgado na quarta-feira, na apresentação pública do Instituto de Cristianismo Contemporâneo, da Universidade Lusófona, em Lisboa.
As lideranças protestantes e evangélicas "na teoria aceitam o diálogo entre religiões mas na prática não se dão muito ao diálogo, falta-lhes iniciativa", disse à Agência Lusa o coordenador do Instituto, José Brissos-Lino. Segundo os resultados do inquérito quase metade das lideranças protestantes e evangélicas questionadas diz que as comunidades religiosas não fomentam o diálogo entre as religiões, e mais de metade (52%) admite que nunca organizou uma actividade com outras religiões, ainda que 70% diga que é a favor do diálogo inter-religioso.
Questionadas sobre se o actual fluxo de refugiados vai ter implicações na liberdade religiosa, 61% das lideranças disse que sim, e 70% considerou que a liberdade religiosa vai diminuir na Europa. Já sobre se a sociedade portuguesa acolherá bem o aumento de população islâmica a maior parte diz que não sabe, 30,6% diz que não e 27,8% que sim.
Embora um pouco mais de metade dos inquiridos pense que a sociedade portuguesa é religiosamente tolerante, 69,4% disse que já teve na sua comunidade algum problema de liberdade religiosa, 77,8% defendeu que o Estado não tem desempenhado bem a função de promover a liberdade religiosa, e 64% que a lei não garante uma efectiva liberdade religiosa. Mais de metade das lideranças inquiridas considera como "muitíssimo grande" o peso da Igreja Católica na sociedade portuguesa.
"As minorias religiosas normalmente são prejudicadas quando há uma mais representativa", salientou José Brissos-Lino, acrescentando que a liberdade religiosa é condicionada pela concordata (acordo entre Santa Sé e Estado) e dando um exemplo: quando se faz uma nova urbanização se há um equipamento religioso é sempre católico, as minorias "têm de alugar lojas". De acordo com o responsável "é mais fácil para judeus ou muçulmanos não serem discriminados, porque são religiões estabelecidas, do que outros ramos do cristianismo", ainda que na verdade "as comunidades evangélicas têm um peso maior do que muçulmanos ou judeus".
Além do estudo, a sessão de apresentação do Instituto de Cristianismo Contemporâneo servirá para falar de um ciclo de conferências sobre desafios ao cristianismo, das jornadas de "cristianismo contemporâneo", do congresso lusófono ou do congresso internacional sobre Lutero, em Novembro deste ano (na passagem dos 500 anos sobre a reforma religiosa).
Segundo Brissos-Lino está a ser feito outro inquérito sobre a percepção do cristianismo junto de jovens universitários de Portugal, África do Sul, Brasil e Estados Unidos, e em fase de conclusão outro sobre a percepção do islão entre jovens universitários portugueses. "O objectivo é ligar o meio religioso à academia", disse o professor, lembrando que as primeiras universidades do mundo começaram com estudos teológicos, que hoje estão praticamente banidos.