De volta a 2011?
Quando o PSD sublinha que não será muleta do Governo PS, denuncia um objectivo: acentuar a fragilidade de Costa. Mas também assume um risco político, talvez maior do que no passado.
Talvez se lembrem de como foi com o PEC IV: José Sócrates não tinha maioria e precisava do PSD para aprovar as medidas de austeridade, mas só um dia antes de ir para Bruxelas chamou Passos Coelho para lhe pedir esse voto. Sócrates foi, mas Passos roeu-lhe a corda. Sabendo que nem Cavaco Silva, então Presidente da República, tinha sido antes informado do que constava naquele documento - pelo que teria sempre o seu apoio na estrada que iria percorrer.
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Talvez se lembrem de como foi com o PEC IV: José Sócrates não tinha maioria e precisava do PSD para aprovar as medidas de austeridade, mas só um dia antes de ir para Bruxelas chamou Passos Coelho para lhe pedir esse voto. Sócrates foi, mas Passos roeu-lhe a corda. Sabendo que nem Cavaco Silva, então Presidente da República, tinha sido antes informado do que constava naquele documento - pelo que teria sempre o seu apoio na estrada que iria percorrer.
Foi uma das decisões políticas mais arriscadas da vida política de Passos: decidiu dizer ao país que não aprovaria as medidas de austeridade, sabendo que, com isso, estava a ditar o fim daquele Governo. E assim aconteceu: Sócrates perdeu uma votação na Assembleia, demitiu-se, convocou eleições. O país acabou sem acesso aos mercados, com as agências de rating a declarar-nos equivalentes a lixo, com o FMI a bater à porta. O PSD podia ter esperado, mas assumiu parte de um ónus que não era seu. Acelerar o calendário político tinha, para ele, a vantagem de tirar Sócrates do poder e a desvantagem de partilhar o risco: ao financeiro de Sócrates, juntou-se o político de Passos.
Estamos agora em 2017 – e muitas coisas mudaram desde então. Mas Passos está de novo na oposição e o PS volta a governar sem maioria (pelo menos sem ela em grande parte das decisões estratégicas, que vai tomando ao centro).
Sem saber se o diabo chega mais tarde ou mais cedo (se é que chega), Passos tem sido errático na estratégia de como lidar com esta minoria. Começou por apoiar a venda do Banif, depois virou "do contra" quando chegou o primeiro orçamento". E virou outra vez, para uma posição mais flexível no último Orçamento, quando o discurso oficial do partido parecia querer dar tempo ao tempo.
O ano de 2017 começou mais agitado. Porque Trump somou imprevisibilidade, porque o BCE mudou de política, porque os juros subiram. Porque o PSD se inquietou, a olhar para alternativas. E porque vêm aí as autárquicas, num contexto que parece, à distância, pouco auspicioso para os sociais-democratas.
Foi neste contexto que o PSD anunciou um voto contra a redução da TSU, argumentando à cabeça que não servirá "de muleta" ao Governo de Costa. Podia ter argumentado contra o aumento do salário mínimo, mas não foi esse o argumento que privilegiou. Passos terá medido o gesto, que sabe pôr em risco a Concertação, as empresas, uma parte do eleitorado do partido. Mas arriscou-se a tentar acelerar o calendário outra vez, num momento em que o PS fica sozinho e assumindo parte de um risco que não era o seu – na concertação, na economia e nos mercados. A diferença é que, desta vez, a decisão de Passos não fará deitar abaixo o Governo. Nem tem o apoio de um Presidente.