EUA enviam tropas para a Noruega pela primeira vez desde a II Guerra

A 1500 quilómetros da fronteira russa, os norte-americanos querem treinar no frio, com esquis, e reforçar o seu compromisso com a NATO e os seus aliados.

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Os fuzileiros americanos chegaram segunda-feira à Noruega Reuters/NTB SCANPIX

É a primeira vez desde a II Guerra Mundial e trata-se de uma movimentação de tropas que está a evocar o “nervosismo da Guerra Fria”, segundo o New York Times. Cerca de 300 fuzileiros norte-americanos estão na Noruega, aonde chegaram na segunda-feira e onde se vão manter nos próximos seis meses para depois serem substituídos por outros tantos marines por novo semestre, relata a agência Reuters. Treinos, experiência num clima frio mas também o actual clima de tensão com a Rússia envolvem a missão.

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É a primeira vez desde a II Guerra Mundial e trata-se de uma movimentação de tropas que está a evocar o “nervosismo da Guerra Fria”, segundo o New York Times. Cerca de 300 fuzileiros norte-americanos estão na Noruega, aonde chegaram na segunda-feira e onde se vão manter nos próximos seis meses para depois serem substituídos por outros tantos marines por novo semestre, relata a agência Reuters. Treinos, experiência num clima frio mas também o actual clima de tensão com a Rússia envolvem a missão.

“Nas primeiras quatro semanas, eles vão ter treino básico de Inverno, aprender a lidar com esquis e a sobreviver no ambiente Árctico”, explicou, citado pela Reuters, o porta-voz da Guarda Nacional norueguesa Rune Haarstad. “Não tem nada a ver com a Rússia nem com a actual situação”, garantiu o anfitrião dos fuzileiros dos EUA, vindos do Campo Lejeune (Carolina do Norte) para a base militar de Vaernes, que fica a cerca de 1500 quilómetros da fronteira com a Rússia. O contingente norte-americano aterrou em Trondheim, onde a temperatura era de -2 graus Celsius. Em Março, juntamente com tropas britânicas, decorrerão os exercícios “Joint Viking”.

As autoridades norueguesas, como o Ministério da Defesa, têm minorado ligações entre este destacamento e as semanas de polémica e tensão diplomática entre os EUA e a Rússia, na esteira da incursão russa na Ucrânia em 2014 ou dos relatos de interferência de Moscovo nas eleições norte-americanas e das declarações do futuro Presidente Donald J. Trump sobre o papel dos EUA na NATO, que considerou uma organização “obsoleta”, e na defesa dos seus aliados.   

A deslocação dos Marines segue-se à viagem de cerca de 4 mil soldados e material militar dos EUA para a Polónia há poucos dias, no âmbito de uma rotação regular de tropas, que o Pentágono descreveu como uma “demonstração tangível do empenho” dos Estados Unidos em honrar os compromissos com os seus aliados da NATO e “na sua defesa”, nas palavras do porta-voz e capitão Jeff Davis, citado pela CNN.

O contexto, apesar das declarações oficiais que afastam uma relação causal directa entre os exercícios das tropas americanas e as preocupações da NATO quanto à Rússia, está presente nas leituras e reacções políticas a estas movimentações. Um deputado da esquerda norueguesa local considerou que a presença americana vem tornar, caso a tensão Rússia-EUA escale, o seu país num “alvo potencial de bombas”, disse Morten Harper, citado pelo New York Times.

“Não é um bom sinal para enviar”, disse em Outubro, quando foi anunciada a medida, Audun Lysbakken, líder de um pequeno partido da oposição da esquerda socialista, citado pela estação pública norueguesa NRK. “Enfrentamos um clima político frio que exige previsibilidade da parte da Noruega”, disse. “Deveríamos reforçar a nossa defesa nacional e não envidar qualquer forma de presença permanente de tropas americanas”, defendeu ainda Lysbakken. O Governo norueguês tem frisado que se trata de uma presença temporária e renovada por seis meses, que não quebra os princípios de independência do país.

O New York Times contextualiza que o país nórdico vive ainda sob o fantasma da pressão russa durante a Guerra Fria, e recorda que o vice-presidente da comissão parlamentar de Defesa da Rússia, Frants Klintsevitsj, disse que o Kremlin considera os fuzileiros americanos uma ameaça militar directa e que a sua presença na Noruega torna o país um alvo potencial. Já em Outubro, a embaixada da Rússia em Oslo tinha questionado a aceitação norueguesa da medida, lembra a Reuters, e esta segunda-feira reforçou que a medida “testa” as relações entre os dois países.

Para o Wall Street Journal, as ordens às tropas da Administração Obama, que chega ao fim esta sexta-feira, foram no sentido de “treinar com os aliados e ajudar a reforçar a fronteira da NATO mais a norte com a Rússia”. Esta é a primeira vez desde o final da II Guerra que há autorização para tropas americanas estacionarem em solo norueguês.