A "menina dos olhos verdes" da National Geographic quer recomeçar a vida no Afeganistão
Depois de um período agitado no Paquistão, a afegã pretende viver tranquilamente e ajudar pobres, órfãos e viúvas.
Detida e deportada pelo Paquistão em Novembro de 2016 – pela falsificação de documentos de identificação paquistaneses –, a afegã Sharbat Gula esteve presa duas semanas presa, regressou ao seu país e espera, agora, poder viver sossegadamente. “Este foi o pior e mais difícil incidente da minha vida”, disse esta refugiada afegã que o mundo conheceu, ainda jovem, numa capa da revista National Geographic. Em entrevista à BBC, a mulher dos olhos verdes que o americano Steve McCurry fotografou para uma capa em 1984 e reencontrou 17 anos depois – revela que só aspira a uma vida normal, depois de anos de tragédia e sofrimento.
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Detida e deportada pelo Paquistão em Novembro de 2016 – pela falsificação de documentos de identificação paquistaneses –, a afegã Sharbat Gula esteve presa duas semanas presa, regressou ao seu país e espera, agora, poder viver sossegadamente. “Este foi o pior e mais difícil incidente da minha vida”, disse esta refugiada afegã que o mundo conheceu, ainda jovem, numa capa da revista National Geographic. Em entrevista à BBC, a mulher dos olhos verdes que o americano Steve McCurry fotografou para uma capa em 1984 e reencontrou 17 anos depois – revela que só aspira a uma vida normal, depois de anos de tragédia e sofrimento.
Como muitos afegãos, Gula procurou refúgio no Paquistão e foi aí que viveu durante 35 anos. Porém, há dois anos¸ foi acusada pelas autoridades paquistanesas de ter obtido os documentos de identificação de forma ilegal. No início de Novembro de 2016, um tribunal paquistanês recusou conceder-lhe liberdade sob fiança.
Depois de a notícia da sua detenção ter sido difundida por todo o mundo, Sharbat recebeu uma proposta paquistanesa para permanecer no país, mas recusou. O marido e a filha mais velha morreram e foram enterrados em Peshawar, no Paquistão. “Se eu quiser voltar, será só para rezar nas campas do meu marido e da minha filha, que estão enterrados em frente a uma casa onde vivíamos”, disse a afegã.
Depois dos 15 dias que passou detida – a primeira semana na prisão e a segunda no hospital para tratamentos de hepatite C – Sharbat Gula encontrou-se no palácio presidencial com o líder afegão Ashraf Ghani e, posteriormente, com o antigo presidente Hamid Karzai. “Trataram-me com respeito e deram-me as boas vindas”, disse Sharbat. De acordo com a BBC, Sharbat Gula mora numa residência temporária em Cabul com as suas três filhas e o seu filho de cinco anos.
Ajudar e ser ajudada
O governo afegão comprometeu-se a prestar-lhe apoio financeiro e a comprar-lhe uma casa em Cabul, no Afeganistão. Para já, a prioridade de Sharbat é ficar no país natal, melhorar o seu estado de saúde e cuidar da educação dos filhos. Sharbat mostrou ainda vontade de construir um hospital ou um centro de solidariedade para poder auxiliar pobres, órfãos e viúvas.
Em relação aos documentos falsificados, a afegã afirma que já tinha vendido a sua casa no Paquistão porque temia que fosse presa por não ter os documentos necessários para permanecer no país. Dois dias antes de voltar, de livre vontade, para o Afeganistão, a sua casa foi invadida pelas autoridades e ela foi levada para a prisão. Sharbat Gula acredita que as autoridades paquistanesas a queriam prender antes de ela poder sair do país. “Não estava à espera que o governo paquistanês me tratasse assim no final”, afirmou Sharbat à BBC.
“Disse à polícia que só fiz este cartão de identificação para duas coisas: educar os meus filhos e vender a minha casa, o que não seria possível sem um documento de identificação”. Neste documento de identificação, todos os dados estavam correctos (o nome, fotografia, data de nascimento, nome do marido e número de filhos), à excepção do local de nascimento, o bairro de Nauthia Qadeem, em Peshawar.
O governo do Paquistão ordenou aos mais de dois milhões de refugiados afegãos que se encontram no país para o abandonarem, razão pela qual as pessoas que não sejam paquistanesas estão proibidas de obter documentos de identificação.
A história da afegã de olhos verdes
O retrato de Sharbat Gula, quando tinha dez anos, foi publicado na capa da National Geographic de 1985 e tornou-se num ícone dos refugiados afegãos que fugiam da guerra. Durante 17 anos, Sharbat Gula não soube que o seu rosto tinha ficado famoso por todo o globo e só soube quando o fotógrafo Steve McCurry a “redescobriu” em 2002, tendo ficado surpreendida com o êxito da fotografia. “Primeiro, fiquei preocupada com a divulgação da minha foto mas quando descobri que tinha sido essa a causa de muito do apoio prestado a tanta gente e refugiados, fiquei contente”, sublinha.
A fotografia foi tirada num campo de refugiados, perto de Peshawar, depois de a família de Sharbat ter decidido sair da região de Kot, no Afeganistão. “Havia uma guerra entre os russos e os afegãos – foi por isso que saímos do país", recorda a refugiada, dizendo que havia muita destruição. A mãe de Sharbat morrera de apendicite ainda em Kot, onde moravam antes de saírem do país. Como centenas de milhares de outros afegãos, a sua família (pai, quatro irmãs e um irmão) emigraram para o Paquistão e começaram a viver numa tenda num campo de refugiados, chamado Kacha Garahi.
Sharbat Gula casou-se aos 13 anos. O seu marido, Rahmat Gul, foi diagnosticado com hepatite C e morreu há cerca de cinco anos. Há três anos, também a filha mais velha, de 22 anos, morreu de hepatite, deixando uma filha de dois meses.